"Nossa Senhora do Bom Conselho, rogai por nós, e ajudai-nos a permanecer fiéis ao Caminho, à Verdade e à Vida, em meio a tanto extravio, a tanto embuste e a tanta morte."
550 ANOS DA CHEGADA EM GENAZZANO DO AFRESCO DE NOSSA SENHORA
Revista Catolicismo, nº 796, abril/2017
No
dia 26 do corrente mês de abril celebra-se uma efeméride muito especial: os 550
anos da milagrosa chegada do afresco de Nossa Senhora do Bom Conselho à
pequenina e encantadora cidade de Genazzano (Itália), onde ela é venerada desde
1467.(*) Reproduzimos em sua homenagem um brilhante artigo do principal
colaborador de Catolicismo,
publicado em nossa edição de abril de 1968.
A invocação Mater Boni Consilii, incluída na
Ladainha Lauretana, é muito antiga. Na Idade Média, num santuário situado em
Scútari, na Albânia, venerava-se um afresco de Nossa Senhora do Bom Conselho.
Em 1467, quando os turcos maometanos estavam dominando esse país, um portentoso
milagre ocorreu: Anjos destacaram o afresco da parede e o transportaram pelos
ares até a cidade de Genazzano, próxima a Roma. Ali ele permanece desde então,
sendo objeto de grande devoção e ocasião de numerosos milagres.
A Direção de Catolicismo
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A pequenina e encantadora cidade de Genazzano |
Neste século da confusão, rogai por nós ó Mãe do Bom Conselho
Plinio Corrêa de
Oliveira
Catolicismo, nº 208, Abril/1968
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Os dois devotos de Nossa Senhora acompanham sua imagem no momento dela abandonar a Albânia |
A síntese da bela história da devoção a Nossa Senhora de Genazzano,
que Catolicismo hoje apresenta, é esta:
Numa pequena localidade da Itália a graça faz germinar, em substituição
a um velho culto pagão, uma terna devoção a Nossa Senhora sob o título do Bom
Conselho.
Séculos mais tarde, um reino valoroso se encontra em triste declínio. Declínio
político e militar, por certo, mas também e principalmente declínio religioso.
Os católicos albaneses oferecem ao Islã a resistência ineficaz de um povo
tornado tíbio. Com isto, a vitória das hostes de Mafoma resulta inevitável.
Dois homens fiéis à Virgem se sentem perplexos, e vão ao santuário nacional da
Albânia, em Scútari, a fim de implorar à imagem d´Ela que ali se venera um bom
conselho: o que fazer, permanecer na nação dominada pelos turcos, a fim de ali
servir à Santíssima Virgem, ou deixar a pátria rumo a plagas em que possam
viver sem grave perigo para a fé?
O bom conselho implorado lhes foi concedido sob a forma mais estupenda e
inesperada. A imagem deixa Scútari, e em pós dela partem os nossos dois
albaneses.
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No teto da Igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho (em Bockstein, Áustria) representação da transladação da imagem [Foto: Frederico Viotti] |
A confirmar a autenticidade e o acerto deste conselho, a sagrada Efígie
baixa maravilhosamente no local de Genazzano onde se cultuava a Mãe do Bom
Conselho.
Expansão universal da
devoção a Nossa Senhora do Bom Conselho
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Quadro que se venera na capela do Colégio São Luís, em São Paulo |
Daí para diante, a história da Madonna trasladada de Scútari não foi
senão uma sucessão de triunfos. Quer em Genazzano, quer em outras cidades onde
reproduções do quadro albanês foram expostas à veneração dos fiéis, as graças
de toda ordem se multiplicaram incontáveis. E entre elas o atendimento frequente
das pessoas que, desejosas de um bom conselho, acorrem à Virgem, implorando a
graça de uma luz para sua perplexidade.
Entre essas imagens, importa lembrar a que se encontra na cidade de São
Paulo, na imponente Capela do Colégio São Luís, dos RR. PP. Jesuítas, pois o
modo pelo qual chegou a nosso País é verdadeiramente digno de especial atenção.
Antes de prosseguir convém salientar uma peculiaridade da devoção a
Nossa Senhora de Genazzano.
Não é possível, com efeito, tratar d´Ela sem pôr em realce uma de suas
peculiaridades mais importantes. Muitas das pessoas que recorrem à Virgem
diante da Imagem de Genazzano ou de réplicas desta, têm afirmado que o
semblante da Senhora lhes “responde” às orações. Não que o faça falando ou
movendo-se, o que constituiria manifesto milagre. Mas, sem nenhuma alteração
propriamente miraculosa, algo do olhar e da expressão da Divina Mãe toma
caráter particularmente vivo e impregnado de maternal alegria quando o fiel é
atendido. E é à multiplicação deste favor que em boa parte se deve a expansão
universal da devoção a Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano.
A humanidade precisa como
nunca de um bom conselho
Qual a atualidade desta devoção? Sem dúvida, em nossa época tão aflita e
conturbada, incontáveis são as almas que precisam, a este ou aquele título, de
um bom conselho. Nada de melhor podem elas fazer do que implorar o auxílio
d´Aquela que a Santa Igreja, na Ladainha lauretana, invoca como Mater
Boni Consilii.
Entretanto, cumpre ponderar que um conselho é de tanto maior valia
quanto maior for a importância do assunto sobre o qual versa.
Por isto, supremamente importantes são para cada um os conselhos
necessários para conhecer a respeito de si mesmo — dentro da tempestade de
trevas do século XX — os desígnios de Nossa Senhora e os meios aptos para os
realizar.
Aqui está um primeiro título para se afirmar a particular atualidade da
devoção a Nossa Senhora de Genazzano neste século que poderá passar para a
História como o século da confusão.
Todavia, se alargarmos nossos horizontes para além da esfera individual
e considerarmos numa perspectiva histórica a crise pela qual hoje passa a
Igreja de Deus, não poderemos deixar de ponderar que ainda aqui a humanidade
precisa como nunca de um bom conselho da Virgem das Virgens.
Não sucumbir aos erros
espalhados pelo comunismo
Encontramo-nos no ápice de um processo histórico oriundo, na Idade
Média, de uma explosão de orgulho e de sensualidade. Desta explosão nasceram
nos séculos XV e XVI o Humanismo, a Renascença e a Pseudo-Reforma protestante.
Os vagalhões produzidos por esses movimentos se projetaram da esfera
filosófica, cultural e religiosa para a esfera política e social, ocasionando,
no século XVIII, a Revolução Francesa ímpia e igualitária. Esta por sua vez se
desdobrou ao longo do século XIX em movimentos de índole atéia, laicista e
revolucionária, que culminaram na eclosão do comunismo, revolução social e
econômica que por sua vez ameaça tragar o mundo inteiro.
No vértice deste processo, a alternativa se impõe: ou sucumbimos ao
comunismo como outrora a Albânia ao islamismo, ou renunciamos inteiramente ao
orgulho e à sensualidade, extirpando-lhes todos os efeitos, quer na vida
religiosa, quer na vida temporal, efeitos estes dos quais o comunismo não é
senão a consequência supremamente lógica e supremamente maligna. Mas a rejeição
efetiva e completa de um imenso pecado supõe uma imensa contrição. E uma imensa
contrição supõe uma imensa apetência da perfeição na virtude contra a qual se
pecou.
Assim, a opção para o mundo moderno é entre um porvir tenebroso, feito
das últimas capitulações ante os extremos do erro e do mal, e o abraçar
entusiástico da plenitude da verdade e do bem.
Como mover a humanidade — de tal maneira atolada no processo histórico
que a vem impelindo há tantos séculos — a empreender a trajetória do filho
pródigo rumo à casa paterna?
Sem um possante auxílio da graça, a falar no interior de incontáveis
almas, isto não se pode conseguir. Esse bom conselho a ser proferido no íntimo
de cada coração para a salvação da humanidade, que melhor modo há de obtê-lo
senão implorando à Mãe do Bom Conselho para que, por uma graça nova, converta o
bárbaro super-civilizado do século XX? Só assim poderá este, à maneira do
bárbaro sub-civilizado do século V, “queimar o que adorou e adorar o
que queimou”. E só assim poderá ter origem uma nova e ainda mais
esplendorosa era de fé.
Esse é o bom conselho por excelência que os devotos de Maria devem pedir
para si e para todos os homens nos dias que correm.
Erros crassos encontram
livre trânsito nos ambientes católicos
Parecerá talvez excessivo, a alguns leitores, que afirmemos ser este o
século mais confuso da História. No entanto, entre as múltiplas provas que a
asserção comporta, é mister sobrelevar uma, a qual por si só justifica nossa
afirmação.
Com efeito, seria difícil contestar que em algum tempo a confusão tenha
sido maior nos meios católicos, do que no nosso.
Por certo, houve épocas em que a Igreja pareceu afetada por uma confusão
mais grave. Assim, as crises ao longo das quais os antipapas dilaceravam o
Corpo Místico de Cristo, ou a luta das Investiduras que cindiu durante muito
tempo o Ocidente cristão, lançando o Sacro Império contra o Papado. Mas essas
crises, ou eram mais de rivalidades pessoais que de princípios, ou punham em
jogo apenas alguns princípios, se bem que básicos, da doutrina católica.
Presentemente, pelo contrário, não há erro, por mais crasso e rotundo,
que não procure revestir-se de uma roupagem mais ou menos nova para obter livre
trânsito nos ambientes católicos. Pode-se dizer que assistimos em nosso próprio
meio ao desfile de todos os erros, faceiramente disfarçados com pele de ovelha,
a solicitar a adesão de católicos incautos, superficiais, ou pouco amorosos de
nossa Fé.
Quando nos ambientes
católicos sopra a confusão…
E, ante essas manobras quantas concessões, quanta falsa prudência,
quanto criminoso namoriscar com a heterodoxia! Nesta atmosfera, que já sugeriu
a Paulo VI algumas graves advertências, a confusão é tão grande, que em não
poucos círculos os católicos zelosos da ortodoxia são mal vistos e suspeitos,
enquanto a turbamulta das vítimas dos erros embuçados se porta com a
desenvoltura de quem fosse dono da casa! Traçado este quadro, pensamos com
afeto e com apreensão nas muitas almas modestas a quem as circunstâncias da
vida não permitem maiores estudos religiosos. Quão necessário lhes é o bom
conselho de Nossa Senhora, para vencer a confusão! A Igreja pode dizer de Si,
analogicamente, as palavras de Nosso Senhor: “Eu sou o Caminho, a
Verdade e a Vida” (Jo.14,6). Se nos ambientes católicos sopra a
confusão, é inevitável que esta se estenda por todos os outros domínios da
existência. E na Igreja não pode haver confusão pior do que a dos princípios.
É natural, pois, que afirmemos ser nosso século o século da confusão, e
que de nossos lábios se evole para a Mãe de Deus uma súplica: Nossa Senhora do
Bom Conselho, rogai por nós, e ajudai-nos a permanecer fiéis ao Caminho, à
Verdade e à Vida, em meio a tanto extravio, a tanto embuste e a tanta morte.
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