"QUE QUANTO MAIOR É A SANTIDADE DE UMA ALMA, MENOS NECESSITA DE ESTÍMULOS EXTERIORES."
Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Escutemos o Papa São Pio X, em
excertos da sua encíclica “Communium
Rerum”, em comemoração
do VIII centenário do falecimento de Santo Anselmo de Aosta – 21 de Abril de
1909:
«Sem querer lembrar aqui todas as
condições intelectuais do clero e do povo daquela época de Santo Anselmo, era
num singularmente perigoso duplo excesso no seio do qual transcorriam as
engenhosidades.
Alguns mais superficiais e
inconsistentes, nutridos de erudição de fachada, orgulhavam-se para além de
toda a crença em sua indigesta cultura. Seduzidos por espectro de filosofia e
dialéctica vazia e falaz, VEICULADA SOB O NOME DE CIÊNCIA, “desprezavam as
autoridades Sagradas, e com nefanda temeridade, ousavam disputar contra
um e outro os dogmas que a Fé Cristã professa… e com insipiente orgulho
JULGAVAM NÃO SER POSSÍVEL O QUE NÃO PODIAM ENTENDER, ao invés de confessar com
humilde sabedoria, poder haver muita coisa que eles não queriam compreender…
alguns parecem, tão logo começam a pôr à mostra os chifres de uma ciência
presunçosa de si – não sabendo que se alguém julga saber alguma coisa, não sabe
ainda o modo segundo o qual o deva saber, ANTES QUE TENHAM COLOCADO AS ASAS
ESPIRITUAIS, MEDIANTE A PRÁTICA DA FÉ. Ocorre que, enquanto
precipitadamente se esforçam por ascender diante do tempo pelo caminho da
inteligência, por defeito da mesma, somos levados a descender em muitos
erros”(Anselmo, De Fide Trinitatis, cap. 2). E como esses, continuamos a ter
exemplos tristes e numerosos.
Outros, ao contrário, tímidos e
indolentes, espantados por muitos terem naufragado na Fé, e do perigo da
ciência que “infla”, prosseguiram até excluir o uso da filosofia, bem como todo
o estudo que exigisse discussão nas Doutrinas Sagradas.
Entre os dois excessos, apresenta-se o
costume católico, que como detesta a presunção dos primeiros (advertida por
Gregório IX em época posterior) os quais “inflados como odres do espírito de
vaidade… ESFORÇAM-SE EM ESTABELECER A FÉ COM RAZÃO NATURAL, ADULTERANDO A
PALAVRA DE DEUS COM FANTASIAS DE FILÓSOFOS” (Epist. Tacti dolor cordis ad
Theologos Parisien), assim reprova a negligência dos segundos, tão
alheios aos estudos racionais e descuidados “de aproveitar pela Fé na
inteligência”(Epist. Santo Anselmo, livro 2, epist 41), especialmente quando
cabe a eles, por dever de ofício, defender a Fé Católica contra os erros
provenientes de toda a parte.
Para efectuar tal defesa, pode-se
afirmar que foi por Deus suscitado Anselmo, para demonstrar, com o exemplo, com
a voz, e com os escritos, o caminho seguro; para o benefício comum, fazer
aflorar as fontes da Sabedoria Cristã, e ser guia e norma dos Mestres
Católicos, que depois dele, “ensinam a Sagrada Escritura com o método da
Escola”(Breviário Romano 21 de Abril). Não é por nada que Anselmo foi estimado
e celebrado como o seu precursor.
Com isto não se quer dizer que o Doutor
de Aosta tenha alcançado logo o ápice da especulação teológica ou filosófica,
ou alcançado a fama dos dois grandes mestres Tomás e Boaventura. Os frutos
posteriores da Sabedoria destes não maturaram senão com o tempo e mediante o
concurso das fadigas de muitos doutores. O próprio Anselmo, modestíssimo, como
é próprio dos verdadeiros sábios, ao mesmo tempo douto e perspicaz nunca
publicou nenhum dos seus escritos a não ser em ocasiões específicas, ou por
insistência de outros, e nesses escritos constava que “se há algo a ser
corrigido, não recusa a correcção (Cur Deus Homo; livro II, cap.23).
(…) A função precípua da filosofia é,
portanto, demonstrar a racionalidade da nossa Fé, e no que lhe estiver ao
alcance, O DEVER DE CRER NA AUTORIDADE DIVINA, QUE NOS PROPÕE MISTÉRIOS
ALTÍSSIMOS,OS QUAIS, PELO TESTEMUNHO DE TANTOS SINAIS DE CREDIBILIDADE, SÃO POR
DEMAIS DIGNOS DE FÉ.»
Uma das desilusões religiosas que tive
na vida, foi quando alguém, que eu julgava piedoso, me confrontou com a
seguinte afirmação:
“Mas com certeza que passado um tempo,
no Céu, as almas acabam por se saturar.”
É uma afirmação que só pode ser
produzida, não só por quem não possui a Fé Católica, como também não possui
dela a menor ideia. Alguns poderão argumentar que é um problema de ignorância,
mas não; o mérito Sobrenatural da Fé não pode depender, nem de dons naturais,
como a inteligência, nem da cultura aferida por padrões humanos e terrenos.
Quem quer que possua a Fé Teologal – sobretudo a Fé formada pela Caridade, e
portanto também a Graça Santificante – possui também por conaturalidade
Sobrenatural o conhecimento do completo absurdo da asserção colocada; absurdo
que só pode promanar de uma concepção da religião equiparável a um conto de
fadas, ou de qualquer modo entendida de modo estritamente humano e terreno.
Porque mesmo sem qualquer instrução de
padrão humano, a alma consagrada Sobrenaturalmente a Deus Nosso Senhor pela
Graça Santificante e pela Caridade, contempla no fulgor dessa mesma Graça, e
mais ainda nos Dons do Espírito Santo da Sapiência e do Entendimento, QUE DE
DEUS É METAFÌSICA E TEOLÒGICAMENTE IMPOSSÍVEL ALGUÉM SE SATURAR, TANTO NA TERRA
COMO NO CEÚ. É certo que a alma não obtém esse conhecimento por discurso
filosófico e teológico, OBTÉM-NO DIRECTAMENTE DE DEUS POR VIA SOBRENATURAL, NO
LUME INCRIADO DA NATUREZA DIVINA, DA QUAL REALMENTE PARTICIPA.
Efectivamente, quando o homem, mesmo
sendo piedoso, vive neste mundo mortal, por muito que ame a Deus Nosso Senhor,
continua necessitando de estímulos exteriores que o mantenham psìquicamente
vivo e activo. Mesmo os grandes contemplativos, a começar por São Tomás, não
podiam sustentar ininterruptamente uma plena actualidade contemplativa. Mas é
absolutamente certo, QUE QUANTO MAIOR É A SANTIDADE DE UMA ALMA, MENOS
NECESSITA DE ESTÍMULOS EXTERIORES. Aliás, é bem visível como os mundanos, na
sua sede de gozo, e porque não possuem o Fundamento dos fundamentos, a Luz Incriada
que tudo justifica, correm sequiosamente atrás dos mais variados estímulos
exteriores, que imperiosamente necessitam renovar e diversificar, acabando
frequentemente na toxicodependência como solução final para a sua volúpia. Mas
por definição, os prazeres contingentes e finitos, fartam, saturam, corroem;
requerem, pois, alternância, e só momentaneamente saciam.
Só Deus Nosso Senhor, e consequentemente
também a Natureza Humana de Jesus Cristo, nunca pode saturar, e muito pelo
contrário, sacia permanentemente, Eternamente, totalmente – sem fartar!
Outro erro, bastante menos grave, mas
muito comum, mesmo em sacerdotes piedosos, é conceber a Vida Eterna como um
tempo sem fim; um tal conceito pode ser usado com crianças, mas sempre com
abertura para uma superação. Na realidade, a Eternidade supera infinitamente o
tempo, pois este é duração numérica e sucessiva, corruptível; ao passo que a
Eternidade pode ser definida como um presente perpétuo, sem alteração, nem
sucessão, mas infinitamente rico. É necessário proceder à distinção entre a
Eternidade em sentido mais estrito, e então é um atributo de Deus, que não tem
princípio nem fim, e a Eternidade em sentido lato que consiste na nossa
participação real na Eternidade Divina. Mesmo na Ordem Natural, a nossa alma,
em si mesma, como espírito que é, só pode existir fora do tempo, e
essencialmente acima do tempo, o que neste caso se denomina “Evo” ou
“Eviternidade”. Aquilo a que nós chamamos tempo, na realidade constitui a
síntese transcendental entre o tempo puramente físico da matéria e o “evo” da
existência da alma formalmente espiritual, e virtualmente sensitiva e
substancial. Exactamente por isso é que costumamos, com razão, afirmar que o
tempo passa mais rápido ou mais vagaroso, pois tal depende das vicissitudes
psico-fisiológicas e respectivas flutuações que a forma espiritual adquire e
sofre como acto da matéria. Análogamente, isso explica igualmente como na
juventude o tempo passa mais lentamente do que na velhice.
Santo Agostinho meditou longamente sobre
o problema do tempo, todavia, por falta de formação filosófica suficiente, não
terá alcançado a síntese maravilhosa edificada mais tarde por São Tomás.
Neste quadro conceptual, a questão que
serve de epígrafe a este artigo tem como resposta um rotundo NÃO!
E se repararmos bem, verificaremos,
sobretudo na vida dos santos, como mesmo cá na Terra, eles jamais se saturam de
Deus, nosso Princípio e nosso Fim. Bem pelo contrário, quanto mais eles avançam
nos caminhos da Verdade e do Bem, mais rápidamente ascendem Sobrenaturalmente,
porque mais perto vão ficando de Deus. E assim a sombra do Altíssimo cada vez
os oculta mais, e mais e mais maravilhas Sobrenaturais vão enriquecendo a sua
vida escondida de obras primas da Graça Divina, concentrando-os no sublime
vínculo que coloca a Glória de Deus e a Salvação das almas como objectivo
supremo e único das suas vidas.
Metafìsicamente, a solução do problema é
perfeitamente lógica: Os entes contingentes, mesmo os espirituais, não possuem
em si a razão da sua existência, não são o seu ser; daí a sua essencial
limitação, a sua incapacidade de enrai
zarem o ser, de justificarem a existência seja de quem for, seja como causa
exemplar e eficiente, seja como causa final. Mesmo num nível familiar, por
muito profundas que sejam as relações, como a de mãe e filho, não logram
justificar transcendentalmente a existência seja de quem for; daí os dramas
familiares, quando as almas, privadas de Deus Nosso Senhor, tentam
desesperadamente infinitizar o que é intrìnsecamente finito.
E a seita conciliar, a seita anti-Cristo
apresenta-se como um tristíssimo exemplo, de homens totalmente demolidos por
dentro, absolutamente queimados, mesmo na Ordem Natural, que tentam,
patèticamente, irrisòriamente, atribuir significado mais ou menos transcendente
aos destroços e às ruínas do significado original das suas vidas.
Nosso Senhor Jesus Cristo constitui a
nossa Única e Infinita Luz, a nossa Eternidade perfeitamente saciada de todas
as mais lídimas aspirações de Verdade, de Bem, de Justiça e de Caridade. Porque
no Céu, permanecem os Hábitos Sobrenaturais das Virtudes Morais, sendo os
respectivos actos como que sublimados no Conhecimento e no Amor de Deus.
E jamais olvidemos que para os justos, O
CÉU INICIA-SE JÁ NESTE POBRE MUNDO.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa, 6 de Novembro de 2016
Fonte: https://promariana.wordpress.com/2016/11/15/poderao-os-habitantes-do-ceu-saturar-se-de-deus-nosso-senhor/
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