Em
nossos dias é comum ouvir falar de diálogo inter-religioso, como se fosse um
imperativo do Evangelho a Igreja abrir-se ao mundo para entrar em contato com
todas as religiões e correntes ideológicas, sempre com o propósito de servir a
humanidade e tornar a vida aqui na terra menos dura.
Dizem
os adeptos do diálogo inter-religioso que entre os sérios problemas da
atualidade que a Igreja poderia ajudar a resolver irmanada com as várias
“religiões e filosofias da humanidade” estão o problema da paz, da
“discriminação”, da “intolerância” e da “exclusão das minorias”.
Como
se vê, é uma visão completamente humanista, antropocêntrica, utópica, que sonha
com um paraíso na terra, que não vê a religião como uma virtude moral que tem
por objeto o culto devido a Deus. É uma visão que, por princípio, desvirtua a
religião, desligando-a do problema da salvação da alma.
Santo
Tomás de Aquino na Suma Teológica, na primeira questão do tratado da virtude da
religião, pergunta se a religião ordena o homem exclusivamente a Deus e é
categórico, taxativo, na resposta afirmativa. E respondendo à objeção baseada
na epístola de São Tiago (a religião pura e imaculada aos olhos de Deus Pai é
visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e conservar-se incorrupto
neste século), diz que a religião tem
duas espécies de atos: uns são atos próprios e imediatos pelos quais o homem se
ordena só a Deus, tais como sacrifícios, adoração etc; outros atos da religião
são praticados mediante outras virtudes sobre os quais a virtude da religião
impera ordenando-os ao serviço divino. (Cf. Suma Teológica, IIª IIªe. q.81, a.
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Para
São Tomás, portanto, a verdadeira virtude da religião é incompatível com uma
visão humanista em que o homem esteja no centro de tudo. Para ele, é
inadmissível uma frase muito em voga “o homem é a estrada da Igreja”, como se a
Igreja devesse ouvir sempre as aspirações e caprichos do homem que quer ser a
sua própria lei ou transformar a religião numa espécie de terapia em que o
culto divino se converteria em sessão de cura dos males da mente e do corpo, em
que o pecado seria reduzido a mera doença que aflige apenas o homem mas não
ofende a Deus. Enfim, uma religião que consola o homem mas se esquece de Deus.
Para Santo Tomás, mediante a virtude da religião, todas as atividades humanas,
por mais seculares que sejam, de alguma forma se ordenam à glória de Deus e à
salvação das almas. É inconcebível uma ação filantrópica que faça abstração do
fim último. É inconcebível que a Igreja trabalhe para o bem do mundo, como a
ONU, relegando a segundo plano sua missão própria.
Aliás,
na exposição da virtude da religião, São Tomás simplesmente desenvolve com
argumentos filosóficos e teológicos aquilo que o simples bom senso diz e já
tinha sido explanado pelos clássicos e pelos padres da Igreja. Por exemplo,
Santo Agostinho diz: o homem bom usa das coisas da terra para gozar de Deus, o
iníquo serve-se de Deus para gozar dos bens da terra.
Por
isso, o propalado diálogo inter-religioso só pode ser legítimo e justificado se
se subordinar à missão específica da Igreja, i. e., a salvação da alma. A
Igreja tem de ser corajosa aos olhos de todo o mundo ao afirmar-se solenemente
como único e exclusivo meio de salvação disposto por Deus para todos o homens.
Tem de ser corajosa e formular um juízo negativo sobre todas as religiões
falsas, que, como tais, são antes um obstáculo para a salvação do que um meio
para chegar à verdade, não obstante a boa fé e a ignorância invencível de
muitos dos seus sequazes. A verdade é intolerante. O bem é exclusivista. Bonum ex integra causa, malum ex quocumque
defectu, diz Santo Tomás. Não basta dizer que, apesar de deficientes, as
grandes religiões da humanidade contêm elementos de verdade, defendem valores
da ordem moral natural ou que há pontos de união entre a Igreja e as religiões
falsas. O mal não pede a exclusão do bem, pede um lugar ao seu lado, dizia o
pe. Dulac. Hoje, o mundo relativista e maçônico da ONU pede à Igreja que aceite
a seu lado todas as religiões para construir um novo mundo, um mundo em que o
homem ocupe o lugar de Deus ou invente um deus a serviço do Homem.
Por
essa razão, com clarividência, o grande papa Gregório XVI, na encíclica Mirari vos (1832), diz: “Nosso Senhor
Jesus Cristo enviou seus apóstolos para pregar e ensinar a todas as nações, ou
seja, derrubar todas as religiões existentes, a fim de então estabelecer em
toda a terra a única religião cristã e assim substituir todas as crenças dos
diferentes povos pela unidade do dogma católico expresso na pregação Dele
próprio. E prevendo, na sua presciência, os movimentos e divisões que sua
doutrina iria incitar, Ele não se deteve e não permitiu concessões, mas
declarou que tinha vindo ao mundo para trazer não a paz, mas a espada, a fim de
separar o bem do mal e a verdade da mentira.”
A
conclusão só pode ser uma: um suposto diálogo inter-religioso honesto, sério,
franco, útil não pode esconder a verdade fundamental: a Igreja trabalha para a
conversão de todos os homens à única religião verdadeira, que é ela mesma, pois
que fundada pelo Verbo Encarnado. Outro diálogo inter-religioso só pode ser um
sofisma ou artifício da maçonaria para implantar a religião do Homem-deus.
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