"NOSSO SENHOR NÃO É CRIATURA – É DEUS FEITO HOMEM. PORQUE A NATUREZA HUMANA SÓ EXISTE PELA PESSOA DIVINA E SEGUNDO A DIGNIDADE INFINITA DA PESSOA DIVINA."
Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Escutemos o Papa Pio XII, em excertos da sua encíclica “Mediator Dei”, promulgada em 20 de
Novembro de 1947:
«De facto,
apenas o Verbo Se fez carne (Jo 1,14), manifesta-Se ao mundo no Seu Ofício
Sacerdotal, fazendo ao Pai Eterno um acto de submissão que durará por todo o
tempo da Sua vida: “Entrando no mundo,
diz… eis que venho… para fazer Ó Deus a tua vontade…”(Heb 10, 5-7), um acto que
será consumado de modo admirável no Sacrifício cruento da Cruz: Pelo poder
desta vontade fomos santificados por meio da Oblação do Corpo de Jesus Cristo
feita uma só vez para sempre (Heb 10,10). Toda a Sua actividade entre os homens
não tem outro escopo. Menino, é apresentado no Templo ao Senhor; adolescente, ali
volta ainda; em seguida ali vai frequentemente para instruir o povo e para
rezar. Antes de iniciar o ministério público jejua durante 40 dias, e com o Seu
conselho e o Seu exemplo exorta todos a rezarem de dia e de noite. Como Mestre
de Verdade, ILUMINA TODO O HOMEM (Jo 1,9), para que os mortais reconheçam
convenientemente o Deus imortal, e não “se afastem para sua perdição, mas
guardem a Fé para salvar a sua alma”(Heb 10,39).
Como Pastor,
depois Ele governa o Seu rebanho, conduzindo-o às pastagens da vida, e dá uma
Lei a observar, para que ninguém se afaste d’Ele e da recta via que traçou, mas
todos vivam santamente sob o Seu influxo e a Sua acção. Na última Ceia, com
rito e aparato solene, celebra a nova Páscoa, e provê a sua continuação,
mediante a Divina Instituição da Eucaristia; no dia seguinte, elevado entre o
Céu e a Terra, oferece o Sacrifício salutar da Sua vida; de Seu peito rasgado
faz, de certo modo, jorrar os Sacramentos que distribuem às almas os Tesouros
da Redenção. Fazendo isso, tem por único fim a Glória do Pai, bem como a
crescente santificação do homem.
Entrando depois na
Sede da Celeste Beatitude, quer que o culto por Ele instituído e prestado
durante a Sua vida terrena continue ininterrupto. Já que não deixou orfão o
Género Humano, mas o assiste sempre com o Seu contínuo e valioso Patrocínio,
fazendo-Se nosso Advogado no Céu, junto do Pai.
A Santa Igreja,
portanto, tem em comum com o Verbo Encarnado, o escopo, o empenho e a função de
ensinar a todos a Verdade, reger e governar os homens, oferecer a Deus o
Sacrifício, aceitável e grato, e assim restabelecer entre o Criador e as
criaturas aquela união e harmonia que o Apóstolo das gentes claramente indica
por estas palavras: “Não sois mais hóspedes ou adventícios, mas concidadãos dos
santos e membros da Família de Deus, edificados sobre o fundamento dos
Apóstolos e dos Profetas, com o próprio Jesus Cristo como Pedra Angular, sobre
A Qual todo o Getsemaniedifício bem ordenado se levanta para ser um Templo
Santo no Senhor, e sobre ele vós sois também juntamente edificados em morada de
Deus, pelo Espírito”(Ef 2 19,22). Por isso a sociedade formada pelo Divino
Redentor não tem outro fim, seja com a Sua Doutrina e o Seu governo, seja com o
Sacrifício e os Sacramentos por Ele instituídos, seja enfim com o Ministério
que lhe confiou, com as Suas Orações e o Seu Sangue, senão crescer e dilatar-se
sempre mais – O QUE SE DÁ QUANDO CRISTO É EDIFICADO NAS ALMAS DOS MORTAIS, E
QUANDO VICE-VERSA, AS ALMAS DOS MORTAIS SÃO EDIFICADAS E DILATADAS EM CRISTO;
DE MANEIRA QUE, NESTE EXÍLIO TERRENO, PROSPERE O TEMPLO NA QUAL A DIVINA
MAJESTADE RECEBE O CULTO GRATO E LEGÍTIMO.»
Santo Tomás de Aquino, no Tratado do Verbo Encarnado
da Suma Teológica, coloca a seguinte questão: “Convinha a Nosso Senhor orar?”
Trata-se de uma verdade interessantíssima, a qual
ilumina não apenas o Mistério da União Hipostática, como ainda a realidade das
nossas orações, segundo a Virtude da Religião, e o Dom do Espírito Santo da
Piedade.
Orar, é dirigir-se formalmente a Deus Nosso Senhor;
adorando-O na Sua Asseidade Infinita – oração latrêutica; agradecendo-Lhe as
Graças recebidas – oração eucarística; implorando-Lhe o perdão de uma culpa, ou
a isenção de um castigo, pessoal ou colectivo – oração propiciatória; ou ainda
solicitando-Lhe Graças, para nós mesmos, ou para outrem – oração impetratória.
Aliás, a virtude da Religião não consagra sòmente a
oração, mas nobilita igualmente todos os Sacrifícios, espirituais e corporais,
que ofertamos a Deus, inclusivamente, o Santo Sacrifício da Missa, que os fiéis
não podem celebrar por si mesmos, mas podem solicitar a sua celebração pelos
sacerdotes; sendo estes mesmos MINISTROS A TÍTULO INSTRUMENTAL, DO SACRIFÍCIO
QUE JESUS APRESENTA AO PAI, COMO SACERDOTE E COMO VÍTIMA; O QUAL TAMBÉM É, LATRÊUTICO,
EUCARÍSTICO, PROPICIATÓRIO E IMPETRATÓRIO.
O modernista não pode rezar, porque a sua “divindade”
identifica-se com a própria humanidade, e portanto não é, NEM PESSOAL, NEM
TRANSCENDENTE. O muçulmano, enquanto tal, adora um demónio, que é criatura, e
consequentemente, não sendo transcendente, não se lhe podem endereçar
verdadeiras orações.
Como é conhecido, O Verbo de Deus, tornou-Se
Sacerdote, na Sua Encarnação, e pela Sua Encarnação. Efectivamente, ser
sacerdote é assumir funcionalmente a missão de medianeiro entre Deus e os
homens; medianeiro é aquele que estabelece pontes, facilita a comunicação
recíproca e o intercâmbio dos dons recíprocos.
Moisés, como Medianeiro da Antiga Aliança, era um puro
homem, conquanto excepcional; todavia a Nova Aliança SUPERA INFINITAMENTE A
ANTIGA, PORQUE É CONSTITUTIVA DA REDENÇÃO DO GÉNERO HUMANO; LOGO SÓ PODERIA SER
CONCRETIZADA POR DEUS FEITO HOMEM.
Ensina-nos a Sagrada Teologia que na União
Hipostática, a Pessoa Divina constitui o meio onde a União se processa. Na
natureza humana, as duas naturezas, corpo e alma, enquanto substâncias
incompletas, unem-se nas próprias naturezas. Não assim na União Hipostática,
pois a Natureza Divina e a Natureza humana (Corpo e Alma) não se uniram nas
próprias naturezas. A Natureza Humana de Nosso Senhor, filosòficamente, é uma
substância incompleta, porque muito embora completa como natureza, jamais
existiu POR SI MESMA, jamais pertenceu a uma pessoa humana.
Quando Nosso Senhor Jesus Cristo reza a Seu Pai,
procede enquanto Homem, como possuidor de uma natureza humana verdadeira. A
Pessoa Divina, o Verbo, sente-Se igualmente verdadeiro Homem, com uma
sensibilidade humana, com uma inteligência humana, com uma vontade humana.
Poder-se-ia argumentar que se Jesus Cristo reza a Deus, reza à Santíssima
Trindade, e portanto também a Si mesmo; todavia este argumento não colhe, porque
Nosso Senhor reza segundo a Sua POSIÇÃO HUMANA.
Mas será Nosso Senhor uma criatura ou não?
Existe plena unidade na Pessoa de Nosso Senhor; essa
unidade fundamenta-se na Divindade da Única Pessoa do Verbo. Consequentemente,
embora o Verbo possua uma Natureza Humana, enquanto tal, criada; é certo que o
SER do Verbo Encarnado É DIVINO, E PORTANTO, FORMALMENTE, NOSSO SENHOR NÃO É
CRIATURA – É DEUS FEITO HOMEM. PORQUE A NATUREZA HUMANA SÓ EXISTE PELA PESSOA
DIVINA E SEGUNDO A DIGNIDADE INFINITA DA PESSOA DIVINA.
Nosso Senhor orava verdadeiramente ao Pai, ou se
quisermos, à Santíssima Trindade, e orava não apenas para nos servir de
exemplo, mas porque necessitava, como expressão teológica do Mistério da
Santíssima Trindade e do Mistério da Encarnação.
A oração de Jesus era mental e vocal, e
concretizava-se, litùrgicamente, com todos os sinais e atitudes externas de
todo o bom cristão; E QUE NÃO SÃO ARBITRÁRIAS, MAS RESULTAM DE UMA NECESSIDADE
INTRÍNSECA À PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO ONTOLÓGICA DO SER HUMANO.
Em Nosso Senhor havia, necessàriamente, oração
Latrêutica, ou seja, de adoração; exactamente porque Jesus Cristo possuía uma
Alma humana, com as respectivas faculdades, uma alma ornamentada, enquanto
viador, com a Graça Santificante, semelhante à nossa, MAS EM GRAU MORALMENTE
INFINITO. Certamente que a Graça Santificante de Nosso Senhor, tal como a
nossa, não era, nem podia ser, fìsicamente infinita; mas MORALMENTE, possuía o
grau transcendentalmente correspondente à Dignidade Infinita do Verbo
Encarnado. É certo que Nosso Senhor não possuía a Fé Teologal, embora certos
teólogos, sérios, admitam em Cristo, como viador, uma Fé puramente virtual, bem
como uma personalidade humana, igualmente virtual. Quanto à Esperança, o Senhor
possuía-a apenas no concernente à Sua Ressureição e Glorificação Corporal.
Todavia, embora Jesus já possuísse a Visão Beatífica, isso não impedia que
tivesse a Caridade própria dos viadores, a Adoração dirigida a Deus Criador,
porque não olvidemos: A Natureza Humana de Nosso Senhor é criada.
Em Nosso Senhor existia a oração eucarística, na
medida, agora mesmo considerada, em que possuía uma Natureza Humana perfeita;
mas uma Natureza Humana com os defeitos específicos extrínsecos, oriundos da
vivência num mundo corrompido pelo pecado original; neste quadro conceptual,
Nosso Senhor podia e devia agradecer a Deus os benefícios recebidos.
Em Nosso Senhor existia a oração propiciatória, NÃO
POR SI, MAS PELA HUMANIDADE PECADORA. Tudo o que Nosso Senhor Jesus Cristo
solicitou ao Pai na Sua vida sobre a Terra se cumpriu infalìvelmente. Por outro
lado, a Providência Eterna de Deus incorpora necessàriamente diversos
acontecimentos que são realizados a pedido de Nosso Senhor, NA SUA ORAÇÃO
IMPETRATÓRIA, enquanto verdadeiro Homem, sobre a Terra; logo os castigos que
Nosso Senhor solicitou para serem perdoados – foram perdoados! E aquelas almas
para cuja salvação, Nosso Senhor intercedeu junto de Deus Pai – infalìvelmente,
salvaram-se!
Cumpre salientar aqui uma distinção muito valiosa:
Maria Santíssima é Mediadora Universal de todas as
Graças, como é conhecido, tal privilégio decorre da sua condição de
Corredentora; sabemos também que a grande maioria dos homens se condena, embora
não seja Dogma de Fé. Consequentemente, a Santíssima Virgem intercede por almas
que se acabam por condenar. Isto é tanto mais verdade quanto Nossa Senhora,
como todos os eleitos do Céu, NÃO SABE, SALVO REVELAÇÃO DIVINA, QUAIS AS ALMAS
QUE SE VÃO CONDENAR E QUAIS AS QUE SE VÃO SALVAR. Pois que antes do Juízo
Final, os eleitos permanecendo já na Eternidade, são extrìnsecamente medidos
pelo tempo terrestre.
Mas como já expendemos, aquelas almas por quem Nosso
Senhor pediu, na sua vida terrestre, ou pede mesmo agora no Céu, pois continua
sendo Verdadeiro Homem, essas almas salvam-se infalìvelmente. Tal não nos deve
surpreender, pois Nosso Senhor é Deus, e Nossa Senhora é pura criatura, embora
a mais Sobrenaturalmente elevada de todas.
Convém sublinhar que as impetrações de Nosso Senhor
são transcendental e lògicamente posteriores ao Mistério da Redenção, e são
essencialmente constitutivas do Mistério da Predestinação; enquanto que a
Mediação Universal de Maria é acidentalmente constitutiva desse mesmo Mistério
da Predestinação.
No Altar da Cruz, Nosso Senhor ofereceu ao Eterno Pai,
como Sacerdote e como Vítima um Sacrifício, Latrêutico, Eucarístico,
Propiciatório e Impetratório; pois são essas as disposições Sobrenaturais que
devem irradiar da alma de todo o homem temente a Deus, e o Sacrifício da Cruz,
foi Vicário de Condigno, ou seja, satisfez superabundantemente a Deus Nosso
Senhor, sendo ofertado pelo Homem Deus, como novo Adão, e como representante
adequado da Humanidade, toda ela pecadora no velho Adão.
Assim se prova a Infinita coerência da economia da
Salvação, bem como a fecundidade, absolutamente inefável, da Sabedoria
Incriada.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa, 17 de Outubro de 2016
Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Fonte: https://promariana.wordpress.com/2016/10/26/a-oracao-de-jesus/
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