"Nada mais fácil - diz ele - do que seduzir uma plebe vulgar e ignorante com um discurso volúvel, pois quanto menos ela entende, mais ela admira" - São Jerônimo
TRATADO SOBRE A TRADIÇÃO DIVINA
DO
CARDEAL FRANZELIN
- SIM SIM NÃO NÃO -
1- Uma obra que
não envelheceu
O Cardeal
João Batista Franzelin, da Companhia de Jesus, morreu em 11 de dezembro de
1886, em Roma, deixando atrás de si a imagem de um religioso exemplar. Ele
ficou famoso sobretudo por sua obra mestra De traditione
divina, o grande tratado teológico sobre a Tradição, publicado em
1870. É a obra prima do mestre, e como todas as obras primas, não envelheceu.
Aqueles que desejam se debruçar seriamente sobre os textos do concílio Vaticano
II, para analisar as dificuldades que eles colocam à consciência dos católicos,
não podem ignorar o estudo de Franzelin; porque a pedra angular em que repousa
uma boa parte da nova eclesiologia, a nova teologia do magistério e da fé, é a
ideia modernista de "tradição viva". O tratado de Franzelin contribui
profundamente para fundamentar a argumentação dos que procuram
resolver os problemas levantados pelo último concílio.
2-A vantagem de
uma tradução
Num episódio
que ficou famoso, São Jerônimo desmascarou, com certa severidade, a tática da
areia nos olhos: "Nada mais fácil - diz ele - do que seduzir uma plebe
vulgar e ignorante com um discurso volúvel, pois quanto menos ela entende, mais
ela admira1". Hoje em dia, todos nós fazemos mais ou menos
parte dessa plebe vulgar e ignorante, porque o desconhecimento do latim tende a
se generalizar. O acesso às obras dos grandes teólogos anteriores ao último
concílio tornam-se cada vez de acesso mais difícil. Quem quiser pode mentir à
vontade ou abusar da situação...
A vantagem
de uma tradução2 é dar acesso ao verdadeiro pensamento do
autor: cada um pode julgar, com bases firmes, sem glosas nem oráculos. É
Franzelin quem fala.
O tratado de
Franzelin comporta quatro grandes partes, totalizando 26 teses (ou capítulos).
A primeira parte (teses 1-12) estuda detalhadamente a noção de Tradição Divina.
É a parte mais importante e mais longa, correspondente a metade da obra. A
segunda parte (teses 13-17) é consagrada aos monumentos da Tradição, isto é, às
fontes graças as quais a Tradição é conservada e chega até nós. A terceira
parte (teses 18-21) examina a natureza das relações existentes entre s Tradição
e a Escritura. Enfim, a quarta parte (teses 22-26) versa sobre a explicitação
do dogma e mostra em que sentido pode-se admitir um certo progresso da Tradição.
3- Breve exame
crítico do Protestantismo
A primeira
preocupação de Franzelin é dar um golpe de misericórdia no protestantismo. E
ele faz isso com método, indicando imediatamente o ponto centra do debate:
"Existe, fora das escrituras, um outro órgão graças ao qual se conserva
com toda segurança a doutrina pura e íntegra transmitida em sua origem por
Cristo e pelos apóstolos? Os protestantes são obrigados a negar, se querem
salvaguardar sua heresia3".
O essencial
da refutação encontra-se na tese 20, em que Franzelin explica a existência da
Tradição Divina, tal qual o magistério da Igreja a transmite, propõe de viva
voz, e que passa à frente das Escritura inspiradas4.
O princípio
sobre o qual repousa todo o protestantismo é, na verdade, a própria negação da
Tradição. Ele enuncia assim: "Cremos, confessamos e ensinamos que há uma
só regra e única norma segundo a qual se deve estimar e julgar todos os dogmas
e todos os doutores, e não há outra senão os escritos dos profetas e dos
apóstolos, no Antigo e no Novo Testamento". Mas esse princípio não se
encontra em nenhum lugar nos escritos inspirados, nem no Antigo nem no Novo
Testamento. "Eis porque - conclui Franzelin - se os protestantes partem do
princípio que não se deve crerem nada fora da Escritura, pelo próprio fato eles
crêem e impõem à crença, como primeiro princípio, [...] um postulado que não
está na Escritura e que eles apresentam como o dogma deles. Enunciando esse
princípio segundo o qual eles negam que se deva crer outra coisa além da
Escritura, os protestantes afirmam por esse mesmo fato que se deve crer no que
não está na Escritura e há aí uma contradição manifesta".
Isso não é
tudo. "Todas as seitas protestantes ainda sustentam, tanto em sua
profissão de fé quanto na prática, certas posições que não puderam deixar de
pedir emprestado à tradição da Igreja Católica, pois não estão consignadas em
parte alguma das Escrituras". Por exemplo, a inspiração dos livros santos
ou ainda a santificação dos domingos em vez do sábado. "Essas crenças,
observa Franzelin justamente, repousam unicamente sobre a Tradição e a
autoridade do magistério da Igreja católica, não se encontra vestígio nenhum
escrito delas".
A conclusão
impõe-se: "Eis porque esse princípio de base do protestantismo, tal como
eles o enunciam em seus símbolos de fé, implica contradição em si mesmo e
contradiz todo o resto de sua doutrina".
Eis aí a
contradição onde qualquer um se fecha ao rejeitara instituição divina do
magistério eclesiástico, que é "a instituição fundamental estabelecida
pelo Cristo". A Escritura é somente "uma fonte parcial e um
instrumento a serviço da doutrina". Eis porque "Cristo e os Apóstolos
declaram explicitamente e de mil maneiras essa instituição fundamental do
magistério; mas não acontece o mesmo quando se trata de colocar a doutrina por
escrito: Cristo nunca deu tal preceito aos Apóstolos [...]. Nem todos os
Apóstolos escreveram uma obra, e mais ainda, nenhum deles pensou que devia
colocarem livros toda a doutrina que pregavam5".
4- Constância e
Unanimidade da Pregação da Igreja
4.1-
Franzelin mostra em seguida que o magistério tradicional e constante deve se
definir num sentido muito particular, porque é um magistério essencialmente
tradicional6. Há na verdade uma diferença essencial entre o primeiro
magistério dos apóstolos e o de seus sucessores. "O apostolado foi
instituído para fundar a Igreja, pregando toda a verdade revelada. Por isso
mesmo, os sucessores dos apóstolos não podem ter como função revelar uma outra
verdade; eles devem ao contrário conservar e pregar em sua integridade e seu
significado autêntico toda a verdade que os apóstolos receberam: "O
magistério apostólico é o órgão da revelação, enquanto que o magistério
eclesiástico é o órgão da tradição, e a tradição depende da revelação como de
sua regra e de seu princípio fundamental. "O magistério pertence aos
apóstolos como àqueles que vão promulgar pela primeira vez toda a revelação da
fé católica [...] enquanto que com seus sucessores, é um magistério que deve
pregar em sua totalidade essa doutrina, cuja revelação fica a partir de então
completa".
Se o
magistério eclesiástico depende do magistério apostólico como de sua regra, a
pregação desse magistério eclesiástico deve permanecer conforme à dos
apóstolos: essa pregação tradicional permanece constante: "Os sucessores
dos apóstolos aparecem sempre como as testemunhas e os doutores encarregados de
propor unicamente o que receberam dos apóstolos. Porque seu cargo e seu ofício
têm por objeto permanecer fiéis ao ensinamento que receberam e às verdades que
lhes foram confiadas pêlos apóstolos, como discípulos que reconhecem seus
mestres".
4.2- Um
magistério vivo
É verdade
que a Igreja explicita a expressão das verdades reveladas e propõe aos fiéis
uma compreensão mais penetrante do depósito da fé. É nesse sentido que se pôde
dizer que o magistério tradicional era também um magistério vivo.
Na
realidade, "é claro que as verdades objetivas podem fazer parte do
depósito de fé, sem que entretanto a pregação pública da Igreja as tenha
proposto de modo suficiente para que os fiéis se sentissem obrigados a aderir
por um ato de fé católica. E pode-se demonstrar que foi isso que aconteceu realmente.
Basta apoiar-se sobre todas as definições dos concílios e dos papas que
declaram como sendo de fé verdades a respeito das quais os teólogos católicos
seguiam até então opiniões diferentes, sem prejuízo da fé e de sua pertença à
Igreja. E eles estavam todos de acordo para reconhecer que essas verdades ainda
não faziam parte do depósito de fé, tal como a Igreja declara e impõe à crença.
Pode-se também estabelecer a mesma conclusão observando que há ainda hoje
muitas questões teológicas que não estão definidas, que os papas e os concílios
deixaram voluntariamente sem solução e que entretanto concernem o sentido de
certos pontos da revelação7".
Isso se
explica facilmente8. "Os dogmas revelados por Deus quanto mais
profundos, mais fecundos. Eles podem corresponder de uma infinidade de modos às
exigências das diferentes épocas. Eles se opõem a erros muitos diversos que a
fraqueza ou a perversidade humanas podem inventar". É somente na medida em
que esses erros surgem que a explicitação se faz necessária. Na realidade,
esses erros põem em causa a verdade implícita que gozava até então de uma
soberania pacífica. Para manter a tranquilidade da ordem no seio da crença e
evitar divisões no seio da Igreja, o magistério deve se pronunciar e afirmar no
tom solene que lhe é próprio, a verdade que está sendo posta em dúvida.
"Poderia haver nessa pregação dos apóstolos verdades enunciadas sem muitas
precisões e devido às heresias que sobrevieram em seguida, tornou-se necessário
dar uma explicação mais precisa, para refutar diretamente uma certa forma de
erro. Assim, os Padres e os concílios definiram expressões e a Igreja consagrou
fórmulas que tomaram o valor de profissões de fé".
Essa
pregação torna-se mais precisa quando o magistério da Igreja fornece uma
inteligência (uma compreensão) mais profunda do dogma. Há progresso
não do dogma mas da inteligência (compreensão) do
dogma para os fiéis, que ficam mais protegidos contra os ataques do
erro. É a passagem de um conhecimento implícito a um conhecimento explícito; a
mudança afeta o modo segundo o qual vai se exercer a adesão do intelecto do
fiel ao objeto de fé. O objeto de fé permanece imutável tanto antes quanto
depois da definição do papa por ter sido formalmente revelado.
O fiel cria
até agora (1858) por exemplo, implicitamente, na Imaculada Conceição, crendo
explicitamente que a Santíssima Virgem possuía a plenitude da graça (Lc. 1,
28). Essa plenitude da graça implica muitas coisas, particularmente a concepção
isenta do pecado original. Essa consequência particular foi explicitada pela
definição do Papa Pio IX (enquanto que outra consequência particular será
explicitada por Pio XII por ocasião do dogma da Assunção). Desde então, o fiel
deve crer não mais apenas implicitamente mas também explicitamente na
verdade da Imaculada Conceição. A evolução se faz única e precisamente
sobre o modo de crer: o modo com que o fiel exerce seu ato, de
maneira implícita ou explícita. A evolução não se faz sobre o objeto da crença.
4.3 - Nas
antípodas da nova tradição viva
Assim, por um
lado, o progresso dessa inteligência (compreensão) deve decorrer "na mesma
crença, no mesmo sentido e no mesmo pensamento9",
sem
questionar o teor positivo do depósito revelado. Por outro lado, é o magistério
infalível e constante, o magistério tradicional da Igreja, e só ele, que deve
propor essa inteligência, não a simples razão natural nem a filosofia sozinha.
Eis porque Franzelin ainda lembra10 a definição solene da
constituição Dei Filius pela qual o concílio Vaticano l
consagrou com sua autoridade essa propriedade essencial do magistério
eclesiástico: ser um magistério constante. "A doutrina da fé que Deus
revelou não foi proposta como uma descoberta filosófica que devesse progredir
pela reflexão do homem. Ela foi revelada como um depósito divino confiado à Esposa
de Cristo para que ela o guarde fielmente e o apresente de modo infalível.
Consequentemente, o sentido dos dogmas sagrados que devem ser conservados para
sempre é aquele que nossa Mãe, a Santa Igreja, apresentou uma vez por todas e
jamais é permitido afastar-se dele sob pretexto ou em nome de uma compreensão
mais avançada11". A essa definição corresponde o seguinte
cânone: "Se alguém disser que é possível que, às vezes, os dogmas propostos
pela Igreja se revistam de um sentido diferente do que a Igreja compreendeu e
ainda compreende, devido ao progresso da ciência, anátema sit, (que seja
anátema)12".
Essa
definição é importante, porque condena previamente a noção de tradição viva, cujo
ancestral é o padre alemão Antoine Gunther (1783 - 1863), condenado em 1857
pelo Papa Pio IX, que reafirmou "o caráter constantemente imutável da fé13".
Para Gunther, ao contrário, a inteligência da fé se desenvolve e evolui ao
longo do tempo, graças às simples contribuições da filosofia e da razão natural
e não graças ao Espirite Santo que assiste o magistério infalível da Igreja
Segundo ele, "foi preciso esperar a descoberta desse verdadeira filosofia
para abrir a via de acesso è inteligência perfeita de toda a
revelação14" e nesse desenvolvimento da verdade ao longo do
tempo, o único papel do magistério da Igreja é "decidir qual é, entre as
diferentes maneiras sucessivas de compreender c dogma, aquela mais adaptada ao
momento presente15" Eis porque "devem-se considerar essas
definições que a Igreja promulga nas diferentes épocas de sua historie como se
elas contivessem uma certa parte de verdade sem ver aí a verdade em si e a
verdadeira inteligência; propriamente dita do dogma16".
Para chegar
à concepção renovada de "tradição viva", tal qual está germinando
hoje no neo modernismo, basta fazer o desenvolvimento da verdade depender da
evolução da consciência individual ou do sentimento religioso. Sendo revista e
corrigida pela filosofia imanentista, que serve de base a esse modernismo, essa
nova concepção procede em linha direta de Gunther, e continua merecendo a
condenação de Pio IX.
5- Magistério hierárquico e crença dos fiéis
A função do
magistério é conservar intacta a fé da Igreja. Como explica Franzelin17,
isso implica duas verdades. "Por um lado o Espírito Santo conserva na
sociedade dos fiéis a integridade da fé sempre intacta. Por outro, o Espírito
Santo obtém esse resultado não apenas agindo diretamente e sem recorrer a um
ministério visível, mas também através do exercício do magistério autêntico dos
sucessores dos apóstolos18".
Certamente o
Espírito Santo pode sempre agir no íntimo das almas, pela graça. Entretanto,
essa ação mística é inseparável da ação social do magistério. O Espírito Santo
age nas almas na medida em que as almas permanecem na dependência da hierarquia
da Igreja. "Quando se fala dessa graça interior chamando-a de doutrina,
revelação, testemunho, não se deve entender as expressões desse género
no sentido em que elas excluíram a graça exterior e a pregação autêntica.
Deve-se ao contrário torná-las como se significassem ao mesmo tempo essa
segunda noção19". Todas as passagens da Escritura sobre as
quais os protestantes quiseram se basear para defender seu postulado do livre
exame ou de uma inspiração direta (1 Jo, 2,18-21 e 2, 24-27; Isaías, 54,13; Jer
31T 31-34) não se podem compreender com exclusão da atividade do magistério; ao
contrário, supõem essa atividade20".
Há uma
dependência essencial da Igreja discente em relação à Igreja docente. E ao
invés de falar em relação aos fiéis de uma "infalibilidade passiva da
Igreja", Franzelin pensa que seria melhor "distinguir a
infalibilidade na crença e a infalibilidade no ensino, ou melhor, a
infalibilidade da obediência da fé e a da pregação e da definição da fé.21"
Sem dúvida,
Santo Hilário pôde dizer que "os ouvidos do povo são mais santos do que os
corações dos padres22". Mas essa expressão deve se entender num
sentido bem preciso. "O povo", diz Franzelin, "prefere
permanecer na unidade e de acordo com o pensamento dos padres que, por sua vez,
permanecem na unidade e de acordo com o pensamento da Igreja. O povo prefere
isso a seguir a doutrina dos padres que estão desligados da unidade e da fé
comum. Mas seria completamente absurdo ouvir os corações dos padres sem
precisão ou achar que o povo passe a ser juiz dos padres. A ordem é exatamente
inversa e os corações dos padres, a consciência de sua fé e a inteligência
católica dos pastores que permanecem na unidade da Igreja são a causa
ministerial e o órgão graças ao qual o
Espírito da
verdade modela os santos ouvidos do povo, formando neles o sentido e a
inteligência católica dos fiéis que devem escutar, aprender e obedecer a fé23".
O sentido da fé ("sensus fidei") é o efeito, não a causa, da
atividade do magistério eclesiástico.
6- Em caso de
necessidade: recurso à doutrina de sempre
Para
prová-lo, Franzelin imagina até um caso limite (poderíamos pensar hoje que não
é só teoria). "Pode acontecer que bispos, até mesmo muitos bispos, de
províncias inteiras, percam a f é e a maior parte do rebanho dos fiéis
permaneça com a profissão de fé católica e prefira se agrupar na unidade e no
acordo de pensamento com os sucessores dos apóstolos que permanecem no centro
da unidade, isto é, a Sede de Pedro24".
Em tal
situação crítica, a Igreja discente terá sempre o meio de reconhecer a
autêntica pregação da Igreja docente, porque essa deve sempre permanecer como
tal, de um modo ou de outro, ao menos numa parte dos pastores que permaneceram
fiéis. E haverá sempre um sinal indubitável para reconhecer essa pregação, mas
Franzelin não diz que seja primeiro e acima de tudo a pregação dos pastores que
obedecem ao sucessor de Pedro. É a pregação dos pastores que obedecem ao
sucessor de Pedro na medida em que este obedece ao Cristo, continuando a
transmitir o depósito. O verdadeiro magistério deve sempre ser um magistério
constante e tradicional. Basta "que tenha constância para transmitir a
doutrina já recebida uma vez por todas, e é graças a essa constância que
permanece para o povo católico uma norma viva que regula sua fé e o laço que
estabelece sua unidade25".
A constância
do ensinamento tradicional é por tanto o critério por excelência, necessário e
suficiente, da pregação autêntica da fé católica. "É impossível que uma
doutrina revelada, depois de ter sido unanimemente defendida e explicitamente
professada entre os sucessores dos apóstolos, venha a ser negada no interior da
Igreja. E reciprocamente, é impossível que uma doutrina, depois de ter sido negada
e condenada pela unanimidade, seja defendida26".
7-A atualidade de
Franzelin
Dom Lefebvre
sempre invocou esse critério da constância, o argumento dos 20 séculos de
Tradição, para justificar a resistência dos católicos face aos erros do
concílio Vaticano II. Em particular, fica claro que os ensinamentos da
declaração Dignitatis humanae sobre a liberdade religiosa
(especialmente o no. 2) são a própria expressão dos erros solenemente
condenados pelo magistério infalível do papa Pio IX na encíclica Quanta
cura de 1864. É portanto impossível aceitar esse texto do concílio
Vaticano II.
"Somos
obrigados a constatar que a orientação que a Igreja toma atualmente se encontra
em contradição com o que seus predecessores disseram. E eis-nos obrigados a
escolher. É um drama para nós. Escolher entre a Igreja de hoje, a orientação da
Igreja de hoje e a que a Igreja sempre ensinou durante dois mil anos".
"O que
podemos fazer? Só nos resta a alternativa de nos reportarmos a dois mil anos de
Tradição. Não é possível desligarmo-nos da Igreja. Seria fazer um cisma.
Desligarmo-nos da Igreja de dois mil anos! [...]. Vemos os erros que são
ensinados atualmente, as práticas contrárias à tradição da Igreja, coisas que
são contrárias a nossa fé. Devemos dizer: não! Não podemos aceitar o que vai de
encontro a nossa fé, seja quem for que no-lo ensine. Mesmo se for um anjo vindo
do céu, dizia São Paulo, não podemos abandonar nossa fé [...]. E eis porque nos
apegamos à Tradição da Igreja. Porque, permanecendo fiéis ao que a Igreja
sempre ensinou durante dois mil anos, estamos seguros e certos de não nos
enganar27".
Evocando
este argumento de 20 séculos de Tradição, Dom Lefebvre não fez outra coisa a
não ser seguir os ensinamentos recebidos há anos de seus professores no
Seminário Francês de Roma, ensinamentos que eram e continuam sendo a expressão
da doutrina católica da Igreja. É mérito de Franzelin nos ter dado a formulação
teológica mais sublime. Eis a razão porque a leitura de meu livro é tão útil ao
esclarecimento dos espíritos, fazendo-os compreender melhor as bases e a
necessidade da resistência aos erros do último concílio.
Pe. Jean-MicheI GLEIZE
Notas
1 São Jerônimo, Carta
52 a Népotien, n. b em PL, 22 -534.
2 A primeira tradução
francesa do tratado de Franzelin acaba de ser publicada pela Edição Courrier de
Rome.
3 Tese 3, n. 26.
4 Tese 20, n. 436-438.
5 Tese 4, n. 40.
6 Tese 22, n. 470-472.
7Tese 23, n. 490.
8Tese 23, n. 485 et485.
9 Concílio Vaticano l,
constituição Dei Filius, cap.
4 em DS3020.
10 Tese 25, n. 529.
11 Concílio Vaticano l,
constituição Dei Filius, cap.
4 em
DS3020.
12lbid.
13 Pio IX, Breve Eximinian tuam ao arcebispo de
Cologne, em 15 de junho de 1857 em DS 2829
14 Tese 25, n. 525.
16lbid.
16lbid.
17Tese 12, n. 193-209.
18 Tese 12, n. 193.
19 Tese 12, n. 202.
20 Tese 12, n. 202-205.
21 Tese 12, n. 194,
notai.
22 Santo Hilário, Contre Auxence, n. 6 em PL,
10/613, citado por Franzelin, tese 12, n. 209.
23 Tese 12, n. 209.
24lbid.
25lbid.
26lbid.
27 Dom Lefebvre, Homélie à Ecône, 19 de setembro
de 1976 em Vu dehaut.
Fonte: http://lamentabili.blogspot.com.br/2010/12/tratado-sobre-tradicao-divina-do.html
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