"No dia em que a ela renunciarem pela completa apostasia, seriam aniquiladas; e o Anticristo, surgindo provavelmente do Oriente, as esmagaria facilmente com os pés."
PE. EMMANUEL-ANDRÉ
OS SINAIS PRECURSORES
A questão do fim do mundo foi discutida desde
as origens da Igreja. São Paulo tinha dado sobre esse assunto preciosos
ensinamentos aos cristãos de Tessalônica; e como, apesar das instruções orais,
os espíritos se deixassem inquietar por predições e rumores sem fundamento,
lhes dirigiu uma gravíssima carta para acalmar as inquietações.
“Nós vos rogamos com insistência,
lhes diz, meus irmãos, não vos deixeis abalar em vossas resoluções, nem vos
perturbeis por qualquer visão, ou falatórios, ou carta supostamente vinda de
nós, como se o dia do Senhor estivesse perto”.
“Ninguém de modo algum vos engane!
Pois é preciso que antes venha a grande apostasia, e que apareça o homem do
pecado, o filho da perdição...”.
“Não vos lembrais que eu vos dizia
essas coisas quando ainda estava convosco?”.
“E agora vós sabeis o que é que o
retém. Pois o mistério da iniqüidade já faz sua obra. Aquele que o retém
retenha-o, esperando até que seja posto de lado”. (2 Ts 2, 1, 6).
Assim o fim do mundo não chegará
sem que tenha aparecido um homem apavorantemente mau e ímpio, o filho da
perdição. E este, por sua vez, só se manifestará depois da grande apostasia
geral, depois do desaparecimento de um obstáculo providencial sobre o qual o
Apóstolo havia ensinado de viva voz a seus fiéis.
De que apostasia fala São Paulo?
Não se trata de uma defecção parcial; ele diz de uma maneira absoluta, a
apostasia. Só se pode entender a apostasia em massa das sociedades cristãs, que
socialmente e civilmente renegarão seu batismo; a defecção dessas nações que
Jesus Cristo, segundo a enérgica expressão de São Paulo, tornou membros do
corpo de sua Igreja (Ef 3, 6). Somente esta apostasia tornará possível a
manifestação e a dominação do inimigo pessoal de Jesus Cristo, em uma palavra,
o Anticristo.
Nosso Senhor disse: Será que o
Filho do Homem, quando voltar, encontrará a fé sobre a terra? (Lc 18, 8). O
divino Mestre via a fé declinar, num mundo que envelhecia. Não são os ventos do
século capazes de fazer vacilar esta chama inextinguível, mas as sociedades,
embriagadas pelo bem-estar material, a afastam como inoportuna.
Voltando as costas à fé, o mundo
entra nas trevas e se torna joguete das ilusões do mal. Pensa que são luzes
meteoros enganadores. Irá até tomar pelos primeiros raios do dia a vermelhidão
do incêndio.
Renunciando a Jesus Cristo, cairá,
queira ou não, nas garras de Satã, tão bem chamado príncipe das trevas. Não
pode ficar neutro; não pode criar para si uma independência. Sua apostasia o
põe diretamente debaixo do poder do diabo e de seus cúmplices.
O douto Estius, estudando o texto
do Apóstolo, diz que esta apostasia começou em Lutero e Calvino. Este é o ponto
de partida. Daí fez um caminho assustador.
Hoje ela tende a se consumar. Ela
se chama Revolução, que é a insurreição do homem contra Deus e seu Cristo.
Ela tem como fórmula o laicismo,
que é a eliminação de Deus e seu Cristo. É assim que vemos as sociedades
secretas, investidas do poder público, obstinadas em descristianizar a França,
tirando-lhe um a um, todos os elementos sobrenaturais com os quais foi
impregnada durante quinze séculos de fé. Esses sectários só têm um fim: selar a
apostasia definitiva, e preparar as vias para o homem do pecado.
Cabe aos cristãos reagir, com todas
as energias de que dispõem, contra essa obra abominável; e para isto
reintroduzir Jesus Cristo na vida privada e pública, nos costumes e leis, na
educação e instrução. Há muito tempo que, em tudo isso, Jesus Cristo não é mais
o que devia ser, isto é, tudo. Há muito tempo, reina uma meia-apostasia. Como,
por exemplo, depois que a instrução foi paganizada, poderíamos formar outra
coisa que meio-cristãos?
Trabalhando em sentido
diametralmente oposto ao da Franco-Maçonaria, os cristãos atrasarão o advento
do homem do pecado: prepararão para a Igreja a paz e a independência de que ela
precisa para alcançar e converter o mundo que se abre diante dela.
Toda a luta da hora presente está
pois concentrada aí: deixaremos, sim ou não, nós batizados, que se consuma a
apostasia que trará, em pouco tempo, o Anticristo?
O Apóstolo fala, em termos
enigmáticos, de um obstáculo que se opõe à aparição do homem do pecado: “Aquele
que o retém, diz ele, retenha-o, até que ele seja posto de lado”.
Por esse que retém, os mais antigos
Padres gregos e latinos entendem, quase unanimemente, o Império romano.
Conseqüentemente, eles assim explicam São Paulo: enquanto subsistir o império
romano, o Anticristo não aparecerá.
Repugna esta glosa aos intérpretes
mais recentes; não admitem que a sorte da Igreja esteja ligada à de um império;
mas procuram em vão outra explicação satisfatória.
Confessamos ingenuamente que o
pensamento dos antigos não nos parece tão desprezível, desde que o entendamos
com uma certa amplidão.
Notemos que São Paulo, anunciando
aos fiéis uma apostasia quando a conversão do mundo estava esboçada, estava
lhes dando uma visão de todo o futuro da Igreja. Ele lhes anunciou que as
nações se converteriam, que se formariam sociedades cristãs, e depois estas
sociedades perderiam a fé. Ele lhes mostrara, sem dúvida alguma, o império
romano transformado, um poder cristão surgindo no lugar de um poder pagão, a
autoridade dos Césares passando para mão dos batizados que dela se serviriam
para estender o reino de Jesus Cristo. Ele poderia, desde então, acrescentar:
enquanto durar este estado de coisas, estejam tranqüilos, o Anticristo não
aparecerá.
O sentido do Apóstolo, entendido largamente,
seria pois este: enquanto a dominação do mundo estiver entre as mãos batizadas
da raça latina, o inimigo de Jesus Cristo não se mostrará.
Notemos, como corolário desta
interpretação, que os franco-maçons se opõem antes de tudo e acima de tudo à
restauração do poder cristão.
Quando um príncipe se anuncia como
cristão, todos os meios são empregados para se desembaraçar dele. Isto é
preciso fazer a qualquer preço.
Assim pois é o poder político
cristão o que impediria a seita de alcançar o seu fim.
Por outro lado, as raças latinas
estão voltadas a exercer no mundo uma influência católica, ou bem abdicar. Sua
missão é servir à difusão do Evangelho; e sua existência política está ligada a
esta missão. No dia em que a ela renunciarem pela completa apostasia, seriam
aniquiladas; e o Anticristo, surgindo provavelmente do Oriente, as esmagaria
facilmente com os pés.
Aqui ainda incumbe aos cristãos
agir sobre o espírito público, fazer com que os governos retomem as tradições
cristãs, fora do que só haverá a decadência para as nações européias e especialmente
para nossa pobre pátria.
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