“Portanto, ninguém
prevalecerá contra vossa Fé, meus queridos irmãos, e se em algum momento Deus
vos devolver os templos, será necessário o mesmo convencimento: a Fé é mais
importante que os templos.”
Pe. David Francisquini
Dada a abrangência das revelações feitas por Nossa Senhora em Fátima,
apontando para uma crise sem precedentes na História, seus devotos — de modo
particular aqueles que se dedicam a propagar a mensagem revelada — costumam
deparar-se com problemas de difícil solução. Por exemplo, hoje, dia 13 de julho
de 2017, faz 100 anos, em números redondos, que a Mãe de Deus se manifestou
sobre os erros da Rússia, a expansão do comunismo e a perda da fé com a
consequente perda das almas.
O que
podemos notar no nosso cotidiano é que a crise que nos atinge não é decorrência
apenas das fraquezas e debilidades próprias à natureza humana em face à virtude
e ao cumprimento dos Mandamentos. Ela vai muito além dessas contingências,
envolvendo fatores psicológicos e de almas que tocam diretamente na fé. Nesse
campo, o demônio passou a exercer um poder descomunal sobre as almas, ao erguer
barreiras à ação apostólica no sentido de cumprir os preceitos de Nosso Senhor
Jesus Cristo, consubstanciados nos Santos Evangelhos.
Como
ensina o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira no livro Revolução e
Contra-Revolução, há um endurecimento paulatino e metódico que entra como
que por osmose no espírito humano e se propaga imperceptível e sutilmente com a
força da expansão dos gases. Trata-se de um estado de espírito que se revela
nos modos de ser, nos ambientes e costumes que modelam as mentalidades. Até as
crianças são afetadas por este processo dominante que as faz perder muito cedo
a inocência, pois tudo que as rodeia vem carregado de uma febricitação e uma
eletricidade próprias às cidades modernas e as atinge ainda sem o uso completo
da razão.
Com
efeito, por causa desse estresse social, somado às velocidades siderais dos
meios de comunicação, os ambientes frequentados pelas crianças — até mesmo o
familiar, onde elas são educadas e formadas para mais tarde se integrarem à
sociedade — são atingidos por esse processo. Influenciadas assim por tendências
desordenadas, elas crescem rumo a uma causa comum revolucionária, avessas à boa
ordem das coisas criadas e desejadas por Deus, em oposição, portanto, ao que
sempre foi ensinado pela Santa Igreja.
Parece
entrar nisso um visgo do demônio, que conduz à desordem e ao caos. A essa
situação se pode aplicar esta sábia e perspicaz observação do grande educador
São João Bosco: como era possível que dois jovens até então desconhecidos um do
outro se encontrassem durante o primeiro recreio e logo se unissem para formar
um bloco de crianças ruins?
Enquanto
as crianças boas admiravam Dom Bosco [representação ao lado] e queriam
ouvi-lo, observar os Mandamentos da Lei de Deus e da Igreja, fazer apostolado
da boa causa, as más, sempre em pequenas rodas, pareciam conspirar e fazer o
contrário do que se ensinava. Não se misturavam com as demais, eram afoitas,
desobedientes, impuras, não aplicadas, indisciplinadas e pouco afeitas à
oração; numa palavra, revolucionárias, conaturais com as coisas do mundo.
Tais
crianças, quando um superior começa a explicar algo que não lhes causa
interesse imediato, tentam distrair todas as demais. Com celulares,
internet, whatsApp, vivem num frenesi de individualismo, de
egoísmo, portadores talvez de uma carga negativa ainda maior de eletricidade
que o mal carrega consigo. Deus e a Religião não lhes dizem nada, não exercem
influência alguma em seus espíritos, hábitos e costumes.
A vida
delas consiste numa correria sem fim para seguir seus instintos desordenados,
diria anarquistas. O desenlace do passado com o presente se dá num clima de
verdadeira guerra ideológica revolucionária, na qual ocorre uma ruptura
temperamental ou psicológica com vistas a criar um homem novo diametralmente
oposto às tradições e à civilização.
Para
completar o quadro, surgem as leis feitas, ora pelos legisladores, ora pelo
Judiciário, ora por decretos. Afinal, como afirmou Sêneca, há crimes
autorizados por leis e consultas plebiscitárias. Elas vão eliminando certos
padrões da cultura, cuja base era o Decálogo, para dar maior vazão às paixões
humanas desordenadas através de uma sexualidade desbragada, do homossexualismo,
do aborto, a eutanásia e da ideologia de gênero.
As
crianças de hoje não gostam de pensar, como era hábito dos pequenos pastores
que receberam a mensagem de Nossa Senhora em Fátima. Jacinta e Francisco viviam
na reflexão e na oração, e por isso se tornaram santos. O dia de hoje, 13 de
julho de 2017, se reveste de um significado muito profundo e alentador.
Enquanto de um lado a celeste Mensageira descreve a crise de nossos dias, a
perda das almas e a expansão dos erros da Rússia, de outro lado aponta o
triunfo do seu Imaculado Coração sobre esse multissecular processo revolucionário
endurecedor das consciências e dos corações, aniquilador da fé e da avidez pelo
sublime.
Devido à
expansão militar do regime bolchevista em numerosos países, os católicos
ficaram dispersos, ignorados, perseguidos, martirizados, obrigados a trabalhar em
campos de concentração. Enquanto isso, os templos católicos estavam entregues
aos mancomunados com o regime e as ideias da “Teologia da Libertação”, em voga
em nossos dias no vasto setor da Igreja que abraçou o mundo moderno, os padres
ditos progressistas. Entretanto, o que vale mais, a Fé ou templo material? Se
Nossa Senhora fala da perda da Fé e da expansão dos erros da Rússia, Ela
manifesta que a Fé é superior a qualquer coisa material, pois nos liga à Igreja
verdadeira que vem dos tempos apostólicos, como diz Santo Atanásio:
“Portanto,
quem perdeu mais, ou quem possui mais, o que retém um lugar, ou o que retém a
Fé? O lugar certamente é bom, suposto que ali se pregue a Fé dos apóstolos, é
santo, se ali habita o Santo. Vós sois os ditosos que pela Fé permaneceis
dentro da Igreja, descansais nos fundamentos da fé, e gozais da totalidade da
Fé, que permanece inabalável. Por tradição apostólica chegou até vós, e muito
frequentemente um ódio nefasto quis destruí-la, mas sem resultado; ao
contrário, esses mesmos conteúdos da Fé que eles quiseram destruir, os
destruíram. [...] Portanto, ninguém prevalecerá contra vossa Fé, meus queridos
irmãos, e se em algum momento Deus vos devolver os templos, será necessário o
mesmo convencimento: a Fé é mais importante que os templos.”
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