"Na verdade, pergunta-se honestamente o rabino, “Jesus é o Cristo? Se é assim, então o hebraísmo cai. Se não é assim, então o cristianismo erra”"
A “REGRESSÃO” JUDAIZANTE
DO VATICANO II:
A “MENTIRA” DO
JUDEU-CRISTIANISMO
DON CURZIO NITOGLIA
[Tradução: Gederson
Falcometa]
6 de fevereiro de 2010
Publicado originalmente no SPES
Prólogo
Saiu recentemente (matéria de 2010) em italiano um interessante livro do rabino Jacob
Neusner [1], que volta a 1991 (Jews and Cristians. The Myth of a Commun
Tradition) com respeito à relação entre judaísmo e cristianismo. É
decididamente um livro contra a corrente, porque sustenta e – estou certo –
prova que “entre hebraísmo e cristianismo […] não existe e nunca jamais existiu
um diálogo. O conceito de uma tradição hebraico-cristã […] é somente um mito,
no pior sentido: uma mentira” [2].
• Segundo o Autor,
as duas religiões “não compartilham temas comuns” e, “se a Escritura pode
fornecer uma base comum, conduziu apenas à divisão, porque o Antigo Testamento
serve ao cristianismo somente enquanto prefiguração do Novo, e a Torá escrita
para o hebraísmo pode e deve ser lida somente na óptica de cumprimento e
completamento total da Torá oral [Cabala e Talmud colocados só em um segundo
tempo por escrito, ndr]” [3]. Na verdade, “os cristãos comumente supõem que o
hebraísmo seja a religião do Antigo Testamento, mas isto é verdadeiro só em
parte, e portanto completamente falso. […] O cristianismo faz apelo ao Antigo
Testamento, em dialética com o Novo, como parte da Bíblia; o hebraísmo lembra a
Torá escrita em dialética com aquela oral [Cabala e Talmud]” [4].
• Ele define a
relação entre as duas religiões como de “gentes diversas [rabinos e bispos] que
dizem coisas diversas [Israel e Cristo] para gentes diversas [hebreus e cristãos]”[5].
E conclui: ”Ora, não
existe, nem jamais existiu, uma tradição hebraico-cristã” [6]. Na verdade, o
cristianismo se ocupa da salvação, que diz respeito à humanidade inteira,
enquanto o judaísmo se ocupa da santificação da nação de Israel [7]. Neusner,
com muita honestidade intelectual e clareza, fala de “autonomia do cristianismo
e da sua unicidade absoluta” [8]. Desfeita a teoria segundo a qual o
cristianismo seria um judaísmo reformado, decorre analogamente a relação entre
protestantismo e catolicismo: ”O nosso século foi testemunha de um erro
teológico fundamental […]. Falando
abertamente, trata-se, ademais, de um erro protestante. O erro teológico foi o
de apresentar o cristianismo como uma reforma histórica, uma continuação do
hebraísmo” [9]. Tal erro é imputável não só ao protestantismo, mas também à
exegese modernizante e modernista do século XX, e a sua consequência foi
deletéria para a doutrina católica. Na verdade, estando assim as coisas, “os
cristãos […] se encontram em uma posição subordinada […], tornando-se não o
verdadeiro Israel […], mas simplesmente um Israel por defeito, isto é, por
defeito do velho Israel” [10]. Em suma, uma espécie de irmãos menores e
deficientes. A teologia cristã judaizante, de origem luterana, apresentava o
novo protestantismo como um velho catolicismo reformado, e o verdadeiro
cristianismo de origem como um velho judaísmo reformado. Por isso, a nova
teologia modernista e neomodernista, canonizada por Nostra Aetate,
recuperando o erro exegético–teológico luterano, apresenta “a vida de Jesus em
linha com o hebraísmo do seu tempo, e a salvação de Cristo como um evento
interno ao hebraísmo do século I” [11]. Daí, para compreender o Evangelho,
tem-se afirmado, ser necessário interrogar o Talmud e os rabinos [12]; enquanto
a doutrina tradicional dos Padres e do Magistério constante da Igreja ensinava
que “no” Antigo Testamento está escondido o Novo e no Novo Testamento aparece
claro e significado o Antigo (S. Agostinho, Quaest., in Hept., II, 73).
• O Autor explica que
o ambiente católico foi contaminado por tal tendência depois da tragédia da
Segunda Guerra Mundial em razão de certa avaliação feita pelo
nacional-socialismo “sobre a herança hebraica da Igreja e do cristianismo […],
levando em conta a tragédia do cristianismo na civilização da Europa cristã,
pervetida pelo nazismo. […] Todos estavam animados de boas intenções […]. Mas o
resultado é uma leitura não cristã do Novo Testamento” [13]. Donde, em outro
lugar, aprofundar o problema do condicionamento psicológico súbito do ambiente
católico depois da segunda grande guerra e especialmente depois da shoah, que
levou a uma leitura do Novo Testamento de forma não cristã, mas judaizante
[14]. Na verdade, se se abstraem estas premissas histórico-teológicas, não se
pode compreender aquilo que ocorreu no Vaticano II e no pós-concílio. O fato, et
contra factum non valet argumentum, é que a leitura ou hermenêutica
modernizante, como a luterana, do Novo Testamento “não é cristã”. Enquanto
“apela às fontes hebraicas, […] tal hermenêutica deriva da teologia de um
cristianismo como continuação e puro melhoramento do hebraísmo” [15]. Em vez
disso, o cristianismo é algo único, absoluto, autônomo, e de modo algum uma
reforma do hebraísmo.
• O Autor rejeita
totalmente a doutrina segundo a qual “Jesus era hebreu e, portanto, para
compreender o cristianismo, os cristãos deveriam chegar a um acordo com o
cristianismo” [16]. O verdadeiro cristianismo é aquele que “pode tomar a si
mesmo como o tomavam os Padres da Igreja, como novo e não contingente, […] não
como subordinado ao hebraísmo. Hebraísmo e cristianismo são religiões em tudo
diferentes e com pouco em comum” [17]. Para o cristianismo Deus é uno na sua
natureza, mas trino nas Pessoas, e Jesus é Deus encarnado no seio da SS Virgem
Maria; enquanto o judaísmo não aceitou tal Evangelho ou Boa Nova trazida por
Cristo e seus Apóstolos e continua a negar a SS. Trindade e a divindade de
Cristo, fundando-se sobre a santidade de Israel como família carnal descendente
geneticamente de Abraão. Neusner
diz que, se o cristianismo é único, também o hebraísmo se acredita tal, donde
concluir pela inutilidade do diálogo entre as duas religiões, diametralmente
opostas, ainda que fundadas – em parte – sobre uma base semicomum: o Antigo
Testamento, que, porém, é lido pelo judaísmo à luz do Talmud, considerado mais
importante que a Torá [18], enquanto pelo cristianismo é estudado à luz do Novo
Testamento. Em razão disso, “não podemos referir a Bíblia quando falamos de
hebraísmo” [19]. O rabino americano não esconde que “o cristianismo não é tal
porque melhorou o hebraísmo […]. Mas porque constitui um sistema religioso,
autônomo, absoluto e único. […], hebraísmo e cristianismo são duas religiões em
tudo diversas” [20]. Viva a face da sinceridade e abaixo a mentira do
ecumenismo judaico-cristão, que é a “quadratura do círculo” ou a “coincidentia
oppositorum” feita “Congregação Permanente”.
• O problema
central, segundo Neusner, não é o das “raízes comuns”, de que falaremos a
respeito, mas o da divindade de Jesus Cristo. Na verdade, pergunta-se
honestamente o rabino, “Jesus é o Cristo? Se é assim, então o hebraísmo cai. Se
não é assim, então o cristianismo erra” [21]. Ele cita Eusébio de Cesaréia (tr.
it. História Eclesiástica, Milão, Rusconi, 1979) e São João
Crisóstomo (tr. it. Homilia contra os judeus, Verrua Savóia, CLS,
1997), o qual falava de “regressão cristã ao judaísmo” acerca daqueles
cristãos que frequentavam ainda a sinagoga e os cultos hebreus em Antioquia em
386-387, um “retorno à infidelidade judaico-talmúdica”. A mesma acusação feita
no século IV por Crisóstomo aos judaizantes de Antioquia se pode fazer hoje aos
judaizantes do Vaticano II (Nostra Aetate, 1965) e do pós-concílio
(Oração da sexta-feira Santa, do Novus Ordo Missae de Paulo
VI, 1970; A antiga aliança jamais revogada de João Paulo II em Mainz em 1981;
os Hebreus nossos irmãos maiores e prediletos na fé de Abraão, João Paulo II em
1986; e até ao Discurso à sinagoga de Roma, de Bento XVI, 17 de janeiro de
2010). Tertium non datur: se Cristo é Deus, o hebraísmo cai; se não
é Deus, erramos nós cristãos por dois mil anos, devemos reconhecê-lo publicamente,
pedir perdão a Deus e aos homens e enfim formar “prosélitos da porta” ou
“noachidi” (v. Elia Benamozegh e Aimé Pallière). O diálogo judaico-cristão é
inútil, daninho, injurioso, falso e mentiroso. O mesmo diz ainda o rabino Jacob
Neusner. Ele concorda com Crisóstomo só quanto ao fato de que o
judeu-cristianismo ou o judaizar-se, para os cristãos, é um “ato de apostasia,
incredulidade e recusa de Deus [Cristo]” [22]. Crisóstomo temia, justamente,
que os cristãos de Antioquia se mostrassem “rendidos de respeito ao hebraísmo”
[23]. A mesma apreensão, et multo magis, a demonstra Neusner em
relação ao diálogo judaico-cristão, no qual a religião cristã já não se
considera aquilo que é, mas uma pseudorreforma protoluterana do judaísmo. À
doutrina cristã tradicional segundo a qual Cristo é Deus e previu em 33 a
destruição de Jerusalém e de seu Templo, o que sucedeu em 70, o hebraísmo
respondia no século IV, pela boca de seus sábios ou rabinos, que Roma tornada
cristã no século IV é o penúltimo Império depois da Babilônia, da Medo-Pérsia,
da Grécia e será seguido do de Israel, o último e definitivo, como família
genética de Abraão, que dará morte à Roma primeiro pagã e depois cristã, sendo
“o caráter de Roma principalmente cristão” [24]: “Os sábios [ou rabinos]
afirmam que Israel segundo a carne […] permanece em estado incondicionado e
perene. Não deixa nunca de ser filho [fisico], e filho dos próprios genitores.
Assim, Israel segundo a carne constitui a família, na sua forma mais
física, de Abraão, Isaac e Jacó […]; a total e completa “‘geneaoligizzazione’” de Israel” [25],
como se vê, é uma questão genética ou de estirpe, que fala de “raça”, estirpe,
sangue e somente do judaísmo rabínico, e não – como seriam os “antissemitas” –
o cristianismo. Portanto, mostra-se qão tola é a acusação de antissemitismo feita
à Igreja por eméritos trombones, impelida por algumas estúpidas e soi-disant raposas.
• “Israel provocará
a queda de Roma [ex-pagã e depois, com Constantino, cristã, 313]” [26].
Portanto, para os rabinos, Israel não está terminado, mas suplantará Roma e o
cristianismo. Segundo o Autor, a queda de Jerusalém foi causada pela arrogância
dos judeus zelotes do século I, os quais, especialmente com Bar Kobá, se
recusaram a entregar-se à providência divina e quiseram edificar um Reino de
Israel com suas forças naturais e politíco-militares. Tal arrogância provocou
da parte divina o abandono de Israel nas mãos de Roma, que de pagã se tornou
depois cristã, e no século IV pareceu que o cristianismo romano houvesse
triunfado sobre o judaísmo [27]. Mas a apocaliptíca hebraica [28], voltando ao
fim dos últimos tempos, cobrou a restauração do reino de Israel e tentou
derrubar tal “teologia da história” cristã. Ora, a mesma situação foi criada
com o nascimento do Estado de Israel, que é obra da política e das armas e não
do Messias hebraico, e por isso também para os rabinos ortodoxos hodiernos o
sionismo representa uma ameaça a Israel, como aconteceu em 70. Pois bem, este
tema merece ser aprofundado em um próximo artigo.
• Também a
consideração que Neusner faz sobre o islamismo, em um tempo de arabefobia e das
raízes européias judaico-cristãs e anti-islâmicas, são interessantes, profundas
e corajosas. Na verdade, ele escreve: “Como sabemos [apesar do aparente triunfo
do cristianismo, com os imperadores romano-cristãos, a partir de Constantino e
Teodósio] que venceu o hebraísmo dos sábios [ou rabinico-talmúdico]? Porque
quando, à sua volta, vence o islã [VII-VIII século] o cristianismo se retira do
Oriente Médio e do Norte da África. Sem dúvida o cristianismo resistiu, mas não
como a religião majoritária do Oriente-Médio romano e do Norte da África […].
Mas o caráter islâmico do vizinho do Oriente-Médio e do Norte da África
nos conta a história do que aconteceu realmente: uma derrota para o
cristianismo […]. A cruz reinou apenas nos lugares aonde não foi o Islã e o seu
poderio militar” [29]. Portanto, o atual “conflito de civilização”, querido
pelos EUA e por Israel, é um choque com o “mundo árabe”, enquanto ainda não
está liberto e iluminado pela modernidade ocidental, e de modo algum um
distanciar-se do islamismo, que em si é visto com simpatia, enquanto
sepultamento do cristianismo tradicional e não judaizante.
Conclusão
Tal leitura deve
dar-nos de volta, em um tempo para nós tão triste, o orgulho de sermos totalmente
e integralmente cristãos ou católicos romanos. As raízes judaico-cristã/romanas
são uma mentira. Pode-se, ao contrário, falar de raízes comuns
judaico-calvinistas ou EUA/israelenses. O judaísmo é completado pelo Talmud,
enquanto o cristianismo romano o é pelo Novo Testamento, tal como compreenderam
os Padres da Igreja e o sistematizou a Escolástica. O hebraísmo não é a Bíblia,
mas o talmudismo rabínico. Atualmente, com o Vaticano II assistimos a uma
tentativa de protestantização da Igreja, que com a “colegialidade” realizou o
próprio ódio luterano ao primado do Papa; com a “liberdade religiosa” o ódio à
única verdadeira religião, fundada por Deus Filho; com o “ecumenismo” o ódio
por intolerância doutrinal à Igreja Romana; e enfim com a pseudo-“reforma litúrgica”,
feita junto com os calvinistas, se produziu um rito objetivamente [30] hibrído
ou uma interseção bastarda (o Novus Ordo Missae de Paulo VI)
entre dois ritos essencialmente diversos, o protestante e o católico. Tal protestantização é o fim próximo; o
remoto é a judaização. Na verdade, a hermenêutica luterana leva a uma leitura
acristã e filo-judaizante da Torá. Portanto, longe de ceder ao diálogo, em
posição de inferioridade ou de “minoria deficiente” com relação aos “irmãos
mais velhos”, devemos reivindicar o valor absoluto, único e autônomo do
cristianismo petrino ou romano. Uma vez que Cristo é Deus e o provou com a sua
Ressurreição, o diálogo inter-religioso judaico-cristão é uma “regressão ao
talmudismo”, “uma apostasia ou incredulidade”, enquanto recusa implícita a Deus
Filho e pois a Deus Pai e Espírito Santo.
• Infelizmente, tal
diálogo é conduzido, depois de João Paulo II, também por Bento XVI, que no seu
livro Muitas religiões e uma única Aliança: a relação
hebraico-cristã. O diálogo das religiões (Cinisello Balsamo, San
Paolo, [1998], tr. it., 2007) escreve que: “Depois de Auschwitz, a tarefa de
reconciliação e de acolhimento se representou diante de nós em toda a sua
imprescíndivel necessidade” [31]. Depois – citando Jo. IV, 22, “a salvação vem
dos judeus”, pronunciada por Jesus antes da sua Morte na cruz –, afirma, a
respeito da Antiga Aliança, que “tal origem mantém vivo o seu valor no presente
[depois da morte de Cristo, na Nova e Eterna Aliança]” [32]. Todavia, “não se
pode ter acesso a Jesus […] sem a aceitação do Novo Testamento” [33]. Donde
para os hebreus a salvação vir de Israel e do Talmud, enquanto para os gentios
convertidos ao cristianismo vem de Cristo e do Novo Testamento. A Antiga Aliança,
também segundo Bento XVI, jamais cessou (cf. João Paulo II, A Antiga
Aliança jamais revogada, Mainz, 1981), na medida em que “‘Aliança’
significa apenas vontade divina e não um contrato bipartido” [34]. Donde,
também se Israel foi infiel a Deus, Deus não poder dividir a Aliança, porque
não é “um acordo recíproco” [35], para o qual Deus non deserit etiam si
prius deseratur. É triste, mas para conhecer a doutrina católica sobre a
relação entre cristianismo e hebraísmo é preciso ir ao “catecismo” do rabino
Jacob Neusner; enquanto para judaizar basta escutar as “midrash” de Bento XVI.
Que estranha época esta: o hebreu ensina o catecismo, apesar de não crer nele,
enquanto o padre católico diz as “midrash”, e talvez até creia, ou pelo menos
finja crer.
• Enfim, o ódio comum a Roma que
caracteriza o hebraísmo e o luteranismo é indicativo. A alternativa, portanto,
é ou Roma ou a morte! Se cai (por absurdo) Roma, triunfam Tel Aviv e Nova York.
O estado atual de embrutecimento da humanidade é fruto do domínio judaico-americanista
do mundo. A salvação e a restauração do homem, da família e da sociedade será
fruto milagroso do triunfo da Roma “imortal dos Mártires e dos Santos”! Nossa
Senhora em Fátima prometeu: ”Por fim o Meu Coração Imaculado triunfará”. Cor
Jesu adveniat regnum tuum, adveniat per Mariam.
________________________
NOTAS
[1] Nasceu nos EUA
em 1932. Professor de história e teologia do hebraísmo no Bard College de
Nova Iorque, e ordenado rabino no Jewish Theological Seminary”, é
considerado o maior especialista vivo da leitura rabínica antiga. Muito
interessante sua Disputa imaginária entre um rabino e Jesus. Que mestre
seguir? [1993], tr. it. Casale Monferrato, Piemme, 1996; 2a. ed. Um
rabino fala com Jesus, Cinisello Balsamo, San Paolo, 2007.
[2] J. Neusner, Hebreus
e cristãos. O mito de uma tradição comum, [1991], tr. it.
Cinisello Balsamo, San Paolo, 2009, pg 7
[4] Ibidem, pp. 159-160.
[5] Ibidem, p. 9.
[6] Idem.
[7] Ibidem, p. 17.
[8] Ibidem, p. 31.
[9] Ibidem, p. 32.
[10] Ibidem, p. 33.
[11] Ibidem, p. 34.
[12] Idem.
[13] Idem.
[14] Os fatos de
Auschwitz tornaram crônico um problema grave e impeliram a uma ação semelhante
ao martírio, da parte dos intelectuais religiosos hebreus e cristãos, para
enfrentar aquele desafio […]: “dar um sentido ao outro” (J. Neusner,
cit., p. 158). Vale dizer que, apesar da diferença total entre hebraísmo e
cristianismo, você vai compreender “totalmente o outro a partir de si” (o
cristão/o hebreu e vice-versa) só a partir de Auschwitz ou da teologia da
“shoah”. Donde, também da parte cristã, não se poder prescindir de enfrentar o
fato, tornado hoje meta-histórico, da perseguição que sofreram muitos hebreus
na Europa entre 1942 e 1945. Tal estudo é conduzido seja historicamente (fonte
histórica, documentos, fatos aclarados e testemunhos dos livros de história da
Europa entre 1940 e 1945); seja científicamente (meios de pesquisa e
experimentos químicos-fisícos e engenharia sobre as armas de crime: as câmeras
de gás e os fornos crematórios e o corpo de delito: o que resulta realmente e
objetivamente no lugar da perseguição); seja filosoficamente (mal
absoluto/relativo); seja enfim teologicamente (“holocausto” de uma parte do
hebraísmo europeu ou o Holocausto redentor de Jesus Cristo). Não se pode voltar
atrás, sob pena de ser chantageado e posto em situação de acusação com respeito
a um fato que não se vai estudar para ver qual é a sua real entidade. Si
non vis errare, debis velle scrutare.
[15] Ibidem,
p. 35.
[16] Ibidem,
p. 160.
[17] Ibidem, pp. 162-163.
[18] Ibidem, p. 176.
[19] Ibidem, p. 197.
[20] Ibidem, pp. 43-44.
[21] Ibidem, p. 72.
[22] Ibidem, p. 74.
[23] Idem.
[24] J. Neusner, op.
cit., p. 110.
[25] J. Neusner, op. cit., p. 102.
[26] J. Neusner, op.
cit., p. 81. Sobre a relação Roma, cristianismo e judaísmo, v. M. Goodman, Roma
e Jerusalém. O encontro das civilizações antigas [2007],
tr. Ii. Roma-Bari, Laterza, 2009. O Autor sustenta que Roma e Israel teriam
podido coexistir sem problema. Todavia, em 66 d.C., sob Nero, os habitantes de
Jerusalém haviam se recusado a ir em procissão para cumprimentar duas cortes do
imperador, e foi assim que o procurador romano Géssio Foro mandou as suas
tropas contra a multidão reunida no mercado superior da Cidade Santa e provocou
a morte de 3.600 pessoas. A reação hebraica foi fortíssima e levou à
constituição de um Estado hebraico independente de Roma, que já em 37 a.C.
havia ocupado a Judeia. Quando Nero morre em 68, um general de nome Tito
Flávio, filho do Imperador Vespasiano, que era naquele tempo o comandante na
frente da Judeia, usou de mão de ferro para reprimir a revolta hebraica e,
depois de um ano de luta, em 70, destruiu Jerusalém e o Templo. Reprimiu também
as três insurreições na Cirenaica, no Egito (72), e a de Massada (73). Aqui se
inicia a parte mais interessante do livro (pp. 451-583), apesar de não livre de
erros e unilateralidade, sobretudo no que diz respeito à origem da disputa
entre o cristianismo e o judaísmo (pp. 584-666). Uma vez antes, o Templo
de Salomão havia sido destruído, em 586 a.C., por Nabucodonosor da Babilônia,
mas em 539 Ciro da Pérsia venceu os babilônios e libertou os hebreus, que
estavam exilados na Babilônia, e concedeu a eles a reentrada em Jerusalém e a
reconstrução do Templo; portanto, em 70 os judeus pensavam que aconteceria algo
análogo: um Messias triunfante ou “Novo Ciro”, que expulsaria os romanos
e faria reconstruir Jerusalém e o Templo. Muitos piedosos e zelosos ou zelotes
israelenses, influenciados pela literatura apocalíptica hebraica, imaginavam e
profetizavam que o “Novo Ciro” pudesse ser “Nero redivivo” (cf. Giuliano Firpo, A
revolta judaica, Roma-Bari, Laterza, 1999). Naquele tempo se formou uma
radical hostilidade e um feroz ódio antirromano na Judeia e em Jerusalém, mas
Roma não concedeu aos judeus aquilo que usualmente concedia a todos os vencidos
de religiões diversas: construir ou reconstruir seus templos. Foi assim que o
Templo de Jerusalém não foi mais reconstruído, apesar da triplíce tentativa,
que falhou todas as três vezes, do imperador Juliano, o Apóstata. Entre 115 e
116 ocorreu uma quarta insurreição judaica contra Roma, e enfim em 132-135, com
o pseudomessias Bar Kobá, a quinta e última, porque Adriano em 135 arrasou o
que restava de Jerusalém e da Judeia, mudando o nome desta última para
Síria-Palestina e o de Jerusalém para Aelia Capitolina. Nem os alemães, nem os
britânicos, nem os panôniosdeixaram de ter uma pátria e uma
capital para fazer suas rebeliões; só os judeus perderam uma e outra. Um
jornalista do Sunday
Times(Tom Holland) escreveu que “o século XXI foi forjado da queda, há quase
dois mil anos, de Jerusalém” e – acrescentou – da tentativa de restauração de
um Estado hebreu em 1948, o qual inda não é a possuído pacíficamente, mais
anuncia uma nova tragédia terrível, que se adensa sobre nossas cabeças, em
forma de guerra nuclear […].
[27] “Bar Kobá tratava o céu com
arrogância, pedido a Deus que não se intrometa […]. Bar Kobá destruiu a única
proteção de Israel. O resultado era inevitável” (J. Neusner, op. cit.,
p. 86). Entretanto, deve dizer-se que o atual Estado de Israel foi construído
(mas não terminado) pelas mãos do homem e não pela intervenção do Messias.
[28] A leitura
apocalíptica hebraica compreende os apócrifos proféticos do Velho Testamento
(II séc. a.C.–II séc d.C.) e consiste em uma “ficção literária, de soi-disantprevisões
posteriores aos eventos, que não merecem maior crédito que os oráculos sibilinos”
(Francesco Spadafora, Dizionario biblico, Roma, Studium, 3° ed.,
1963, p. 41). Ela surge quando Israel atravessa seu período mais tempestuoso,
desde a fúria de Alexandre Magno contra o Yahwismo até a destruição de
Jerusalém por Tito (70) e Adriano (135). Alguns zelosos Yahwistas sentiram
então necessidade de reencorajar os israelenses com duas futuras promessas para
Israel, procurando manter viva sua esperança apesar do miserável estado
presente. O apocalíptico “é projetado para alimentar o orgulho judaico, abalado
pelas evidências, orientando para a aurora futura. […] Israel será libertado
e vingado […] imperará sobre os gentios dominados e pisados” (Antonino
Romeo, entrada “Apocalittica letteratura”, em “Enciclopédia Católica”,
vol. I, col. 1616). No futuro, depois da queda do penúltimo Império, que seria
Roma, “Israel será liberto e vingado”. […]. O interesse nacional é estendido à
conclusão almejada: Deus de repente entra na luta final entre os gentios e
Israel” (A. Romeo, idem, col. 1617); “tudo é restrito ao campo do
nacionalismo e do temporal” (Francesco Spadafora, idem). O
apocalipse judaico é uma espécie de revelação apresentada como antiga, oculta e
esotérica (Francesco Spadafora, p. 42) e, segundo Mons. Antonino Romeo,
“resultará em uma espécie de especulação cabalística […] e de sincretismo
gnóstico” (idem, col. 1625). “É repleta de ódio, frequentemente feroz,
contra os gentios e de ardente simpatia por Israel”, escreve Marie Joseph
Lagrange, (Le judaisme avant Jesus-Christ, 2a. ed., Paris, 1931, pp.
70-90). O apocalipse na sombra da mórbida expectativa da revolução futura, que
liberará Israel da Roma pagã-cristã. Ele se deve à formação do mais aceso
nacionalismo hebraico (Francesco Spadafora), e deste derivará certo gnosticismo
e o milenarismo (A. Romeo, idem, col. 1618) com a teoria da
mitigaçao das penas e dos danos (cf. a aposcatátase de Orígenes, repetida entre
1940 e 1951 por Hans Urs von Balthasar + 1984 e Jean Daniélou + 1973), cf. B.
Allo, Apocalypse, 3a. ed., Paris, 1933, pp. XXVI- XXXIV. Mons.
Romeo conclui: “O Reino de Deus se reveste de um caráter nacionalista-terreno.
[…] O reino será deste mundo. […] mas o Messias é visto como um redentor
espiritual, expiador dos pecados do mundo” (idem, col. 1618), e enfim:
“Para os gentios o apolicapse é cruel e implacável, e toda a compaixão seria
substituída pela fraqueza” (idem, col. 1969).
[29] J. Neusner, op. cit., pp. 118-119. Quanto às relações entre judaismo
talmúdico, islã e cristianismo, cf. Hana Zakarias, Vrai Mohammed et
faux Coran, Paris, NEL, 1960; Id., De Moisés à Mohammed, Paris,
1955; J. Bertuel, L’islam: ses véritables origines, Paris, NEL,
1983-84, 3 vols.; B. Lewis, O renascimento islâmico, Bolonha, O
Moinho, 1991; S. D. Goitein, Hebreus e Arábes na história, Roma,
Jouvance, 1980; J. Bouman, O Corão e os judeus, Brescia,
Queriniana, 1992; R. Barkai, Chrétiens, musulmans et juifs dans
l’Espagne médiévale, Paris, Cerf, 1994; M. Brenner, Breve história
dos hebreus, Roma, Donzelli, 2009.
[30] Quando se
fala do Vaticano II como inaceitável e rejeitável, não se pretende englobar em
tal constatação de heterodoxia objetiva a culpa e a punição subjetiva de quem o
acolhe de boa-fé, pensando estar obedecendo. Assim como quando se constata a
nocividade objetiva do Novus Ordo Missae e a sua ab-rogalidade
não se quer nem minimamente ofender a quem o celebra em boa-fé, de forma
reverente e com espírito de obediência, por ignorância inocente de sua carência
doutrinal. “Não haja divisão entre nós” (antimodernistas), mas reestudemos com
atenção o “Breve exame crítico do NOM” com a “Carta de apresentação” dos
Cardeais Antonio Bacci e Alfredo Ottaviani, onde se podem ler severas
considerações sobre sua não ortodoxia objetiva e onde se pede que seja
ab-rogado por nocivo. Não nos deixemos distrair pela polêmica que surgiu quando
se considerou ab-rogado o Vetus Ordo, por um abuso de poder […].
Então (1976) foram ditas palavras fortes, mas pronunciadas no curso de
homilias, sem possibilidade de se fazerem todas as devidas distinções. Não me
parece correto culpar a Mons. Marcel Lefebvre por alguma frase extrapolada em
seus sermões, e ver na Fraternidade São Pio X o “mal absoluto”, assim como me
parece pueril a pretensão de alguns, por sorte poucos, “tradicionalistas” de
transformar a Fraternidade na Igreja de Cristo. Também neste caso a sã lógica
condena o sofisma ex uno disce multis.
[31] Op.
cit., p. 9.
[32] Idem.
[33] Idem.
[34] Ibidem,
p. 32.
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