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São Luís do Maranhão,mapa de 1629
"Nossa Senhora das Vitórias opera milagre na batalha de Guaxenduba, que põe fim ao domínio francês no Maranhão"
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Areia
transforma-se em pólvora na retomada de São Luís
Carlos Sodré Lanna
Desde o descobrimento, em 1500, franceses estiveram presentes no Brasil,
disputando nossos mares, territórios e riquezas.
As
disputas tiveram também um aspecto acentuadamente religioso, pois os franceses
que para aqui vieram pertenciam em geral aos seguidores de Lutero e de Calvino,
enquanto os portugueses, firmemente católicos, com razão não queriam nas terras
brasílicas um enclave herético.
Tal era a
situação naquela época, que o historiador Serafim Leite pôde escrever:
“Durante
o século XVI, os estrangeiros que mais apoquentaram o Brasil e mais se apegaram
a algum recanto da costa foram os franceses. O seu movimento no espaço descreve
uma parábola de norte a sul, repelidos numa parte e aparecendo em outra, desde
a Guanabara a Cabo Frio, da Paraíba ao Maranhão e ao Pará, até se fixarem enfim
no extremo norte, para lá do Brasil, na Guiana.
“A
tradição e os fatos demonstram que eram cruéis. Em 15 de julho de 1570 deu-se o
martírio do Beato Inácio de Azevedo e seus trinta e nove companheiros, à mão de
franceses, que pela fé católica foram lançados ao mar a caminho do Brasil, e
são chamados os quarenta mártires do Brasil. Mataram-nos luteranos corsários
dizendo que iam semear doutrina falsa”.
Duas
foram as tentativas francesas de fixação em terras brasileiras.
A
primeira, a França Antártica, de 1555 a 1567, no Rio de Janeiro, que Nicolau de
Villegagnion escolheu como refúgio de hereges calvinistas. Dez anos mais tarde,
o Governador Mem de Sá expulsou-os, restabelecendo a soberania lusa. A segunda
foi a França Equinocial, no Maranhão, da qual trataremos em seguida.
O Brasil
foi dividido em Capitanias Hereditárias em 1534, quando foram aproximadamente
demarcados os limites do futuro Estado do Maranhão.
No ano
seguinte, era fundado o povoado de Nossa Senhora de Nazaré, na Ilha da
Trindade, hoje São Luís, mas que não sobreviveu muito tempo.
Os filhos
do donatário João de Barros pediam ao rei de Portugal, em 1554, mandar povoar
esta capitania, antes que os franceses o fizessem, pois vinham buscar
pau-brasil e começavam a fazer construções.
Daniel de
la Touche, Senhor de la Ravardière, conseguiu de Maria de Médecis — então
regente da França — em 12 de outubro de 1610, a concessão para estabelecer uma
colônia no Maranhão.
Uma
expedição de franceses iniciou viagem em 12 de março de 1612, a 18 de junho
estava em Fernando de Noronha e a 26 de julho em São Luís.
No dia 8
de setembro, construindo Daniel de la Touche o forte de São Luís, estabelecia a
sonhada França Equinocial.
O
Governador-Geral do Brasil, Gaspar de Souza, já veio de Portugal com a
recomendação da reconquista do Maranhão. Nomeou Jerônimo de Albuquerque chefe
da expedição para expulsar os franceses, a qual partiu de Olinda, em
Pernambuco, no dia 24 de agosto de 1614, com oito barcos, 200 homens e 100
indígenas aliados.
Após
diversas escalas no roteiro, estavam em território maranhense a 13 de outubro,
na foz do rio Periá, quartel de São Tiago. Aí deixaram uma grande cruz, sinal
de sua passagem, origem do nome Primeira Cruz, da cidade hoje existente no
local.
Batalha de Guaxenduba
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Jerônimo de Albuquerque, que comandou
a batalha de Guaxenduba |
No dia 25
de outubro, chegaram ao acampamento de Guaxenduba, no continente, bem em frente
à ilha da Capital, São Luís, separada pela Baía de São José.
Os lusos
passaram então a construir o fortim de Santa Maria, e a 28 assistiram à Missa
celebrada pelos capelães da jornada milagrosa, frei Cosme d’Anunciação e frei
André da Natividade.
A chegada
dos portugueses não passou desapercebida aos franceses, que no dia 2 de
novembro enviaram duas lanchas para atirarem contra o forte em construção.
A partir
de então começaram as escaramuças entre os dois contingentes.
No dia 11
de novembro, índios tupinambás sob comando dos franceses destruíram e queimaram
todas as embarcações portuguesas.
Os
franceses bloquearam ainda todas as saídas possíveis aos lusos, e não lhes
deixaram outra alternativa senão a luta de vida ou de morte, o que aconteceu
uma semana depois.
No
alvorecer do dia 19 de novembro, toda a enseada da baía em frente ao forte de
Santa Maria de Guaxenduba estava tomada pela esquadra francesa, pronta para o
combate.
Eram ao
todo cinco navios e cinquenta canoas com trezentos franceses e dois mil
indígenas, sob a direção suprema de Daniel de la Touche, que enviou logo um
ultimatum de rendição aos portugueses.
Os
franceses desembarcaram e passaram a construir trincheiras e uma fortificação
de emergência num outeiro em frente ao forte Santa Maria.
Jerônimo
de Albuquerque percebeu que somente um contra-ataque de surpresa poderia
salvá-los, devido à grande superioridade numérica dos adversários, à posição
estratégica que desfrutavam e à proximidade de sua base de provisões.
Os
portugueses se lançaram a um ataque maciço. Uma coluna avançou sobre os
franceses na praia, e quando os da colina desceram para ajudá-los
encontraram-se com Jerônimo de Albuquerque. As duas frentes portuguesas foram
sobre os inimigos com um tal ímpeto e garra, que estes logo se sentiram desnorteados
e suas linhas se romperam.
Daniel de
la Touche mandou um destacamento atacar o forte luso, mas encontrou uma
enérgica reação, e não teve a menor chance de sucesso.
Uma Senhora diáfana e radiosa
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Outeiro da Cruz, marco do local
onde Nossa Senhora apareceu |
Narra a
história que, no fragor da batalha de Guaxenduba, uma Senhora de aparência
diáfana e radiosa apareceu como por encanto entre as fileiras portuguesas,
percorrendo suas linhas de combate, incentivando-os à luta, apanhando areia do
chão e servindo-a já transformada em pólvora aos soldados para que municiassem
suas armas, e curando as cicatrizes dos feridos.
Era a
Virgem Mãe de Deus que dessa forma revigorava os lusos com sua real presença e
no posto de verdadeira comandante da batalha.
A essas
alturas, foi um salve-se quem puder do lado francês. Eles e os dois mil
selvagens que os apoiavam iniciaram uma debandada na mais completa desordem.
Disso se aproveitaram os portugueses para lançarem um derradeiro ataque.
A batalha
de Guaxenduba durou das 10 às 16 horas, e a vitória moral e material dos
portugueses foi a mais completa possível.
Os
franceses tiveram mais de cem mortos, abatidos no campo de luta ou afogados na
fuga. Entre os índios, seus aliados, a mortandade foi incalculável, falando
alguns historiadores em 1400. Os vitoriosos tiveram apenas 11 mortos e 18
feridos!
Os
portugueses festejaram ostensivamente a reconquista e proclamaram Nossa Senhora
das Vitórias como padroeira de São Luís.
Com a
derrota de Guaxenduba, terminou o domínio francês no Maranhão.
A
presença e atuação da Virgem Maria nesse histórico episódio nos faz lembrar a
passagem do “Cântico dos Cânticos”, a Ela aplicada: “Quem é esta que
vai caminhando como a aurora quando se levanta, formosa como a lua, brilhante
como o sol, terrível como um exército em ordem de batalha? “(6,9).
Bibliografia
1. Frei Vicente do Salvador, História
do Brasil, Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 1982, 7ª edição.
2. Serafim Leite, História da Companhia
de Jesus no Brasil, Tipografia Porto Médico, Porto, 1938, t. II.
3. Francisco Adolfo Varnhagen, História
Geral do Brasil, São Paulo, 1956.
4. Mário M. Meirelles, França
Equinocial, Civilização Brasileira, São Luis, 1982, 2ª edição.
5. Carlos de Lima, História do
Maranhão, São Paulo, 1981.
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