EXPLICAÇÃO DA SANTA MISSA
Autor: pe. Martinho de Cochem (1630-1712)
Fonte: Lista "Tradição Católica"
Digitalização: Carlos Melo
XVIII. A SANTA MISSA
É A MAIS DOCE ALEGRIA DA MÃE DE DEUS E DOS SANTOS
Nosso Senhor disse,
uma vez, ao Bem-aventurado Alano: "Da mesma maneira que a divina Sabedoria
escolheu uma virgem, entre todas, para ser a Mãe do Salvador, assim instituiu o
sacerdócio para distribuir ao mundo, em todo o tempo, os tesouros da redenção
pelo santo Sacrifício da Missa e pelos santos Sacramentos. Eis a maior alegria
da minha Mãe, as delícias dos Bem-aventurados, o socorro mais seguro dos vivos
e a melhor consolação das almas do purgatório" (Alanus rediv. part. E, c.
27).
A Mãe de Deus e todos
os Santos gozam duma felicidade dupla: da bem-aventurança essencial e da
bem-aventurança acidental. A primeira consiste na vida e na posse de Deus,
conforme o grau de glória, em que foram confirmados, no momento de sua entrada
no céu. Esta bem-aventurança essencial não pode aumentar nem diminuir. A
bem-aventurança acidental consiste nas horas particulares que Deus, os outros
Santos ou os homens rendem aos felizes habitantes do céu. Podemos acreditar,
por exemplo, que, quando lhes celebramos a festa aqui na terra, eles recebam,
no céu, honras particulares e todas as nossas orações e boas obras feitas em
sua honra lhes sejam apresentadas por nossos Anjos, como um ramalhete de
perfume delicioso.
O Evangelho indica
esta crença claramente, por estas palavras de Nosso Senhor: "Assim vos
digo que haverá júbilo entre os Anjos de Deus por um pecador que faz
penitência" (Lc. 15, 10). Esta alegria renova-se pelo bom Pastor, pelos
Anjos e pelos Santos a cada volta de uma ovelha desgarrada, porém, cessa logo
que o pecador deixa de novo o aprisco por uma recaída no pecado.
Este curto
esclarecimento fará compreender em que sentido a santa Missa é a maior alegria
de Maria Santíssima.: é a maior alegria acidental e ultrapassa todas as outras
felicidades desta ordem.
Se, em honra da
Rainha do Céu, recitasse o terço, o ofício, as ladainhas, ou entoasse cânticos,
enquanto um outro assistisse, piedosamente, à santa Missa, este cumpriria um
ato de religião muito superior e causaria um prazer, infinitamente maior, à
Santíssima Virgem.
O que torna ainda a
santa Missa muito cara à Mãe de Deus, é o zelo que tem pela glória de Deus, que
a divina Majestade faz consistir, sobretudo, na salvação das almas. Pelo santo
Sacrifício do Altar, prestamos à augusta Trindade a única homenagem digna dela
e lhe oferecemos, ao mesmo tempo, o preço da redenção do gênero humano. Ainda
uma vez, que prazer agradável, suave, perfeito para Maria Santíssima ver-nos
cercar o altar, onde seu amado Filho é adorado, onde choramos os pecados, onde
contemplamos a dolorosa Paixão e onde o precioso Sangue é derramado sobre
nossas almas!
Daí ainda expor a
vantagem da santa Missa para os outros Santos.
Devemos homenagem aos
Santos. São amigos de Deus que os honra; seguem a Cristo vestido de branco,
"porque disso são dignos" (Apoc. 3, 4) e é deles que Nosso Senhor
diz: "Quem vos glorifica, a mim glorifica" (II Reis, 2, 35). Durante
a vida fugiram das honras, desprezaram-se a si próprios, sofreram, com
paciência, as injúrias, os insultos, as perseguições dos maus. Por essa razão,
Deus manifesta-lhes a inocência e a virtude e quer que sejam reverenciados por
toda a cristandade.
Sob a inspiração do
Espírito Santo, a Igreja exprime a admiração pelos filhos vitoriosos com os
ofícios próprios do breviário, com cânticos, prédicas, procissões,
peregrinações, mas, principalmente, pelo Sacrifício da Missa. - "Assim
será honrado a quem o Rei dos Céus quiser honrar".
Na verdade, a honra
mais excelente é prestada aos Santos pelo santo Sacrifício do Altar, se
mandamos celebrá-lo, ou se o assistimos com a intenção de aumentar-lhes a honra
acidental. - Para honrar a um príncipe, dá-se, às vezes, uma representação
teatral, e, ainda que, na peça, não se faça menção dele, o príncipe não deixa
de experimentar prazer. Da mesma maneira, apesar de, na santa Missa,
representar-se apenas a vida e a paixão do divino Salvador, os Santos sentem
grande alegria e delícias singulares, quando este espetáculo se realiza em sua
honra, e todo o céu se regozija.
Quando o sacerdote pronuncia
o nome dos Santos, o coração se lhes enternece, porque, observa São João
Cirsóstomo, tendo o rei alcançado a vitória, o povo, querendo exaltar-lhe os
feitos, nomeará também os companheiros d'armas do herói que, valentemente,
destroçou o inimigo. Da mesma forma, é grande honra para os Santos serem
nomeados, em presença de seu divino Mestre, do qual se celebram, como em
triunfo, a paixão e morte, ouvindo louvar as vitórias alcançadas sobre o
inimigo infernal. O escritor Molina diz sobre este assunto: "Não podemos
ser mais agradáveis aos Santos do que oferecendo o santo Sacrifício em seu nome
à Santíssima Trindade, em reconhecimento das graças que receberam, em lembrança
dos méritos adquiridos" (Tract. 4, c. 10).
Observa que não se
oferece o santo Sacrifício a São Miguel nem aos outros Anjos, mas a Deus Pai.
Não encontrarás, em nenhum lugar, que o Santo Sacrifício possa ser oferecido à
Maria Santíssima, aos Anjos ou aos Bem-aventurados. É sempre oferecido em honra
da Santíssima Trindade; apenas se menciona o nome dos felizes habitantes do
céu, porque, diz Santo Agostinho, "não é aos Mártires que erigimos
altares, mas unicamente a sua memória". Qual o sacerdote que disse jamais
no altar em que se acham as relíquias dos Santos: "A vós, São Paulo, a
vós, São Pedro, oferecemos o Sacrifício?". Nunca. Jamais.
O Concílio de Trento
usa quase dos mesmos termos: "Se bem que a Igreja tenha o costume de
celebrar a santa Missa em hora dos Santos, não pretende oferecê-la aos Santos,
porém a Deus, que os coroou". Também o sacerdote não diz:
"Ofereço-vos este sacrifício, oh! São Pedro, São Paulo", mas
agradecendo a Deus a vitória concedida a tal Santo pede àqueles de quem
celebramos a festa na terra que intercedam por nós no céu.
Aproveita, pois, caro
leitor, do excelente poder de aumentar a felicidade acidental dos habitantes do
céu, oferecendo o santo Sacrifício em honra da Santíssima Trindade e, na
elevação da Sagrada Hóstia, dize a Deus: "Ofereço-Vos Vosso querido Filho
para maior glória e alegria do Bem-aventurado N. ...".
Para este fim, antes
de ir à igreja, tem cuidado de consultar o calendário sem jamais esquecer teu
padroeiro, e, na hora da morte, bendirás o dia em que abraçaste esta prática.
XIX. A SANTA MISSA É
O MAIOR BEM DOS FIÉIS
Os Santos Padres e os autores de obras religiosas falam, tantas
vezes e com tanta abundância, sobre a utilidade da santa Missa, que é
impossível resumi-los; não citaremos, pois, senão alguns textos.
São Lourenço Justiniano diz: "Nenhuma língua humana poderá
exprimir os frutos de graças e bênçãos que atrai o oferecimento do santo
Sacrifício da Missa. O pecador aí acha a reconciliação com Deus, o justo uma
justificação mais ampla; as virtudes aumentam, os pecados são perdoados, os
vícios extirpados, os méritos multiplicados, os embustes do demônio
descobertos" (Lib. de obedientia).
O Padre Antônio Molina, religioso cartucho, deixou-nos em seus
escritos expressões muito próprias para inflamar o coração de um grande amor
pela santa Missa. "Nada, diz ele, é tão vantajoso ao homem nem tão útil às
almas do purgatório quanto o santo Sacrifício da Missa. Sua excelência é tal,
que todas as outras obras e a prática das melhores virtudes não têm o menor
valor, comparadamente" (Tratado sobre a dignidade do sacerdote).
O sábio Fornero, Bispo de Hebron, exprime-se do modo seguinte:
"Aquele que, com a alma isenta do pecado mortal, assiste à santa Missa com
devoção, adquire maior número de méritos do que se cumprisse, pelo amor de
Deus, as obras mais peníveis, as peregrinações mais longínquas. Isto é evidente,
visto que as obras pias tiram todo o valor e dignidade de seu objeto; ora, que
haverá de mais nobre, mais precioso e mais divino do que o santo Sacrifício da
Missa?" (Sermão 23).
Marchand assinala a dignidade de nosso Sacrifício nestes termos:
"A Igreja católica não possui homenagem mais perfeita para oferecer a
Deus, nada tem de mais agradável para apresentar a Maria Santíssima, aos Anjos
e aos Santos; nada mais salutar para os justos e para os pecadores do que o
santo Sacrifício da Missa".
No prefácio do missal, a Igreja exorta o sacerdote "a ter uma
alta idéia da excelência da santa Missa, e a ficar convencido de que, por uma
única oblação, rendemos a Deus onipotente uma homenagem mais agradável do que
praticando toda a sorte de virtudes e suportando todos os sofrimentos". -
Sabes por quê, caro leitor? - É porque, na santa Missa, Jesus Cristo pratica
todas as virtudes e as oferece a seu Pai com a soma dos méritos da paixão, e
estes atos de louvor, de amor, de adoração, de reconhecimento que do Coração de
Jesus se elevam ao céu, durante sua imolação sobre o altar, ultrapassam,
infinitamente, o culto dos Anjos e dos Santos.
Enfim, a prova mais evidente é o testemunho da Igreja que diz:
"Reconhecemos que os cristãos não podem fazer cousa mais santa e mais
divina do que este estupendo mistério, no qual a Vítima vivificadora, que nos
reconcilia com Deus Pai, é oferecida, diariamente, pelas mãos do sacerdote
sobre o altar" (Concílio de Trento, sess. 22).
A santa Igreja quer dizer com isto que o ato mais divino que os
sacerdotes possam efetuar, é a celebração da santa Missa, e para os fiéis o ato
mais santo é ouví-la, ajudá-la, mandá-la celebrar e unir-se, intimamente, às
intenções do sacerdote.
Caro leitor, abre os olhos e vê, abre os ouvidos e ouve, abre,
sobretudo, o coração e goza da consoladora doutrina de tua Mãe, a santa Igreja.
Podes fazer grande número de boas e excelentes obras, nenhuma, porém, será tão
salutar, útil e meritória para tua alma quanto a piedosa assistência à santa
Missa. Como o sol ultrapassa em brilho e em força, todos os planetas, e é mais
útil à terra que todos os outros astros, da mesma maneira, a audição da santa
Missa sobrepuja, em dignidade e em méritos, todas as outras ações do dia. E
depois de tudo isto considerado, como terás ainda a coragem de assistir ao
santo Sacrifício com tantas distrações ou perdê-lo sob ligeiro pretexto?
Se, não obstante, tua preferência fosse pela meditação da Paixão e
Morte de Nosso Senhor, exortar-te-íamos a fazê-la durante a santa Missa, pois,
estes mistérios aí são renovados. Desejas entreter-te com Jesus Cristo? Ei-lo
presente sobre o altar, Homem e Deus. Não julgues que as cerimônias da santa
Missa possam perturbar-te a oração; não é distração, mas antes verdadeira
atenção, seguir os movimentos do celebrante e lembrar-se da significação das
cerimônias.
XX. A SANTA MISSA
AUMENTA EM NÓS A DIVINA GRAÇA E A GLÓRIA CELESTE
É uso, nas cidades e nos arrabaldes, haver mercados e feiras, onde
se vendem toda a espécie de objetos úteis.
A própria Igreja, e o céu também, têm, diariamente, um mercado.
Que oferecem? A graça divina e a glória celeste. Mas são cousas preciosas; onde
achar bastantes meios para comprá-las? Não tenhas nenhum receio pois podem-se
adquirir gratuitamente. O profeta Isaías no-lo afirma: "Vós que não tendes
dinheiro, vinde, aproximai-vos, comprai sem troca" (Is. 55, 1). Com
efeito, o Senhor as dá sempre gratuitamente, porém, raras vezes, com tanta
abundância como na santa Missa, o que provaremos neste capítulo.
Em primeiro lugar, porém, devemos compreender bem o que é a graça.
A graça é um dom, um socorro sobrenatural que Deus nos concede em
virtude dos méritos de Jesus Cristo. Distinguem-se duas espécies de graça: a
"santificante" e a "atual".
A graça "santificante" é um estado de alma que nos torna
justos aos olhos de Deus e nos dá o direito de herdar os bens eternos. Esta
graça, elevando-nos acima da nossa própria natureza, nos torna participantes da
natureza divina. Segundo o Concílio de Trento, não é somente "a remissão
de nossos pecados com favor sensível da bondade de Deus", porém "um
estado divino, uma luz brilhante, que nos embeleza a alma", a qual
permanece neste feliz estado até que percamos a graça pelo pecado mortal.
A graça "atual" é um socorro passageiro, pelo qual Deus
ilumina-nos o entendimento e comove-nos a vontade, para evitar o mal e fazer o
bem. Se nossa alma está morta, a graça atual ajuda a recuperar a graça
santificante; se, pelo contrário, está na amizade de Deus, a graça atual,
ajudando-nos a fazer boas obras, aumenta, de mais a mais, esta amizade divina.
São Tomás de Aquino ensina que "a graça concedida a uma alma
vale mais que o mundo inteiro e tudo quanto encerra". O próprio céu com o
seu esplendor não lhe pode ser comparado.
Grandiosos são os efeitos da graça de Deus: reveste, em primeiro
lugar, a alma de uma beleza sem igual. Comparando com este esplendor o sol, as
estrelas, as flores, parecem embaciadas, descoradas, sem encantos. Se te fosse
dado vê uma alma em estado de graça, tudo o que então tivesse algum brilho para
ti, aparecer-te-ia, depois, sem encanto, segundo a palavra do Bem-aventurado
Blósio: "Se a beleza de uma alma em estado de graça pudesse ser
contemplada, ficaríamos arrebatados".
Em segundo lugar, a graça é o laço da caridade entre Deus e o homem.
Por ela o Criador e a criatura tornam-se, um para a outra, ternos e confiantes
amigos, segundo a palavra de Jesus Cristo: "Não vos chamarei mais servos,
e, sim, amigos" (Jo. 15, 15).
Ora, que há de maior, de mais excelente do que ser chamado amigo
de Jesus Cristo e sê-lo realmente? Esta dignidade ultrapassa a natureza humana,
porque tudo serve ao Senhor e nada existe que não esteja sob seu domínio. É por
isso que Deus eleva os servos a uma dignidade sobrenatural, chamando-os seus
amigos e tratando-os como tais. E quando, por nossa infelicidade, pelo pecado,
quebramos o laço desta terna amizade, Deus não se afasta inteiramente, fica
esperando à porta de nossa alma, bate docemente e pede para entrar: "Eis
que estou à porta e bato: se alguém me ouvir a voz e me abrir a porta, entrarei
em sua casa e cearei com ele e ele comigo" (Apoc. 3, 20).
Enfim, terceiro, a alma santificada é de tal modo enobrecida, que
se torna a própria filha de Deus. Que honra para o filho de um mendigo ser
adotado por um príncipe! Que honra infinitamente maior sê-lo pelo soberano
Senhor!
A este pensamento São João exclama como em êxtase:
"Considerai, o amor que nos mostrou o Pai foi tal que chegamos a ser
chamados filhos de Deus e o somos" (I Jo. 3, 1). E São Paulo acrescenta:
"Se somos filhos, também somos herdeiros, verdadeiramente, herdeiros de
Deus, e coerdeiros de Cristo" (Rom. 8, 17).
Ser herdeiro de Deus! que sorte, que glória! Nada poderia
fazer-nos melhor compreender a excelência da graça desta adoção divina, que é,
ao mesmo tempo, a prova manifesta do amor infinito de Deus por suas pobres
criaturas.
Ora, esta graça santificante é, sem cessar, aumentada pela nossa
correspondência à graça atual, pela qual Deus orna a alma de virtudes, de
piedade, cumula-a de consolações, inspira-lhe santos desejos, concede-lhe a
alegria espiritual, protege-a, fortifica-a, governa-a, une-se-lhe, enfim
estreitamente e lhe dá tudo o que contribui para a vida e a piedade.
Estas explicações ensinar-te-ão a conhecer o valor infinito da
graça.
Agora provaremos, até a evidência, primeiro, que a santa Missa
aumenta poderosamente a graça, depois, que nos aumenta a glória futura, e
finalmente, insistiremos sobre a Comunhão espiritual como sobre uma parte da
santa Missa muito própria para enriquecer-nos a alma de novas graças.
Um piedoso autor dizia: "Não somente o sacerdote, mas também
os que mandam dizer a Missa ou a assistem, podem, conforme sua piedade, merecer
um acréscimo de graça ou de glória, e este benefício lhe é abonado em virtude
de sua cooperação ao santo Sacrifício.
O sacerdote é o primeiro beneficiado; os que mandam dizer a Missa,
por si ou por outrem, tiram igualmente os preciosos frutos e um aumento de
graças, se estão na amizade de Deus. Finalmente, os assistentes têm parte, não
somente pela devoção para com o santo Sacrifício, como também em recompensa das
virtudes múltiplas que exercem; assistindo-a, renovam, no coração, a dor de
haver pecado, cada vez que batem no peito; exercem a fé, reconhecendo a
presença real de Jesus na santa Hóstia e sua imolação pelos pecados dos homens.
Esta crença é o fundamento de nossa salvação. Além da fé, produzem ainda atos
de adoração interior e, se bem que estes sentimentos sejam devidos a Nosso
Senhor, contudo nosso bom Mestre não os julga menos agradáveis e neles se
compraz particularmente.
Se, na elevação da Hóstia e do Cálice, ofereces este dom divino ao
Pai eterno, fazes um ato de grande merecimento e, se oras pelos vivos e pelos
mortos, acrescentas um ato de caridade; finalmente, se participas do Corpo e do
Sangue de Jesus Cristo, ao menos pela Comunhão espiritual, mereces graças
particulares.
Além disso, por causa do desprezo dos hereges pelo divino
Sacrifício do Altar que consideram idolatria, Deus olha, amorosamente, para os
que reparam estes insultos por sua piedosa assistência. Os Santos Padres falam,
freqüentemente, nas recompensas especiais, concedidas a este ato de reparação.
São Cirilo diz: "Os dons espirituais serão, abundantemente, distribuídos
aos que assistirem à santa Missa". São Cipriano nota por sua vez: "O
pão sobrenatural e o cálice consagrado contribuem para a vida e a salvação do
homem". Também o Papa Inocêncio III afirma: "Pela eficácia do santo
Sacrifício, todas as virtudes nos são aumentadas e os frutos da graça nos são
profusamente distribuídos". São Máximo, exorta aos cristãos "a não
desprezarem a santa Missa, porque as graças do Espírito Santo nela são
comunicadas aos assistentes".
Citamos ainda o testemunho de Osório: "Deus Padre vos dá, na
santa Missa, seu Filho único, em quem reside, unida à humanidade, a plenitude
da divindade e onde se acham ocultos todos os tesouros da sabedoria. Dando-nos
seu Filho, dá-nos tudo".
Sim, dá-nos Jesus com seus méritos, suas satisfações, seu corpo e
sua alma. Que poderia dar mais? E que meio mais cômodo poderia inventar, para
permitir-nos participar destes tesouros infinitos? Certamente, se tua alma está
na indigência, deves, unicamente, ao teu imperdoável torpor, à tua preguiça
espiritual.
Oh delicioso e incompreensível dom da glória celeste para a qual
fomos criados e pela qual nosso coração suspira ardentemente! Como poderemos
tratar de aumentá-la, visto que o Apóstolo exclama: "Os olhos não viram,
nem o ouvido, nem jamais veio à mente do homem, o que Deus preparou para
aqueles que o amam!" (Cor. 2, 9). A santa Igreja ensina, é verdade, que as
boas obras aumentam a graça e a glória futura, porém não indica o grau desta
glória.
Contentemo-nos, pois, com as palavras de Nosso Senhor a Santa Gertrudes:
"O cristão aumenta os méritos para a vida eterna cada vez que assiste,
devotamente, à santa Missa". É desta recompensa eterna que o Evangelho
diz: "Derramar-vos-ão, no seio, uma boa medida, bem cheia e recalcada e
transbordante". (Lc. 6, 38).
Efetivamente, na Missa merecemos um novo grau de glória. O santo
Sacrifício é como uma escada celeste: cada vez que o fiel assiste, sobe um
degrau e torna-se mais belo, mais resplandecente, mais glorioso, mais estimável
aos olhos de Deus e dos Santos. Cada vez que assistes à Missa, o céu o registra
e te assegura um grau de glória mais elevado. Esta glória pode ser roubada pelo
pecado mortal, mas, pela extrema bondade de Deus, ela te será restituída após
uma humilde confissão. Que glória, que riqueza, que felicidade te esperam lá em
cima, se todos os dias assistires ao santo Sacrifício!
"Aquilo que de tribulação nos vem no presente, momentâneo e
leve, produz em nós, de modo incomparável e maravilhoso, um peso eterno de
glória". Grava, cristão, estas palavras no coração, e convence-te de que,
se o Apóstolo promete tão bela recompensa aos sofrimentos momentâneos, Deus
reserva graças muito mais insignes aos fiéis que assistem à santa Missa, porque
a esta prática ligam-se uma multidão de pequenas mortificações, e bem as
conheces. A igreja acha-se afastada de tua casa; é necessário levantar-se mais
cedo; o caminho é mau e perigoso no inverno, o vento frio sopra-te no rosto; no
verão, o sol dardeja sobre ti os ardentes raios; depois, o ofício é, algumas
vezes longo, o fervor desaparece, um trabalho urgente te espera, um lucro te
escapa. Mas, coragem! Na santa Missa, há tantos títulos de glória, tantos
tesouros para o céu!
Depois de haver declarado ser o desejo da santa Igreja que todos
os fiéis fizessem a santa Comunhão na Missa que assistem, o santo Concílio de
Trento recomenda, instantemente, aos que se reconhecem indignos da recepção da
Eucaristia, fazer, pelo menos, a Comunhão espiritual que consiste no ardente
desejo de receber Jesus Cristo. Esta prática não seria tão recomendada, se não
fosse proveitosíssima às nossas almas e um dos principais meios de aumentar-nos
a graça divina e a glória celeste.
Quando Jesus Cristo estava na terra, fez muitas curas pela
imposição das mãos; a muitos, porém, restituiu a saúde de longe, sem estar
presente, como, por exemplo, à filha da Cananéia e ao servo do centurião. A
infinita generosidade de Nosso Senhor não se limita às almas que se aproximam
dignamente de seu Sacramento de amor, estende-se também as que não podem
recebê-lo sacramentalmente. Não diz ele: "Eu sou o pão da vida; o que vem
a mim não terá mais fome, e o que crê em mim, não terá mais sede"? Ir a
Jesus é crer nele e amá-lo. Quem for a ele deste modo será saciado. Jesus
Cristo não ligou sua graça à santa Comunhão, de forma que não possa concedê-la
sem a recepção do Sacramento. Uma Comunhão espiritual, feita com ardentes
desejos, produz-nos mais graças que uma Comunhão sacramental feita sem fervor.
A intensidade de nossos desejos é a medida da graça que nos vem pela Comunhão
espiritual.
Mas, como fazer para bem comungar espiritualmente? O sábio
Fornero, bispo de Hebron, no-lo ensina: "Todos os que ouvem a santa Missa
com boas disposições, são nutridos, de maneira mística, com o corpo de Jesus
Cristo. A virtude da santa Missa é tão grande que basta unir-se espiritualmente
ao sacerdote, para participar com ele do fruto do Sacrifício" (Sermão 83).
- Esta doutrina é muito consoladora, para os que desejam fazer a Comunhão
espiritual e não sabem fazê-la. Basta dizer: Uno minha intenção com a do
sacerdote, e desejo, comungando com ele, participar do santo Sacrifício.
"Assim como os nossos membros que não comem, acrescenta o
bispo de Hebron, nutrem-se tão bem como a boca, da mesma maneira, os que
assistem à santa Missa nutrem-se, espiritualmente, por intermédio do sacerdote,
sem comungar realmente. Também é justo que o que está em espírito com o
celebrante à mesa do Senhor, seja nutrido em espírito com ele. Se os convidados
de um rei não saem com fome da sala do festim, como nosso divino Salvador
deixaria ir embora, sem ficarem saciados, os que vieram adorá-lo na santa
Missa!"
A santa Missa; a grande ceia do Senhor; aí, cada um recebe sua
parte a não ser que feche, obstinadamente, a boca de sua alma diante da mão de
Jesus Cristo, que lhe oferece o Corpo em alimento.
A Comunhão espiritual é, portanto, santa e salutar. A santa Igreja
diz expressamente: "Aqueles que, pelo desejo, comem deste pão celeste,
sentem-lhe o fruto e a utilidade, em virtude da fé viva que a caridade torna
fecunda" (Conc. de Trento, sessão 13).
XXI. A SANTA MISSA É
A ESPERANÇA SEGURA DOS MORIBUNDOS
Somente quando se experimentam os horrores da morte, se pode saber
quanto é amarga; não obstante, aprendemos a conhecê-la um pouco, cada vez que
assistimos a agonia de um de nossos irmãos. Então sentimos quanto Aristóteles,
grande sábio da antiga Grécia, tinha razão em dizer: "Entre todas as
coisas horrorosas, a mais horrorosa é a morte".
Na verdade é, não somente porque é a separação de nossa alma do
nosso corpo, mas, principalmente porque é a porta da eternidade e nos lança
diante do justo tribunal de Deus. A viva representação destas duas cousas
terríveis inspira ao moribundo um tal terror, que o coração lhe treme e um suor
frio lhe orvalha a fronte.
Que fazer em semelhante agonia? Como consolar esta alma? Como
encorajá-la em que segurança a devemos pôr, a fim de que o demônio não a
arraste ao desespero? Ah!, que se lance no seio da infinita misericórdia de
Deus, e sua esperança não será baldada.
São Gregório nos diz: "Aquele que fez tudo quanto pode, deve
confiar na divina Misericórdia, porque ela não o abandonará; o que, ao
contrário, mostrou-se negligente, não terá razão de confiar nela, pois
enganar-se-ia". - Mas, onde está a alma que foi sempre, perfeitamente, fiel?
Haverá uma sobre mil? Todos, tais como somos, não poderíamos viver melhor, se
quiséssemos?
Com que pode contar o moribundo na última hora? Afirmamos que não
há para ele mais legítimo motivo de esperar do que a santa Missa, se, durante a
vida, amou-a e ouviu-a devota e assiduamente. O profeta David confirma esta
crença: "Oferecei sacrifícios de justiça e esperai no Senhor" (Sal.
4, 6).
Este sacrifício não é outro senão a santa Missa, pela qual nos
desobrigamos com a divina Justiça, vantagem que não tinham os sacrifícios da
antiga Lei. Eis porque não se podia, propriamente falando, chamá-los
sacrifícios de justiça. David não se dirige, com essa exortação, aos sacerdotes
judeus, porém a todos os cristãos e aos sacerdotes católicos, para que ponham
todo o zelo na celebração da santa Missa, a fim de aplacar a cólera de Deus e
apagar a pena ligada ao pecado.
Tudo isto é tão justo que o salmo conclui dizendo: "O coração
em paz, por causa do sacrifício, dormirei meu último sono e repousarei para a
eternidade porque me tendes, Senhor, fortalecido nesta esperança".
Fala em nome do cristão moribundo, indicando-nos com o que devemos
contar, com mais certeza, na hora da morte. A santa Igreja assim o compreende
por estas palavras do Ofício dos mortos: "Requiescant in pace - Senhor,
concedei-lhes o repouso" - Deste modo, aquele que, durante a vida,
ofereceu, com o sacerdote, o "sacrifício de justiça", pode esperar
firmemente na misericórdia divina e dizer com David, no momento da morte:
Senhor, cheio de confiança no santo Sacrifício, dormirei em paz e me deitarei
no túmulo até que raia o grande dia da eternidade. Não temo a morte eterna,
porque em vós lancei a âncora da minha esperança. Não, Senhor, não posso crer
que me haveis de repelir, visto que Vos tenho oferecido, freqüentemente, o
"Sacrifício da Justiça", cuja virtude purificadora e santificante há
de ter apagado meus pecados e satisfeito as exigências de vossa Justiça. Eis
minha doce esperança: sossegado por ela, já não receio comparecer ao vosso
rigoroso tribunal.
É de fé que os méritos da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus
Cristo constituem as bases mais legítimas das nossas esperanças. Ora, na santa
Missa, estes méritos são distribuídos a todos os assistentes em estado de
graça. Apoiar-se, cheio de confiança, sobre a santa Missa, é, pois, apoiar-se
sobre os méritos do próprio Salvador.
Poderia alguém objetar: Todo o moribundo, qualquer que seja, pode
contar com a Paixão e Morte do divino Salvador, visto que sofreu por todos, a
fim de satisfazer por todos os pecados e preservar-nos da condenação eterna.
Respondemos: De que servirão à nossa alma os frutos da Paixão e
Morte de Jesus Cristo, se não aplicados? E, como revestí-la, deles, mais
seguramente, senão pela santa Missa, visto que a santa Igreja ensina "que
os frutos do Sacrifício cruento da Cruz são distribuídos, da maneira mais
abundante, pelo Sacrifício não cruento da santa Missa, e esta foi instituída,
para que a virtude salutar do Sacrifício da Cruz fosse aplicada em remissão de
nossos pecados quotidianos" (Conc. Trento, Sess. 22).
O cristão que espera desta maneira, não se firma, nem em si, nem
nos próprios méritos, porém em Jesus Cristo, nas orações, nos méritos do divino
Salvador, dos quais participa no santo Sacrifício do Altar; apóia-se sobre o
dom perfeitíssimo que, pelas mãos do sacerdote, ofereceu ao Pai celeste;
apóia-se sobre o precioso Sangue que jorra do altar sobre sua alma; confia na
oração de Jesus, em que pode e deve confiar.
Esta confiança é tão infalível que Sanchez diz: "A santa
Missa nos autoriza a uma esperança da vida eterna tão segura que, para crer,
nos é precisa a graça da fé". - Isto compreenderam bem os Santos e, por
isso, preparavam-se para a morte pela devota celebração, ou audição da santa
Missa.
Fortificada pelo pensamento da santa Missa, a alma deixa este
mundo e vai apresentar-se no tribunal de Deus.
Achar-se em presença do justo Juiz! Homem altivo, qual será a tua
situação? Que postura terás então?
Nossos pecados se mostrarão sob formas horríveis; nossas boas
ações ali também estarão, para nos animar e, se tivermos ouvido muitas Missas,
virão sob figuras encantadoras que, pela agradável presença, nos dissiparão os
terrores. "Vamos acompanhar-te ao tribunal do justo Juiz, - dirão - nós,
as missas que, fielmente, assististe; lá te desculparemos; testemunharemos tua
piedade para o santo Sacrifício; diremos quantos pecados apagaste, quantas
dívidas saldaste. Tem coragem! Acalmaremos a cólera do justo Juiz e te
obteremos o perdão"
Que consolação para tua alma opressa, achar amigos tão fiéis, e
tão poderosos advogados!
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