"A História Universal constitui um drama imenso, em que bons e maus, eleitos e réprobos, imersos na humana condição, na aparência, inextricàvelmente, prosseguem objectivos contingentes, ainda que, de uma forma ou de outra, concorram para consecução da Glória extrínseca de Deus, a qual constitui o Fim primário da Criação."
Alberto
Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Escutemos o Papa Pio XII, num
trecho da sua encíclica “Fulgens Radiatur”, promulgada em 21 de
Março de 1947:
«Fulgurante de Luz, Bento
de Núrsia, glória da Itália e de toda a Igreja, resplandece como astro na
cerração da noite. Quem pacientemente estudar a sua gloriosa vida e adentrar, à
luz da História, o tempestuoso tempo em que viveu, há de sentir,
indubitàvelmente, a realidade da promessa que o Senhor deixou aos Apóstolos e à
sociedade que fundara: “Estarei convosco todos os dias, até à consumação dos tempos”(Mt
27, 20). Sentença e promessa, que jamais perderá, por certo, a sua actualidade,
porque se envolve no curso dos séculos, que a Divina Providência governa e
encaminha. COM EFEITO, QUANDO MAIS AUDAZES E AGRESSIVOS OS INIMIGOS DA
RELIGIÃO, E MAIS TEMEROSOS OS BAIXIOS EM QUE SE AGITA A NAU VATICANA DE PEDRO,
QUANDO TUDO, FINALMENTE, SE VAI A DESMORONAR, E JÁ PERECEU DE TODO A ESPERANÇA
HUMANA, ENTÃO, PRECISAMENTE, O AMIGO QUE NÃO FALTA, O DIVINO CONSOLADOR,
DISPENSADOR DOS TESOUROS CELESTIAIS, JESUS CRISTO, APARECE PARA RECONSTITUIR AS
FILEIRAS ABALADAS, COM NOVOS CONTINGENTES DE ATLETAS, QUE SAIAM A DEFENDER EM
CAMPO A REPÚBLICA CRISTÃ, QUE A REINTEGREM, COMO ANTIGAMENTE, E QUE SE PUDER
SER, COM O AUXÍLIO DA GRAÇA, A ENRIQUEÇAM DE NOVAS CONQUISTAS. Entre esses
atletas, refulge com luz particular “Bento, que duplamente o foi: Por Graça e
por Nome”. Por especialíssimo desígnio da Providência, salientava-se NAS TREVAS
DO SÉCULO o santo Patriarca, à hora precisa em que a situação da Santa Igreja e
dos povos atravessava uma crise profunda. O Império Romano, que atingira o
apogeu da glória, estendendo-se, por efeito de uma política justa e moderada
aos povos mais diversos, a ponto de afirmar um dos seus escritores que melhor
do que Império chamar-se-lhe-ia Padroado de Terra, como tudo o que é humano,
tinha declinado para o ocaso. Debilitado e corrompido por dentro, esfacelado,
por fora, pelas repetidas incursões dos bárbaros que desciam do setentrião, o
Ocidente afundava-se na mais completa ruína. Nesta horrível procela, cheia de
perigos e destroços, donde surgiria à Humanidade a esperança de auxílio, a
garantia de salvar da voragem, intactas ao menos, as relíquias do seu
Património? DA SANTA IGREJA CATÓLICA. Efectivamente, todos os empreendimentos e
instituições, baseados ùnicamente no arbítrio dos homens, que recìprocamente se
sucedem e engrandecem, no rodar do tempo, vêem, em virtude da própria
fragilidade essencial, decair e arruinar-se. A Santa Igreja, porém, possui,
derivante do próprio Fundador, a propriedade de fruir da vida Divina, de um
vigor incessante,que lhe permite sair da luta com os homens e as coisas SEMPRE
VENCEDORA, apta para arrancar, ainda do entulho, uma idade nova e mais feliz,
reagregando os povos, COM O INFLUXO DOS PRINCÍPIOS CRISTÃOS, NUMA SOCIEDADE
REJUVENESCIDA.»
Segundo Santo Agostinho, a
História Universal constitui um drama imenso, em que bons e maus, eleitos e
réprobos, imersos na humana condição, na aparência, inextricàvelmente,
prosseguem objectivos contingentes, ainda que, de uma forma ou de outra,
concorram para consecução da Glória extrínseca de Deus, a qual constitui o Fim
primário da Criação. A Providência Divina tudo Eternamente dispôs para que o
ingente mal que existe neste mundo servisse ao resplendor do Bem.
Quanto mais perfeita é uma
criatura, na Ordem Natural, mais eficazmente tende para o Bem, também na Ordem
Natural. Os Anjos são as mais perfeitas de todas as criaturas que Deus criou,
consequentemente, possuem uma santidade ontológica própria, uma impecabilidade,
na mesma Ordem Natural. Poder-se-á colocar a questão de saber se é possível
mérito nestas condições? E a resposta é plenamente afirmativa. Afinal, também
Nossa Senhora era impecável NA ORDEM SOBRENATURAL, não por via da natureza, MAS
POR VIA DE UMA GRAÇA DE PRIVILÉGIO, ABSOLUTAMENTE ÚNICA. Os Anjos são
impecáveis APENAS NA ORDEM NATURAL, uma vez sobrenaturalmente elevados, podem
pecar, como de facto pecaram. O mérito, natural ou Sobrenatural, não se pode
considerar como uma conquista pessoal, independentemente do Criador. Deus é o
Autor de todo o mérito, conquanto este seja absolutamente real; e a razão
profunda para tal radica na transcendentalidade da causalidade Divina.
Neste quadro conceptual, DEUS
É O AUTOR TRANSCENDENTE DA HISTÓRIA. A Acção de Deus Nosso Senhor não se filia
numa relação terrena e humana. Porque o Anjo e o Homem, só pelo facto de
existirem, já estão em relação TRANSCENDENTAL com Deus; e Este está em relação
denominada DE RAZÃO com as suas criaturas. Tal sucede porque TUDO O QUE EXISTE
É VIRTUALMENTE EM DEUS. NÃO SE PODE ADICIONAR O SER DAS CRIATURAS AO SER DE
DEUS. O ACTO CRIADOR MANIFESTA FORA DE DEUS, CONTINGENTEMENTE, EXTRÌNSECAMENTE,
AS PERFEIÇÕES DO MESMO DEUS.
O homem foi criado à Imagem e
Semelhança de Deus; a condição humana, também no que ela contém de trágico,
reconduz-nos para a definição da natureza humana como situada nos confins do
mundo material com o mundo espiritual, num autêntico microcosmo, que consegue
penetrar na essência sensível e concreta da realidade material – o que não
acontece com o Anjo.
A História pode assim ser
considerada como um desenvolvimento contingente e finito do Pensamento Divino e
Eterno no que concerne à Sua Glória extrínseca. JÁ QUE A GLÓRIA INTRÍNSECA E
INCRIADA É TRANSCENDENTALMENTE INDISSOCIÁVEL DO MISTÉRIO DA SANTÍSSIMA
TRINDADE.
Donde se infere que a
História parece arbitrária, mas não é! Não é, porque a Sabedoria Eterna e
Infinita de Deus Uno e Trino, podia criar ou não, mas qualquer que fosse a
decisão, ELA SÓ PODIA SER ETERNA. E o motivo formal primário dessa mesma
Criação só poderia ser a Glória extrínseca de Deus; motivo secundário,
integrado no fim primário, é a felicidade Sobrenatural da criatura espiritual.
A História, para um pensador
católico, deve ser concebida linearmente, e não circularmente, com tempos e
civilizações paralelas. Nem com isto se excluem determinadas analogias entre as
civilizações, radicadas na unidade do Género Humano. Existe, todavia, UMA
CONTINUIDADE ESSENCIAL, PROVIDENCIAL, FORMA CARACTERIZADORA DA HISTÓRIA UNIVERSAL.
Já quanto às concepções
hegelianas, aqui, uma concepção Histórico-Filosófica absolutamente errada
arruína totalmente a Fé Católica. Porque a História, para Hegel, constitui, nas
suas vicissitudes materiais, como que a face exterior da “ideia universal”; e
na sua inteligibilidade, a História seria o modo como o finito constitui um
momento na vida do “infinito”. Porque Hegel denomina “deus” a ideia universal
completamente indeterminada, e que por isso mesmo também, segundo Hegel,
constitui O NADA!?! A primeira contradição hegeliana processa-se entre o tudo e
o nada da ideia universal, e constitui a fonte de todas as outras contradições,
que em Hegel NÃO SÃO FORMALMENTE HISTORICIZADAS. Será que não se vê claramente
o como, à luz da Fé Católica, TUDO ISTO É ATEÍSMO. Todavia, os documentos da
seita conciliar apresentam-se, consistentemente, envenenados com o
hegelianismo. A síntese de toda a ideologia conciliar assume-se como o
desenvolvimento de “deus” no homem, e do homem em “deus”; consequentemente, em
última análise, “deus” só se realizaria integralmente no homem. Um verdadeiro
panteísmo, ou ateísmo aureolado e cultivado.
Sem dúvida que Deus Nosso
Senhor Se revela, positivamente, na História humana, mas revela-Se objectiva e
transcendentalmente, com a Majestade e Dignidade do Criador à Sua criatura.
Fora da Fé Católica o próprio conceito de Deus é irremediàvelmente deturpado, e
consectàriamente, também a noção de Revelação.
A continuidade da História
pressupõe um Princípio em Adão e Eva, e exige o Fim Escatológico Consumado pelo
Criador e Redentor do homem. A Eternidade não é História, porque esta é
temporal, sucessiva, dispersiva, contingente, ao passo que a Eternidade supera
infinitamente todas as vicissitudes humanas.
Todavia é na História que os
eleitos preparam a sua Bem-Aventurança Eterna, conhecendo, amando e servindo a
Deus, por entre grandes provações e perseguições onde prestam testemunho da
Verdade d’Aquele que glorificam.
Se não soubermos encontrar o
verdadeiro sentido transcendente da História Humana, então só nos restará o
absurdo e o nada de entes que se debatem sem lei e sem finalidade alguma. Ora,
esse verdadeiro sentido da História só a Fé Católica no-lo pode facultar.
PORQUE, DE DIREITO, A LEI DA HISTÓRIA É NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, EMBORA, NO
PLANO DE FACTO, A LEI DA HISTÓRIA SEJA A DO MAIS FORTE.
A História Universal é, antes
de tudo, a História da maldade humana, da recusa humana em aceitar a hegemonia
da Lei Eterna, o suavíssimo jugo da Caridade Divina. Porque ainda que os homens
não possam, de maneira alguma, eximir-se a determinadas realidades que são
constitutivas da própria Criação, eles assumem-nas em negativo infernal.
Tomemos como exemplo a realidade do poder: Os homens, depois do pecado original,
não podem subtrair-se ao ditame da sua natureza corrompida que impera a
necessidade de um poder essencialmente coactivo no seio de cada unidade
política. Todavia constituem esse poder na base de pensamentos, preconceitos e
paixões puramente humanas, e não fundamentando-se na sua origem Divina e
Incriada, tal como ensina a Santa Madre Igreja.
A História Universal poderia
ter sido boa, se os homens fossem bons, isto é, se não tivesse havido pecado
original; efectivamente, tudo no Paraíso Terrestre apontava para que este mundo
fosse sobretudo – Uma ante-câmara do Céu. Mas o pecado original e os
decorrentes pecados actuais transformam-no – Numa ante-câmara do Inferno.
Nunca olvidemos que a Santa
Madre Igreja, sociedade perfeita em sentido eminentíssimo, de Direito Divino
Sobrenatural, sobrepuja eficazmente todas as Sociedades perfeitas em sentido
deficiente, que tais são os Estados nacionais. O nacionalismo está
liminarmente condenado pela Doutrina Católica; mas não o patriotismo, que se
integra no quarto Mandamento da Lei de Deus. Mas a História, a partir do século
XIV, também testemunha as lutas fratricidas e atrozes entre estados nacionais e
nacionalistas, muitas vezes em detrimento dos interesses superiores da Santa
Igreja e das almas, ainda que procurando simular o contrário. A Cristandade
Medieval, com todas as suas sombras, lograva frequentemente evitar tais lutas,
mediante a constituição sacral da união entre a Cátedra de São Pedro e o
Império. A Autoridade suprema deste mundo, mesmo temporal, reside no Vigário de
Cristo; SÓ ESTE VÍNCULO PODE CONFERIR À HISTÓRIA, A SUA UNIDADE, A SUA VERDADE,
A SUA BONDADE. SÓ ATRAVÉS DESTA SUPREMA AUTORIDADE, NUNCA NENHUM PODER SERÁ
TIRÂNICO, PORQUE ORIGINADO E IRRADIADO, SOBRENATURALMENTE, SOB O NOME SANTÍSSIMO
DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, CRIADOR, REDENTOR E CONSUMADOR, BEM COMO CAUSA
EFICIENTE, EXEMPLAR, MERITÓRIA E FINAL DE TODA A SANTIDADE DO AGIR HISTÓRICO.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR
JESUS CRISTO
Lisboa, 25 de Junho de 2017
Alberto Carlos Rosa
Ferreira das Neves Cabral
Fonte: https://promariana.wordpress.com/2017/07/02/possuira-a-historia-em-si-mesma-algum-sentido/
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