“Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para
os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam”.
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Fotos: http://sertransmontano.pt |
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Primeira Capela |
A primeira Capela após ser atacada com explosivos
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Casa de Lúcia (Casa dos Pastorinhos) Foto: http://www.portugaltours.com.pt |
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O milagre do sol capturado em foto |
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Túmulos de Francisco e Jacinta |
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Jornal maçônico O Século com reportagem sobre o milagre acontecido em 13 de outubro de 1917.
Edição do dia 17 de outubro de 1917 * |
* O SÉCULO NOTICIA: MILAGRE DO SOL - Fonte: http://www.deuslovult.org/2009/05/19/milagre-de-fatima-jornal-o-seculo/
“O Século” noticia:
O MILAGRE DO SOL
O jornal “O Século”
publica um artigo de Avelino de Almeida, onde este descreve o que presenciou na
Cova da Iria no dia 13 de Outubro de 1917.
COISAS ESPANTOSAS!
COMO O SOL BAILOU AO MEIO DIA EM FÁTIMA
As aparições da Virgem – Em que consistiu o sinal do céu – Muitos milhares de
pessoas afirmam ter-se produzido um milagre – A guerra e a paz
Lucia, de 10 anos; Francisco, de 9, e Jacinta, de 7, que na charneca de Fátima,
concelho de Vila Nova de Ourem, dizem ter falado com a Virgem Maria
OUREM, 13 de Outubro
Ao saltar, após demorada viagem, pelas dezasseis horas de honrem, na estação de
Chão de Maçãs, onde se apearam tambem pessoas religiosas vindas de longes
terras para assistir ao “milagre”, perguntei, de chofre, a um rapazote do
“char-á-bancs” da carreira se já tinha visto a Senhora. Com seu sorriso
sardoico e o olhar enviezado, não hesitou em responder-me:
– Eu cá só lá vi
pedras, carros, automoveis, cavalgaduras e gente!
Por um facil
equivoco, o trem que nos devia conduzir, a Judah Ruah e a mim, até à vila, não
apareceu e decidimo-nos a calcoffiar corajosamente cêrca de duas leguas por não
haver logar para nós na diligência e estarem, desde muito, afreguezadas as
carriotas que aguardavam passageiros. Pelo caminho, topámos os primeiros
ranchos que seguiam em direção ao local santo, distante mais de vinte
kilometros bem medidos.
Homens e mulheres
vão quasi todos descalços – elas com saquiteis à cabeça, sobrepujados pelas
sapatorras; eles abordoando-se a grossos vara-paus e cautelosamente munidos
tambem de guarda-chuva. Dir-se-hiam, em geral, alheados do que se passa à sua
volta, n”um desinteresse grande da paizagem e dos outros viandantes, como que
imersos em sonho, rezando n”uma triste melopeia o terço. Uma mulher rompe com a
primeira parte da ave-maria, a saudação; os companheiros, em côro, continuam
com a segunda parte, a suplica. N”um passo certo e cadenciado, pisam a estrada
poeirenta, entre pinhaes e olivedos, para chegarem antes que se cerre a noite ao
sitio da aparição, onde, sob o relento e a luz fria das estrelas, projetam
dormir, guardando os primeiros Jogares junto da azinheira bemdita – para no dia
de hoje verem melhor.
À entrada da vila,
mulheres do povo a quem o meio já infêtou com o virus do céticismo, comentam,
em tom de troça, o caso do dia:
– Então vaes vêr
ámanhã a santa?
– Eu, não. Se ela
ainda cá viesse!
E riem-se com
gosto, emquanto os devotos proseguem indiferentes a tudo o que não seja o
objetivo da sua romagem. Em hourem só por uma amabilidade extrema se encontra
aposentadoria. Durante a noite, reunem-se na praça da vila os mais variados
veículos conduzindo crentes e curiosos sem que faltem velhas damas vestidas de
escuro, vergadas já ao peso dos anos, mas faiscando-lhes nos olhos o lume
ardente da fé que as animou ao ato corajoso de abandonar por um dia o
inseparavel cantinho da sua casa. Ao romper d”alva, novos ranchos surgem
intrépidos e atravessam, sem pararem um instante, o povoado, cujo silencio
quebram com a harmonia dos canticos que vozes femininas, muito armadas, entoam
n”um violento contraste com a rudeza dos tipos…
O sol nasce, mas o
cariz do céu ameaça tormenta. As nuvens negras acastelam-se precisamente sobre
as bandas de Fátima. Nada, todavia, detem os que por todos os caminhos e
servindo-se de todos os meios de locomoção para lá confluem. Os automoveis
luxuosos deslisam vertiginosamente, tocando as buzinas; os carros de bois
arrastam-se com vagar a um lado da estrada; as galeras, as vitorias, os
caleches fechados, as carroças nas quaes se improvisaram assentos vão ajoujados
a mais não poderem. Quasi todos levam com os farneis, mais ou menos modestos,
para as bocas cristãs a ração de folhelho para os irracionaes que o “poverelo”
de Assis chamava nossos irmãos e que cumprem valorosamente a sua tarefa…
Tilinta uma ou outra guiseira, vê-se uma carrocinha adornada de buxo; no
emtanto, o ar festivo é discreto, as maneiras são compostas e a ordem absoluta…
Burrinhos choutam à margem da estrada e os ciclistas, numerosissimos, fazem prodígios
para não esbarrar de encontro aos carros.
Pelas dez horas, o
ceu tolda-se totalmente e não tardou que entrasse a chover a bom chover. As
cordas de agua, batidas por um vento agreste, fustigam os rostos, encharcando o
macadame e repassando até os ossos os caminhantes desprovidos de chapeus e de
quaesquer outros resguardos. Mas ninguem se impaciente ou desiste de proseguir
e, se alguns se abrigam sob a copa das arvores, junto dos muros das quintas ou
nas distanciadas casas que se debruçam ao longo do caminho, outros continuam a
marcha com uma impressionante resistencia, notando-se algumas senhoras cujos
vestidos colados aos corpos, por efeito do impeto e da pertinácia da chuva,
lhes desenham as fórmas como se tivessem saído do banho!
O ponto da charneca
de Fátima, onde se disse que a Virgem aparecera aos pastorinhos do logarejo de
Aljustrel, é dominado n”uma enorme extensão pela estrada que corre para Leiria,
e ao longo da qual se postaram os veículos que lá conduziram os peregrinos e os
mirones. Mais de cem automoveis alguem contou e mais de cem bicicletas, e seria
impossível contar os diversos carros que atravancaram a estrada, um d”eles o
auto-omnibus de Torres Novas, dentro do qual se irmanavam pessoas de todas as
condições sociaes.
Mas o grosso dos
romeiros, milhares de creaturas que foram de muitas leguas ao redor e a que se
juntaram fieis idos de varias províncias, alemtejanos e algarvios, minhotos e
beirões, congregam-se em tomo da pequenina azinheira que, no dizer dos
pastorinhos, a visão escolhera para seu pedestal e que podia considerar-se como
que o centro de um amplo circulo em cujo rebordo outros espectadores e outros
devotos se acomodam. Visto da estrada, o conjunto é simplesmente fantástico. Os
prudentes camponios, abarracados sob os chapeus enormes, acompanham, muitos
d”eles, o desbaste dos parcos farneis com o conduto espiritual dos hinos sacros
e das dezenas do rosario.
Não ha quem tema
enterrar os pés na argila empapada, para ter a dita de ver de perto a azinheira
sobre a qual ergueram um tosco portico em que bamboleiam duas lanternas…
Altenam-se os grupos que cantam os louvores da Virgem, e uma lebre, espavorida,
que galga matagal em fóra, apenas desvia as atenções de meia duzia de zagaletes
que a alcançam e prostram à cacetada…
E os pastorinhos?
Lucia, de 10 anos, a vidente, e os seus pequenos companheiros, Francisco, de 9,
e Jacinta, de 7, ainda não chegaram. A sua presença assinala-se talvez meia
hora antes da indicada como sendo a da aparição. Conduzem as rapariguinhas,
coroadas de capelas de flôres, ao sitio em que se levanta o portico. A chuva
cae incessantemente mas ninguem desespera. Carros com retardatários chegam à
estrada. Grupos de freis ajoelham na lama e a Lucia pede-lhes, ordena que
fechem os chapeus. Transmite-se a ordem, que é obedecida de pronto, sem a
minima relutância. Ha gente, muita gente, como que em extase; gente comovida,
em cujos labios secos a prece paralisou; gente pasmada, com as mãos postas e os
olhos borbulhantes; gente que parece sentir, tocar o sobrenatural…
A criança afirma
que a Senhora lhe falou mais uma vez, e o céu, ainda caliginoso, começa, de
subito, a clarear no alto; a chuva pára e presente-se que o sol vae inundar de
luz a paizagem que a manhã invernosa tomou ainda mais triste…
A hora antiga” é a
que regula para esta multidão, que calculos desapaixonados de pessoas cultas e
de todo o ponto alheias ás influencias misticas computam em trinta ou quarenta
mil creaturas… A manifestação miraculosa, o sinal visivel anunciado está
prestes a produzir-se – asseguram muitos romeiros… E assiste-se então a um
espectáculo unico e inacreditavel para quem não foi testemunha d”ele. Do cimo
da estrada, onde se aglomeram os carros e se conservam muitas centenas de
pessoas, a quem escasseou valor para se meter à terra barrenta, vê-se toda a
imensa multidão voltar-se para o sol, que se mostra liberto de nuvens, no
zenit. O astro lembra uma placa de prata fosca e é possivel fitar-lhe o disco
sem o minimo esforço. Não queima, não cega. Dir-se-hia estar-se realisando um
eclipse. Mas eis que um alarido colossal se levanta, e aos espectadores que se
encontram mais perto se ouve gritar:
– Milagre, milagre!
Maravilha, maravilha!
Aos olhos
deslumbrados d”aquele povo, cuja atitude nos transporta aos tempos biblicos e
que, palido de assombro, com a cabeça descoberta, encara o azul, o sol tremeu,
o sol teve nunca vistos movimentos bruscos fóra de todas as leis cosmicas – o
sol «bailou», segundo a tipica expressão dos camponeses.. Empoleirado no
estribo do auto-omnibus de Torres Novas, um ancião cuja estatura e cuja
fisionomia, ao mesmo tempo doce e energica, lembram as de Paul Déroulède,
recita, voltado para o sol, em voz clamorosa, de principio a fim, o Credo.
Pergunte quem é e dizem-me ser o sr. João Maria Amado de Melo Ramalho da Cunha
Vasconcelos.
Vejo-o depois
dirigir-se aos que o rodeiam, e que se conservaram de chapeu na cabeça,
suplicando-lhes, veementemente, que se descubram em face de tão extraordinária
demonstração da existência de Deus. Cenas idênticas repetem-se n”outros pontos
e uma senhora clama, banhada em aflitivo pranto e quasi n”uma sufocarão:
– Que lastima!
Ainda ha homens que se não descobrem deante de tão estupendo milagre!
E, a seguir,
perguntam uns aos outros se viram e o que viram. O maior numero confessa que
viu a tremura, o bailado do sol; outros, porém, declaram ter visto o rosto
risonho da propria Virgem, juram que o sol girou sobre si mesmo como uma roda
de fogo de artificio, que ele baixou quasi a ponto de queimar a terra com os
seus raios… Ha quem diga que o viu mudar sucessivamente de côr…
São perto de quinze
horas.
O ceu está varrido
de nuvens e o sol segue o seu curso com o esplendor habitual que ninguem se
atreve a encarar de frente. E os pastorinhos? Lucia, a que fala com a Virgem,
anuncia, com ademanes teatraes, ao colo de um homem, que a transporta de grupo
em grupo, que a guerra terminára e que os nossos soldados iam regressar…
Semelhante nova, todavia, não aumenta o jubilo de quem a escuta. O sinal
celeste foi tudo. Ha uma intensa curiosidade em vêr as duas rapariguinhas com
suas grinaldas de rosas, ha quem procure oscular as mãos das «santinhas», uma
das quaes, a Jacinta, está mais para desmaiar do que para danças”, mas aquilo
por que todos anciavam – o sinal do ceu – bastou a satisfazel-os, a radical-os
na sua fé de carvoeiro. Vendedores ambulantes oferecem os retratos das crianças
em bilhetes postaes e outros bilhetes que representam um soldado do Corpo
Expedicionario Portuguez “pensando no auxilio da sua protetora para salvação da
Patria” e até uma imagem da Virgem como sendo a figura da visão…
Bom negocio foi
esse e decerto mais centavos entraram na algibeira dos vendedores e no tronco
das esmolas para os pastorinhos do que nas mãos estendidas e abertas dos
leprosos e dos cegos que, acotevelando-se com os romeiros, atiravam aos ares
seus gritos lancinantes…
O dispersar faz-se
rapidamente, sem dificuldades, sem sombra de desordem, sem que fosse mister que
o regulasse qualquer patrulha da guarda. Os peregrinos que mais depressa se retiram,
correndo estrada fóra, são os que primeiro chegaram, a pé e descalços com os
sapatos à cabeça ou dependurados nos varapaus. Vão, com a alma em lausperene,
levar a boa nova aos logarejos que não se despovoaram de todo. E os padres?
Alguns compareceram no local, sorridentes, enfileirando mais com os
espectadores curiosos do que com os romeiros avidos de favores celestiaes.
Talvez um ou outro não lograsse dissimular a satisfação que no semblante dos
triunfadores tantas vezes se traduz…
Resta que os competentes
digam de sua justiça sobre o macabro bailado do sol que hoje, em Fátima, fez
explodir hossanas dos peitos dos fieis e deixou naturalmente impressionados –
ao que me asseguraram sujeitos fidedignos os livres pensadores e outras pessoas
sem preocupações de natureza religiosa que acorreram à já agora celebrada
charneca.
Avelino de Almeida
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