Seja por sempre e em todas partes conhecido, adorado, bendito, amado, servido e glorificado o diviníssimo Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria.

Nota do blog Salve Regina: “Nós aderimos de todo o coração e com toda a nossa alma à Roma católica, guardiã da fé católica e das tradições necessárias para a manutenção dessa fé, à Roma eterna, mestra de sabedoria e de verdade. Pelo contrário, negamo-nos e sempre nos temos negado a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II, e depois do Concílio em todas as reformas que dele surgiram.” Mons. Marcel Lefebvre

Pax Domini sit semper tecum

Item 4º do Juramento Anti-modernista São PIO X: "Eu sinceramente mantenho que a Doutrina da Fé nos foi trazida desde os Apóstolos pelos Padres ortodoxos com exatamente o mesmo significado e sempre com o mesmo propósito. Assim sendo, eu rejeito inteiramente a falsa representação herética de que os dogmas evoluem e se modificam de um significado para outro diferente do que a Igreja antes manteve. Condeno também todo erro segundo o qual, no lugar do divino Depósito que foi confiado à esposa de Cristo para que ela o guardasse, há apenas uma invenção filosófica ou produto de consciência humana que foi gradualmente desenvolvida pelo esforço humano e continuará a se desenvolver indefinidamente" - JURAMENTO ANTI-MODERNISTA

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Eu conservo a MISSA TRADICIONAL, aquela que foi codificada, não fabricada, por São Pio V no século XVI, conforme um costume multissecular. Eu recuso, portanto, o ORDO MISSAE de Paulo VI”. - Declaração do Pe. Camel.

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Ao negar a celebração da Missa Tradicional ou ao obstruir e a discriminar, comportam-se como um administrador infiel e caprichoso que, contrariamente às instruções do pai da casa - tem a despensa trancada ou como uma madrasta má que dá às crianças uma dose deficiente. É possível que esses clérigos tenham medo do grande poder da verdade que irradia da celebração da Missa Tradicional. Pode comparar-se a Missa Tradicional a um leão: soltem-no e ele defender-se-á sozinho”. - D. Athanasius Schneider

"Os inimigos declarados de Deus e da Igreja devem ser difamados tanto quanto se possa (desde que não se falte à verdade), sendo obra de caridade gritar: Eis o lobo!, quando está entre o rebanho, ou em qualquer lugar onde seja encontrado".- São Francisco de Sales

“E eu lhes digo que o protestantismo não é cristianismo puro, nem cristianismo de espécie alguma; é pseudocristianismo, um cristianismo falso. Nem sequer tem os protestantes direito de se chamarem cristãos”. - Padre Amando Adriano Lochu

"MALDITOS os cristãos que suportam sem indignação que seu adorável SALVADOR seja posto lado a lado com Buda e Maomé em não sei que panteão de falsos deuses". - Padre Emmanuel

“O conteúdo das publicações são de inteira responsabilidade de seus autores indicados nas matérias ou nas citações das referidas fontes de origem, não significando, pelos administradores do blog, a inteira adesão das ideias expressas.”

21/08/2012

EXPLICAÇÃO DA SANTA MISSA - PARTES XV; XVI E XVII


EXPLICAÇÃO DA SANTA MISSA
Autor: pe. Martinho de Cochem (1630-1712)
Fonte: Lista "Tradição Católica"
Digitalização: Carlos Melo

XV. A SANTA MISSA É O MAIS PODEROSO SACRIFÍCIO DE RECONCILIAÇÃO
Depois de seus filhos se terem banqueteado, Jó, levantando-se de madrugada, ofereceu um sacrifício por cada um deles, dizendo: "Talvez meus filhos tivessem ofendido a Deus no coração" (Jó, 1, 5).
Este proceder mostra que a razão natural basta para reconhecer a necessidade do sacrifício expiatório. Já era usado entre os antigos Patriarcas, antes de tornar-se uma lei no tempo de Moisés. "Se alguém pecou, tome do rebanho uma ovelhinha ou uma cabra e a ofereça, e o sacerdote reze por ele e pelo seu pecado. Se não tiver os meios para oferecer uma ovelhinha ou uma cabra, que ofereça duas rolas ou dois pombinhos: um pelo pecado e outro pelo holocausto. O sacerdote ore por este homem e por seu pecado, e este ser-lhe-á perdoado" (Lev. 5, 6).
Possuindo o Antigo Testamento tal sacrifício, a santa Igreja devia ter o seu; sacrifício tanto mais elevado, acima do primeiro, quanto o cristianismo é superior ao judaísmo. Este sacrifício expiatório é, evidentemente, o sacrifício sanguinolento da Cruz, pelo qual o mundo foi reconciliado com a Justiça divina.
Diz, pois, com muita razão, um grande mestre da vida espiritual, Marchant: "Como Nosso Senhor Jesus Cristo, sofrendo, tomou sobre si os pecados do mundo para lavá-los com o seu Sangue, assim colocamos, no altar, sobre ele, as nossas faltas como sobre uma vítima conduzida à imolação, para que as expie em nosso lugar" (Candel. myst. Tract. 4. 15, prop. d). É por isso que o sacerdote se inclina profundamente, ao pé do altar, pois representa a vítima carregada de nossas iniqüidades que se apresenta, humildemente, perante o Senhor, para obter o perdão para todos. Prostrado assim, lembra ainda Jesus Cristo no jardim das oliveiras, onde o peso de nossos crimes o prostrou, banhado em suor de sangue, e lhe arrancou o mais comovente clamor de perdão. Como ele, em seu lugar, o sacerdote intercede pelos pecados do mundo inteiro.
Belas e consoladoras palavras para o coração arrependido, e muito próprias para nos estimular o zelo em assistir à santa Missa, onde se opera o benefício de nossa reconciliação!
Na liturgia de São Tiago, lê-se: "Nós vos oferecemos, Senhor, este Sacrifício incruento pelos pecados que cometemos por ignorância". É certo que cometemos muitas faltas, das quais não nos apercebemos, que não confessamos, de que, porém, havemos de dar contas a Deus. O rei David pensava nestas faltas ignoradas, quando exclamou: "Senhor, não vos lembreis dos pecados de minha juventude e de minhas ignorâncias" (Sl. 24) e "Quem conhece seus desvios? perdoai-me os que ignoro" (Sl. 18).
Por conseguinte, se não quisermos comparecer diante de Deus cobertos destes pecados de ignorância e malícia, como de uma veste abominável, aproveitemo-nos da santa Missa que serve de expiação por nossos pecados que não conhecemos, apesar de um sincero exame de consciência.
"Pela oblação do santo Sacrifício, diz o santo Papa Alexandre I, o Senhor reconcilia-se conosco e perdoa a multidão de nossos pecados".
Deveríamos muito alongar-nos, se quiséssemos lembrar todos os textos dos santos Padres sobre este assunto. Citaremos somente a doutrina da Santa Igreja, declarada no Concílio de Trento: "O Sacrifício da Missa é, verdadeiramente, o sacrifício propiciatório, por meio do qual, se nos apresentarmos a Deus com coração reto e fé sincera, com temor e respeito, com contrição e arrependimento, obteremos misericórdia e receberemos os socorros de que temos necessidade" (Sess. 22, c. 2).
Perguntará, talvez, o piedoso leitor: Para que um sacrifício de reconciliação, visto que podemos reconciliar-nos com Deus por sincera contrição? Certamente, a contrição "perfeita" nos põe em graça, porém, onde o pecador achará esta contrição? Sentí-la por si mesmo, lhe é tão impossível quanto ao morto ressuscitar por própria vontade. Com efeito, se cada um pudesse, pelas próprias forças, provocar, em si sentimentos de penitência e arrependimento, o inferno não estaria tão povoad
o, porque cada um aplicar-se-ia a isto, na hora da morte, e morreria no estado de graça. E, se alguma vez acontecer que se achem pecadores comovidos e penetrados de compunção, durante um sermão ou uma leitura piedosa, ficai certos que tal efeito é de uma graça particular da parte de Deus, e que não a concede, ordinariamente, sem ser pelo menos solicitado. Ora, para abrir o tesouro das graças divinas, não há chave mais segura do que o santo Sacrifício do Altar. A justiça severa do Pai celestial muda-se em amor, em compaixão, em misericórdia. De que ternura para os pobres pecadores não se sente comovido, durante sua imolação, Nosso Senhor Jesus Cristo, a divina Vítima! Suas palavras a Santa Gertrudes, meditadas atentamente, serão para nós de grande consolação. Foi, numa quinta-feira santa, no momento em que se cantavam, no coro, as palavras: "Foi oferecido porque quis", que Nosso Senhor disse à Santa: "Se acreditas que ofereci a Deus, meu Pai, somente porque quis me oferecer, crê também que desejo agora oferecer-me por cada pecador a Deus, meu Pai, tão prontamente como me ofereci então pela salvação de todos os homens em geral. Assim não há ninguém, por carregado de pecados que esteja, que não possa esperar o perdão, oferecendo a minha Paixão e Morte, contanto que acredite poder, efetivamente, obter o fruto e o dom da graça. Deve persuadir-se de que a memória de meus sofrimentos unida a uma fé viva e verdadeira penitência é o mais poderoso remédio contra o pecado" (Livro 4, c. 25).
Em outra ocasião, disse o divino Mestre: "Minha filha, venho à Missa com tal mansidão que não há, entre os assistentes, pecador tão pervertido que não suporte, perdoando-lhe com alegria, se o desejar" (Lib. Revel. c. 18).
Oh!, admirável Sacrifício do altar, quão grande é tua força! Quantos pecadores não convertestes da morte eterna! Que gratidão não devemos a Jesus Cristo, que nos torna tão fácil a reconciliação com Deus! Que loucura, pois, a de não aproveitar este grande Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo!
"O homem, diz ele, perdoa a injúria que recebeu, se o ofensor lhe oferece um presente equivalente ou lhe presta um relevante serviço. Da mesma forma, Deus nos perdoa pela honra que lhe rendemos, assistindo, piedosamente, à santa Missa, e pelo dom sublime que lhe fazemos da oblação do Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo".
Se, na santa Missa, oferecermos a Deus tão justamente irritado contra nós, as virtudes, os méritos, a Paixão e a Morte de seu dileto Filho, mudamos-lhe os sentimentos a nosso respeito, mais depressa do que Jacó mudou o coração de Esaú, visto que os nossos dons são mais preciosos aos olhos de nosso Deus. "Toda a cólera e indignação de Deus, diz Alberto Magno, dissipa-se diante desta oferta".
Convém fazer aqui uma pergunta: Pela virtude da santa Missa um pecador "impenitente" será reconciliado com Deus? Em outros termos, uma pessoa em estado de pecado mortal que assistir à santa Missa, que a fizer celebrar, ou pela qual alguém a mandasse celebrar, recobraria a graça por este simples fato? Não, porque a graça somente se recupera por uma sincera contrição.
Então, perguntará alguém, que fruto tira o pecador do Sacrifício? É-lhe muito útil, respondemos, tanto para o temporal como para o espiritual. Preserva-o de muitas desgraças e atrai-lhe bênçãos, porque Deus nunca "deixa o menor bem sem recompensa. Certamente a recompensa da santa Missa é, antes de tudo, espiritual, porém, não sendo o pecador susceptível desta graça superior, Deus, na infinita bondade, concedeu-lhe, em primeiro lugar, o bem inferior dos favores temporais. Não obstante, na ordem espiritual, a vantagem fica ainda mais preciosa. Ensinam os Santos que a Santa Missa atrai, sobre a alma, a graça necessária, para reconhecer e detestar os pecados mortais, dispondo-a para o arrependimento e a confissão. Esta graça não opera, em todos, com a mesma eficácia. Este converter-se-á logo, aquele não voltará senão lentamente, conforme a docilidade do coração, para deixar agir as influências divinas".
A fim de tornar ainda mais clara esta doutrina, dizemos: Na Missa, Nosso Senhor derrama uma bálsamo salutar sobre o coração ulcerado do pecador. Este bálsamo Jesus o compôs, sobre a Cruz, de seus sofrimentos, de suas lágrimas, de seu Sangue. Se o pecador deixar agir este remédio precioso, a cura é certa; se em sua malícia infernal, arrancá-lo da chaga, a morte eterna também é certa. A malícia humana não tira ao santo Sacrifício o caráter de reconciliação, tem, porém, o terrível poder de recusar esta reconciliação que Deus lhe oferece.
Entre os pecadores que se achavam ao pé da Cruz, alguns somente se converteram batendo no peito e dizendo: "Na verdade, este era Filho de Deus" (Mt. 27, 54). Os outros, obstinados na malícia, repeliram o raio de luz e misericórdia que brotava do Coração traspassado de Jesus. Entretanto, no dia de Pentecostes, a palavra de São Pedro achou o terreno preparado, e três mil pessoas tornaram-se, pelo seu convite, discípulos do divino Mestre.
Diz ainda Marchant: "A santa Missa excita-nos ao arrependimento ou faz-lhe nascer o desejo. Isto acontece, às vezes, durante a celebração do santo Sacrifício, outras vezes, mais tarde. Muitos pecadores converteram-se por graça especial, sem pensar que a devem à virtude da santa Missa, outros permaneciam impenitentes, porque rejeitam a graça ou abusam dela" (Candel. myst. tract. lect. 15, prop. 4).
A alma, porém, que suspira por ver-se livre de seus pecados, obterá, pela santa Missa, a graça de reconciliar-se com Deus por uma sincera contrição e confissão, porque a santa Igreja ensina: "Se assistirmos à santa Missa com sentimentos ou desejos de contrição, Deus reconcilia-se conosco, concede-nos a graça da penitência e perdoa-nos os crimes, por abomináveis que sejam" (Concílio de Trento, Sess. 22).
Que palavras consoladoras para todos os pecadores e almas desanimadas! Digam, pois, todos, na santa Missa, a Deus: "Senhor, por este augusto Sacrifício, deixai-Vos aplacar e atraí, para Vós, a minha vontade rebelde". Deus escutará esta oração, e, pelo amor de seu Filho imolado sobre o altar, inundará vossa pobre alma com uma chuva de graças.
Objetar-nos-á alguém com a Sagrada Escritura: "A própria oração de quem não cumpre a lei será execrável aos ouvidos de Deus" (Prov. 21, 14). A isto responde São Tomás de Aquino: "Ainda que a Sagrada Escritura nos diga, em várias passagens, que a oração de uma alma, em estado de pecado mortal, não agrada ao Senhor, Deus não rejeita a que sai de um coração sincero".
Supondo mesmo que Deus despreza a oração do pecador, quando este lhe oferece o Sacrifício da Missa, não pode deixar de aceitá-lo com prazer. Repara bem: não dizemos que a oração do pecador, durante a santa Missa, é agradável a Deus, mas, sim, o próprio Sacrifício da Missa que o pecador oferece à divina Majestade. Se te achasses em extrema necessidade, e se um inimigo te mandasse dez mil reais por intermédio de seu servo, sem dúvida alguma, aceitarias este presente, dizendo contigo: Apesar de vir de meu pior inimigo, muito me servirá. - Da mesma maneira Deus, em presença do Corpo e do Sangue de seu Filho, oferecido por um pecador, estremecerá de emoção e dirá: Ainda que este presente me venha de um inimigo de quem tenho horror, não posso deixar de estimá-lo e aceitá-lo. E, como o pecador, por esta oferta, me dá grande honra, quero recompensá-lo com a oferta de minha graça; se aceitá-la, esquecerei todas as suas injúrias e dar-lhe-ei minha amizade.
Coragem, pois, oh pecador desanimado! tua salvação não é impossível; vê Jesus quebrar as cadeias de teus maus costumes enquanto assistes ao santo Sacrifício; segue-lhe as divinas inspirações e tua alma tornar-se-á mais branca do que a neve.
Talvez pergunte o benévolo leitor: Se uma pessoa piedosa assiste à Missa e a oferece em louvor de um pecador, que fruto lucra este?
Santa Gertrudes no-lo ensina. Um dia ela pediu a Deus, durante a santa Missa, que comovesse os pecadores com sua divina graça, para que se convertessem mais cedo, mas não ousou rezar pelos que morrem na impenitência. Nosso Senhor, porém, repreendeu-a, dizendo: "A dignidade e a presença de meu Corpo Imaculado e de meu Sangue precioso não merecem conduzir à vida melhor aqueles que estão no caminho da perdição?". Animada por estas palavras, a Santa pediu logo: "Suplico a Vossa divina Majestade, disse, conceder o estado de graça também às pessoas que vivem em pecado e estão em perigo de perecer". A estas palavras Nosso Senhor, cheio de bondade, respondeu: "A confiança pode facilmente obter tudo" e, em seguida, assegurou-lhe ter tirado diversas almas do caminho da perdição (Lib. III, c. 9).
Pais cristãos, não esmoreçais jamais, se vossas exortações, vossos bons exemplos ficam, aparentemente, sem resultado para as almas que vos são confiadas; recorrei à santa Missa e oferecei-a pelos que vos são caros, e a hora do triunfo virá, tanto mais depressa quanto mais completa for a vossa confiança.
Outro bem inestimável que recolhemos do santo Sacrifício da Missa é a expiação dos pecados veniais, que ofendem a Deus muito mais do que se pensa.
São Basílio torna saliente a malícia deste pecado em uma parábola: "Que se diria, pergunta ele, de um filho que racionasse assim: Acautelar-me-ei para não trair meu pai ou cometer contra ele um atentado qualquer que o obrigue a deserdar-me; fora disso farei como me agradar, quer meu procedimento lhe agrade quer não!"
Eis a nossa atitude para Deus, quando cometemos o pecado venial de caso pensado. É como se disséssemos: Sei perfeitamente, que dependo, inteiramente, de Deus, que tudo lhe devo, que me cumula de benefícios todos os dias; também não quero ofende-lo gravemente, porém, enquanto se trata de pequenas imperfeições, deve suportá-las. Minha vaidade lhe desagrada, entretanto não estou disposto a renunciá-la; meus movimentos de cólera lhe são desagradáveis, não quero, porém, aplicar-me a domá-los; contrário à sua vontade, sei muito bem, é perder horas inteiras na ociosidade, falar a torto e a direito, rezar com indolência, apegar tão estreitamente meu coração às coisas mundanas, perder as ocasiões de fazer o bem, contudo não tenho vontade de combater estes defeitos.
Oh Deus, que terrível seria o nosso julgamento, se não tivéssemos para apaziguar Vossa indignação, em face de um tal procedimento, um sacrifício de reconciliação, "a fim de que, por sua virtude, nos obtenha a remissão das faltas quotidianas" (Concílio de Trento, sess. 22. c. 1). Estas faltas quotidianas são, evidentemente, os pecados veniais.
Diz um escritor, eclesiástico muito explícito a respeito deste assunto: "O santo Sacrifício se renova cada dia, porque pecamos cada dia e cometemos faltas inerentes à fraqueza humana". Nosso Senhor, é verdade, deu-nos outros meios para reparar essas faltas diárias, como a oração, o jejum, a esmola; nenhuma, entretanto, é tão eficaz como a santa Missa.
Teologicamente falando, também o pecado venial não obtém perdão sem a contrição. Mas é certo que, assistindo à santa Missa, para obtermos a expiação de nossos pecados, aí trazemos, pelo menos implicitamente, a contrição e o desejo de sermos purificados. Segundo o padre Gobat, os que assistem à santa Missa obtêm o perdão dos pecados veniais, mesmo quando a contrição é imperfeita.
Soares é da mesma opinião: "Jesus Cristo instituiu, escreve ele, o santo Sacrifício da Missa e lhe apropriou os méritos de sua morte, para que, em virtude de seus merecimentos, os pecados quotidianos nos sejam perdoados" (Tom. 3 dist. 79, sect. 5).
São João Damasco escreve: "O Sacrifício imaculado da Missa é a reparação de todo o dano, e a purificação de todas as manchas" (Lib. 4 c. 14). Isto Nosso Senhor o prometera pelo profeta Ezequiel: "Derramarei sobre vós água pura e sereis purificados de todas as vossas culpas" (Ez. 36, 25). Esta água purificadora brotou do Sagrado Coração de Jesus, donde jorra, sob o golpe da lança do soldado, segundo estas palavras proféticas: "Neste dia haverá uma fonte aberta na cada de David, para lavar as manchas do pecador" (Ez. 12, 7). Desta fonte sagrada, irrompe, na santa Missa em borbotões, o precioso Sangue, a água simbólica, da qual todos podem aproximar-se e purificar-se. Sua abundância é inesgotável. Nunca a sua entrada está vedada.
Oh, quantos pecadores já vieram e beberam, com alegria, das águas da salvação! A todos convida São João, dizendo: "O que tem sede venha; e o que quiser receba, gratuitamente, a água da vida" (Ap. 22, 17).
Poderias ficar afastado de uma fonte tão maravilhosa, cujo movimento salutar se faz sentir em cada Missa? De hora em diante, não te apressarás em chegar ao pé do altar, animado dum ardente desejo de reaver, para tua alma, as vestes brilhantes da pureza batismal?

XVI. A SANTA MISSA É O MAIS DIGNO SACRIFÍCIO DE SATISFAÇÃO
Bem que o sacrifício de satisfação esteja compreendido no sacrifício de conciliação, existe, entretanto, uma notável diferença entre os dois: o sacrifício de reconciliação torna Deus favorável ao pecador, ao passo que, pelo sacrifício de satisfação, resgatamos as penas temporais. Parece, pois, conveniente tratar de cada um em capítulo particular.
O pecado produz um duplo mal: o da "culpa" e o da "pena". A "culpa" faz-nos perder o favor de Deus e é perdoada pelo sacramento da Penitência. A "pena" poderia ser também remida, inteiramente, pela Confissão, mas, em geral, por causa da imperfeição com a qual se recebe este Sacramento e, talvez, devido a certas circunstâncias produzidas por nossos pecados, é somente remida em parte.
Ora, tudo o que fica da pena devida ao pecado, podemos expiar, neste mundo, pela oração, por vigílias, jejuns, esmolas, peregrinações, recepção freqüente dos santos Sacramentos, e sobretudo, ganhando indulgências. Se morremos sem ter, completamente, satisfeito nossa dívida, iremos expiá-la no purgatório.
As penitências da vida presente custam muito à pobre natureza, e a lembrança do purgatório nos aterra com razão. Não haverá pois, um meio de satisfazer, inteiramente, neste mundo, e não podemos evitar o purgatório, ou pelo menos, abreviar-lhe a duração e diminuir a intensidade de suas chamas?
Sim, existe um meio, - e esse meio de pagar toda a dívida é fácil: oferecendo o santo Sacrifício da Missa, o divino Criador ficará satisfeito. Lembra-te, porém, quando assistes ao santo Sacrifício da Missa, que é tua propriedade, conforme a vontade de Deus. É o que afirma o sacerdote em cada santa Missa, quando, voltando-se para os assistentes, lhes diz: "Orai, meus irmãos, para que o meu e o vosso sacrifício seja agradável a Deus, o Pai onipotente".
Compenetrado, pois, do valor do tesouro que se acha em teu poder, dize ao teu Criador: "Quanto vos devo, Senhor? cem? mil? dez mil talentos? Reconheço minha grande dívida e estou pronto a satisfazê-la, não por mim, mas pelos ricos méritos de vosso divino Filho, presente aqui sobre o altar. Ofereço-vos este tesouro, tirai daí quanto for preciso para satisfazer minha dívida".
Que todos se apliquem a fazer valer este tesouro, e os pobres pecadores se apressem, logo que caírem, a assistir à santa Missa, a oferecer este santo Sacrifício em expiação de sua falta! Deus lhes ajudará a fazer uma boa Confissão, apagando-lhes as penas temporais e preservando-os das reincidências.
A compreensão e meditação das verdades que acabamos de expor, despertará, sem dúvida, em teu espírito, legítima curiosidade de saber em que medida as penas temporais nos são perdoadas pela piedosa audição da santa Missa.
Não podemos responder melhor a esta pergunta do que lembrando, novamente, o infinito valor do Sacrifício de nossos altares. Escuta o que diz o Padre Lancício: "O valor do santo Sacrifício da Missa é infinito pela própria virtude. Apesar de ser agora oferecido pelas mãos dos sacerdotes, o preço lhe é tão elevado como quando, a última ceia, Jesus Cristo em pessoa o oferecia a seu Pai, visto que ele fica sendo Sacrificador e Vítima. Este primeiro Sacrifício, como todas as obras que Jesus Cristo praticou sobre a terra, eram de um valor infinito em virtude da dignidade de sua divina Pessoa. Segue-se daí que o santo Sacrifício da Missa é ainda e será sempre de um valor infinito" (Lib. II de Missa, n. 294).
O Padre Lancício demonstra, em seguida, como, apesar desse valor infinito da santa Missa, seu mérito não se aplica aos fiéis de maneira infinita. Não fosse assim, uma única Missa seria suficiente para obter-nos a remissão de tudo quanto devemos à eterna justiça e toda penitência tornar-se-ia desnecessária. Concorda isto com o ensino da santa Igreja afirmando que, pela virtude do santo Sacrifício, muitas das penas podem ser remidas e até todas, se nossa devoção for muito grande.
Entretanto, não se deve interpretar falsamente estas explicações e dizer: Visto que a santa Missa é de valor infinito e constitui o meio mais fácil de ficar quite com a divina Justiça, ouvi-la-ei da melhor forma possível, dispensando-me de fazer penitência: isto seria querer enganar-se a si próprio, visto que as penas temporais não são remidas senão quando nos tornamos dignos da remissão, por um coração contrito e humilhado; ora, a contrição, o arrependimento sincero do pecado levar-te-á sempre às diversas práticas da penitência.
A santa Missa não torna, pois, inúteis as outras boas obras, antes nos obriga a fazê-las, para nos tornar mais dignos de obter, pelo santo Sacrifício do Altar, a remissão de uma grande parte de nossas penas. Por isso, diz o venerável Luis de Argentina: "As obras de penitência não são supérfluas. Pelo contrário, são muito necessárias, pois contribuem para a correção dos defeitos e a emenda da vida". Sim, as penitências afastam-nos do pecado, pondo um freio às nossas paixões, tornam-nos mais prudentes e mais vigilantes, fazem desaparecer os maus costumes pelos atos das virtudes contrárias.
Aqui te ouvimos perguntar: "Qual é, pois, a eficácia da santa Missa pelo alívio das almas do purgatório?". Caro leitor, Deus não julgou necessário revelá-lo à sua Igreja, como também não revelou a extensão da pena aplicada a este ou aquele pecado. Mas, quando consideramos que nada de impuro entra no céu e que o purgatório é um cárcere donde ninguém sai sem ter pago até o último ceitil, e se, de outro lado, rememoramos o caráter e a duração das penas impostas outrora pela santa Igreja, devemos concluir que a demora das almas no purgatório é prolongada. A incerteza neste ponto estabeleceu o uso dos aniversários, cerimônias que podem ser mantidas durante séculos. O que sabemos infalivelmente é que podemos socorrer às almas do purgatório pela oração e, sobretudo, pelo santo Sacrifício da Missa. Logo, se amamos estas almas, - e quem não as amaria? - façamos celebrar por elas a santa Missa, ou assistamo-la em sua intenção.
Os teólogos acreditam, comumente, que as almas do purgatório tiram tanto mais fruto do santo Sacrifício quanto maior lhe foi o zelo em assistí-lo sobre a terra. Sê, pois, esperto, caro leitor, e diminui à tua alma, quanto for possível, a duração das chamas do purgatório. Supõe que, tendo cometido um grande crime, te condenassem a ficar estendido meia hora sobre uma grelha em brasa, ou a ouvir uma santa Missa. Sem dúvida, precipitar-te-ias para a igreja, para aí ouvir não uma, mas diversas missas, a fim de não incorreres no suplício do fogo.
Ora, não é provável que, na tua morte, tua alma vá diretamente para as alegrias do céu; é quase certo que, antes de chegar ao gozo eterno, deverás purificar-te pelas penas do purgatório. Que leviandade, pois, descuidares-te da santa Missa que diminui, suaviza e apaga, tão eficazmente, as chamas do purgatório.
Se insistires ainda para saber qual a eficácia de uma Missa que fazes celebrar por tua alma, responderemos: Quem faz celebrar o santo Sacrifício obtém, naturalmente, mais graça para expiação de suas penas temporais do que o que se limita a assistí-lo, porque os frutos do santo Sacrifício lhe pertencem, em grande parte, por direito, quer da parte de Deus, quer da parte do sacerdote. A soma exata, porém, que se lhe concede, Deus não a revelou. Quem, não contente de mandar celebrar a santa Missa, também a vai assistir, receberá lucro aumentado, porque, ainda que obtenha ausente, a parte de graças que o sacerdote lhe aplica, ficará privado da vantagem que lhe seria atribuída se a assistisse.
Segue-se uma conseqüência geralmente ignorada. Quando mandares celebrar uma Missa, seja para honrar um Santo, seja para obter uma graça, sem determinar a quem as graças "satisfatórias" deverão ser aplicadas, estas voltarão ao tesouro da Igreja, salvo se Deus, por compaixão pela ignorância, muitas vezes involuntária, dispõe delas em teu favor. Seja, portanto, bem determinada tua intenção, e dize a Nosso Senhor: Desejo mandar celebrar esta Missa em honra de tal Santo... para obter a graça ... e vos peço que apliqueis as graças satisfatórias do santo Sacrifício a mim ou a tal alma... Desta maneira teu proveito será duplo, pois honras o Santo de tua devoção e favoreces a própria alma, pagando as dívidas das penas temporais, como também qualquer outra, em cujo favor aplicares a virtude satisfatória da santa Missa.
Estas considerações são muito próprias para inflamar nosso amor pela santa Missa: sendo possível, ouçamo-la todos os dias. Tenhamos, nos domingos e dias santos, a devoção de, além da Missa de obrigação, assistir ainda a outras.
Deus não esquece nenhuma das nossas faltas, portanto hás de escolher: "aut poenitendum aut ardendum - ou expiar ou queimar". Não será melhor satisfazer aqui, do que cair, carregado de dívidas, nas mãos da divina Justiça? Se, pois, as mortificações das almas heróicas te espantam, procura supri-las pelo meio agradável e fácil da piedosa assistência à santa Missa.

XVII. A SANTA MISSA É A OBRA MAIS EXCELENTE DO ESPÍRITO SANTO
Quase em cada página deste livro, entrevimos alguma relação da santa Missa com Deus Pai e Deus Filho. Estudemos agora a parte que toma a terceira Pessoa divina no santo Sacrifício.
Os dons e graças, com que o Espírito Santo cumula a Igreja e a alma cristã, são inumeráveis: não há língua que possa especificá-los. O Espírito Santo é amor e misericórdia: aplica-se, continuadamente, em acalmar a Justiça divina e em preservar os pecadores da condenação eterna. É quem começou e há de acabar a obra de nossa santificação. Começou-a, quando, por sua operação, o Verbo divino se fez carne no seio imaculado de Maria Santíssima, que a alma de Jesus Cristo uniu a seu corpo, a divindade à humanidade. Terminou-a, comunicando-se, no dia de Pentecostes, aos apóstolos e discípulos, e pela conversão das almas que ficaram insensíveis ao espetáculo de Cristo moribundo. Hoje, este mesmo Espírito habita no coração dos verdadeiros fiéis. Não abandona, inteiramente, aqueles que o ofendem, mas fica-lhes à porta do coração e esforça-se para reconquistá-los.
Esta operação à redenção, quem não chamará uma obra grande e magnífica? Não obstante mantemos o título do presente capítulo e dizemos: a santa Missa é a obra mais excelente do Espírito Santo.
Todos os teólogos consideram o mistério da Encarnação, isto é, a união da divindade com a humanidade em uma pessoa, como a maior das maravilhas. Esta maravilha, como todas as obras exteriores de Deus, é comum às três Pessoas divinas. A santa Igreja, porém, e o ensino dos santos Padres, atribuem-na, com especialidade, ao divino Espírito Santo, a quem se deve atribuir, com maioria de razão, a obra prima do amor.
Apesar disso, o milagre que se efetua sobre o altar ultrapassa o primeiro, porque o Homem-Deus aí se aniquila até ocultar-se na menor partícula da Hóstia sagrada. Ora, na liturgia de São Tiago, lê-se, expressamente, antes da fórmula da consagração: "Mandai, Senhor, sobre estes dons, o Verificador, o Divino, o Eterno, que, um convosco, Deus Pai, e com o vosso Filho único, reina, a fim de que, por sua santa, salutar e gloriosa presença, este pão seja santificado e transubstanciado no Corpo, e este vinho, no Sangue precioso do vosso Cristo".
Oração semelhante encontra-se na liturgia de São João Crisóstomo: "Abençoai, Senhor, este pão, mudai-o no Corpo adorável do vosso Cristo. Abençoai o santo cálice e transformai, pelo Espírito Santo, o que contém, no precioso Sangue de Cristo".
Nos primeiros missais, a transubstanciação é sempre atribuída ao Espírito Santo, que se invoca, que se chama para efetuar esta obra, como efetuou a obra da Encarnação, segundo a palavra do Anjo Gabriel dirigida a Maria Santíssima: "O Espírito Santo descerá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá de sua sombra" (Lc. 1, 35). O sacerdote indica esta participação da terceira Pessoa divina, quando, erguendo os braços, suplica-lhe que desça do céu, dizendo: "Vinde, Santificador onipotente, Deus eterno, e abençoai este sacrifício preparado em honra de vosso santo nome" (Missal Romano: Ofertório).
Santo Ambrósio ora da mesma maneira antes da Missa: "Fazei, Senhor, que a invisível Majestade de vosso Santo Espírito desça sobre ele, como desceu, outrora, sobre as vítimas dos nossos antepassados". Esta descida do Espírito Santo é claramente descrita por Santa Hildegardes: "Enquanto o sacerdote, diz ela, ornado de vestes sacerdotais, caminhava para o altar, vi descer do céu uma claridade deslumbrante que cercou o altar, durante a celebração da Missa. Ao "Sanctus" uma chama muito forte caiu sobre o pão e o vinho, penetrando-os como os raios do sol penetram o vidro. Entretanto, elevou as duas espécies ao céu para trazê-las em breve; não houve mais então senão a Carne e o Sangue de Jesus Cristo, se bem que permanecessem, aparentemente, o pão e o vinho. Enquanto considerava as santas espécies, vi passar, diante de meus olhos, tais quais se cumpriram na terra, a Encarnação, o Nascimento, a Paixão e Morte do Filho de Deus.
O antigo Testamento possuía duas belas figuras deste mistério; uma, o sacrifício de Arão: "A glória do Senhor, diz a Sagrada Escritura, apareceu a toda a assembléia do povo e um fogo que saiu, devorou o holocausto e as gorduras que estavam sobre o altar, e o povo, vendo-o, louvou ao Senhor, prostrando-se com o rosto em terra" (Lev. 1, 23).
A outra se realizou na consagração do templo: "Salomão, ao acabar a prece, viu o fogo descer do céu e consumir os holocaustos e as vítimas, e a Majestade de Deus encheu toda a casa. Os filhos de Israel, vendo descer o fogo e a glória do Senhor, sobre esse Templo, prostravam-se, a face em terra, adorando e louvando o Altíssimo, e diziam: "Quanto é bom o Senhor! sua misericórdia é eterna" (II Paralip. 7, 1 e 3).
Compreendes bem, agora, a infinita bondade do Espírito Santo? Não é uma prece que dirige por nós a Deus Padre, são gemidos inenarráveis. Confia, pois, em um amigo tão fiel, retribuindo-lhe, e visto que ora por ti, sobretudo na santa Missa, assiste-a, algumas vezes, também em sua honra e em ação de graças por seus benefícios.


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