Quando seu marido morreu, em 1436, ela se mudou para esse mesmo mosteiro e se tornou a prioresa.
Ernest Hello, em sua obra “Physionomies de saints”, escreve o seguinte sobre a santa:
“A vida de Francisca reside nas visões. Suas visões mais singulares, mais estupendas, mais características, são as visões do inferno. Inúmeros suplícios, variados como os crimes, lhe foram mostrados no conjunto e nas minúcias”.
“Santa Francisca Romana viu o ouro e a prata derretidos, acumulados pelos demônios nas gargantas dos avarentos”.
O que é uma pessoa passar uma hora com ouro ou prata derretidos e quentes dentro da garganta, sem anestésicos, sem os mil cuidados dos nossos hospitais?
Então, imaginem o que é passar a eternidade com ouro e prata derretidos na garganta. Querer engolir e não poder, queimaduras horrorosas, sensações atrozes.
Tudo isto Santa Francisca Romana viu como martírio dos avarentos.
“Viu Lúcifer, consagrado ao orgulho, chefe geral dos orgulhosos, rei de todos os demônios e de todos os condenados. Esse rei é muito mais desgraçado do que todos os seus súditos”.
Visão do inferno de Santa Francisca Romana.Mosteiro de Tor de'Specchi. Pintura de Antoniazzo Romano, 1468. |
“Sob Lúcifer, chefe universal, acham-se subordinados três chefes a ele e prepostos aos demais”.
Ele é uma espécie de “vigário geral” para cada um dos setores do crime...
“Mamon, que preside aos pecados de avareza, era um trono”.
“Belzebu preside aos pecados da idolatria”.
Todo crime ligado às práticas de magia, do espiritismo etc., é da alçada de Belzebu. Naturalmente, a heresia, as más doutrinas, os erros contra a fé etc., são da alçada de Belzebu.
Santa Francisca Romana: visão do inferno. Mosteiro de Tor de'Specchi, Roma. Antoniazzo Romano, 1468, detalhe superior. |
“Os que ficam no inferno dão as suas ordens e enviam seus deputados; os que residem no ar agem fisicamente sobre as perturbações atmosféricas e telúricas, lançam por toda parte influências más, empestam o ar física e moralmente”.
A ideia do ar moralmente empestado é muito reveladora. Em certas grandes metrópoles, por exemplo, quando a gente avista ao longe São Paulo, vê-se uma espécie de névoa pairando sobre a cidade e que é a síntese de todas as poeiras, sujeiras e impurezas danosas para a respiração.
Os médicos legistas, nos necrotérios, vendo o pulmão do morto sabem se a pessoa morou em uma metrópole ou no interior do Estado. O pulmão de quem morou no interior é rosado e o de quem morou, por exemplo, em São Paulo é carregado desses ares poluídos.
Tem-se a impressão de qualquer coisa de maldito pairando no meio dessas influências físicas más. Isto é o resultado da ação de demônios dessa natureza.
“Atacam-na no momento em que ela desconfia da Providência”.
Sete demônios lhe aparecem sob a forma de ovelhas elogiando suas virtudes, mas ela zombou deles. Então se transformaram em lobos que tentavam devorá-la (Mosteiro de Tor de Specchi, Roma) |
Por isso é tão recomendável o “Livro da Confiança” (do Abbé Thomas de Saint Laurent). Porque quando se desconfia da Providência é a hora em que todas as tentações vêm. Enquanto a pessoa é confiante, a tentação pode vir, mas tem um âmbito restrito.
“Quando o orgulho lhe tenha aumentado a fraqueza, chegam os demônios da carne que lhe insuflam seu espírito; quando os demônios da carne a enfraqueceram ainda mais, chegam os demônios incumbidos dos crimes de dinheiro”.
Portanto, há um espírito do demônio da carne que toma conta da pessoa quando ela não se prepara e não se fecha à tentação. Depois vem, então, o amor à ganância.
Começa pela desconfiança em Deus, passa para a impureza, depois ao orgulho, chega até a avareza e acaba na idolatria. E é o esboroar completo da alma através de ondas sucessivas de demônios que lhe vão atacando.
“Todas as coisas da hierarquia celeste são parodiadas na hierarquia infernal. Nenhum demônio pode tentar uma alma sem licença de Lúcifer.
“Os demônios que estão no ar ou na terra não sofrem atualmente a pena de fogo, mas aturam outros suplícios terríveis e particularmente à vista do bem que fazem os santos”.
O demônio fingiu ser Santo Onofre para dissuadi-la de fundar as Oblatas. |
Os demônios sofrem terrivelmente vendo um ato público de virtude. Porque eles sofrem mais em ver o bem do que em todos os tormentos do inferno.
Ele odeia tanto a Deus, que prefere os piores tormentos do que estar vendo a Deus. Por causa disso o tormento do ato de virtude lhe é crudelíssimo. O homem que faz o bem inflige ao demônio uma tortura tremenda.
“É conduzido perante Lúcifer que lhe inflige um castigo especial, distinto das suas outras torturas”.
Capela do Mosteiro de Tor de'Specchi das Oblatas de Santa Francisca Romana |
Uma sarabanda de caçoadas terríveis, de apodos etc., em que ele volta zombando também e todos os demônios se recolhem frustrados aos seus respectivos antros e lá ficam coaxando eternamente, até vir sobre eles um novo tormento igualmente merecido.
Assim se pode ter uma alegria a mais rechaçando o demônio tentador porque sabemos que aquele demônio vai para o inferno sofrer um tormento especial e que a alma tentada é vingada.
“Este demônio entra às vezes, em consequência, no corpo de animais ou de homens e então faz-se passar pela alma de um morto.
Isto é muito bom para adquirirmos um verdadeiro ódio ao nosso “demônio da perdição” e para tomarmos uma tática de combate em seu confronto.
Devemos pedir a Santa Francisca Romana que ela nos dê o suficiente discernimento para compreendermos quais ações são do demônio, para odiá-las e talhá-las logo que se iniciam.
Muitas vezes o demônio se apresenta por vias indiretas, sugere-nos coisinhas que parecem insignificantes, uma pequena ideia fixa a respeito de uma ninharia. Por exemplo, uma pessoa que nos olhou de modo “atravessado”.
E a gente começa a achar meio deleitável pensar nisto: “o que aquele fulano fez? Ele me olhou de atravessado!... Lembra-se de tal caso? De tal outro?”
É a ação do demônio... E como é que a gente faz? Corta essas coisas no começo! Há um princípio de sabedoria que diz “principia obstat”, corte no começo! Caso contrário, não adianta.
Tudo quanto é ideia fixa, gosto de ficar se remoendo com ideias que aborrecem, agitação, perturbação, isso é início da ação diabólica que deve ser cortado energicamente!
Vamos Santa Francisca Romana nos dê o discernimento de tudo isto e nos faça compreender como o católico precisa estar preparado para lutar contra essa pluralidade de influências.
E nos previna contra uma doutrina errada mas tão frequente de que a tentação do demônio só é aquela que nos leva diretamente para o pecado e que quando não leva para o pecado diretamente, isso não é do demônio.
Não senhor! Aquilo que prepara o ambiente para o pecado, já é tentação do demônio.
Então, as perturbações, as cóleras, as agitações, as fermentações da imaginação, facilmente podem ser tentações do demônio e a gente precisa se precaver contra elas.
Vamos pedir a Santa Francisca Romana que nos dê uma clara e lúcida visão dessas verdades.
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