“O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te
conduzirá até Deus”
Aqui, Irmã Lúcia nos recorda que a nova geração que nascerá da
mulher, anunciada por Deus logo após a queda dos primeiros seres humanos, há-de
triunfar na luta contra a geração de Satanás, até lhe esmagar a cabeça. Maria é
a Mãe desta nova geração, como se fora uma nova árvore da vida, plantada por
Deus no jardim do mundo, para que todos os filhos se possam alimentar dos seus
frutos. Foi neste Coração que o Pai encerrou o Seu Filho, como se fosse o
primeiro sacrário. Maria foi a primeira custódia que O guardou, e foi o sangue
do seu Coração Imaculado que ministrou ao Filho de Deus a Sua vida e ser
humanado, sendo d’Ele que todos nós recebemos «graça sobre graça» (Jo 1,16).
A escolhida da Santíssima Virgem reuniu no seu livro intitulado Apelos da Mensagem de Fátima, publicado em
8 de dezembro de 2000, os vinte e dois apelos da Mensagem, alguns dos
quais muito resumidamente estamos publicando. Com isso, desejamos chamar a
atenção do leitor não somente para a urgência da Mensagem do Céu, dirigida à
desorientada humanidade dos nossos tempos, mas, também, para as reflexões
da humilde carmelita que heroicamente viveu em plenitude a
Mensagem, legando-nos sublimes apontamentos nesse seu precioso
livro.
Décimo
primeiro apelo da Mensagem — Apelo à Devoção ao Coração Imaculado de Maria
«Jesus
quer (…) estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração».
Estabelecer no mundo a devoção ao Coração Imaculado de Maria significa
levar as pessoas a uma plena consagração de conversão, doação, íntima estima,
veneração e amor. É, pois, neste espírito de consagração e conversão que Deus
quer estabelecer no mundo a devoção ao Coração Imaculado de Maria.
Todos sabemos o que representa, numa família, o coração da mãe: é o
amor! Na verdade, é o amor que leva a mãe a desvelar-se junto do berço do
filho, a sacrificar-se, a dar-se, a correr em defesa do filho. Todos os filhos
confiam no coração da mãe, e todos sabem que têm nele um lugar de íntima
predileção. O mesmo se passa com a Virgem Maria. Assim diz a Mensagem: «O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te
conduzirá até Deus». O Coração de
Maria é, portanto, para todos os seus filhos, o refúgio e o caminho para Deus.
Este refúgio e este caminho foi anunciado por Deus a toda a humanidade,
logo a seguir à sua primeira queda. Ao Demônio, que tentara os primeiros seres
humanos e os levara a desobedecer à ordem divina recebida, o Senhor
disse: «Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça, ao tentares
mordê-la no calcanhar» (Gn 3,15). A nova geração que
nascerá desta mulher, anunciada por Deus, há-de triunfar na luta contra a
geração de Satanás, até lhe esmagar a cabeça. Maria é a Mãe desta nova geração,
como se fora uma nova árvore da vida, plantada por Deus no jardim do mundo,
para que todos os filhos se possam alimentar dos seus frutos.
Do coração da mãe, recebem os filhos a vida natural, o primeiro alento,
o sangue germinador, o palpitar do coração, como se a mãe fosse a corda de um
relógio que move dois pêndulos. Olhando a dependência do filhinho nestes
primeiros tempos da sua gestação no seio materno, quase poderíamos dizer que o
coração da mãe é o coração do filho. E o mesmo podemos dizer de Maria, quando
trouxe no seu seio o Filho do Pai Eterno. E assim o Coração de Maria e, de
algum modo, o coração desta outra geração cujo primeiro fruto é Cristo, o Verbo de Deus.
E é deste fruto que toda a geração desse Coração Imaculado se há-de
alimentar, como disse Jesus: «Eu sou o Pão da Vida. Quem come a Minha carne o bebe o Meu sangue fica em Mim e Eu nele.
Assim como (…) Eu vivo pelo Pai, assim também o que Me come viverá por Mim» (Jo 6,48.56-57). E este viver por Cristo é
também viver por Maria, porque o Seu Corpo e o Seu Sangue tinha-os Jesus tomado
de Maria.
Foi neste Coração que o Pai encerrou o Seu Filho, como se fosse o
primeiro sacrário. Maria foi a primeira custódia que O guardou, e foi o sangue
do seu Coração Imaculado que ministrou ao Filho de Deus a Sua vida e ser
humanado, sendo d’Ele que todos nós recebemos «graça sobre graça» (Jo 1,16).
Esta é a geração desta mulher admirável: Cristo em
Si e no Seu Corpo Místico. E Maria é a Mãe desta descendência destinada por
Deus a esmagar a cabeça da serpente infernal.
Vemos assim como a devoção ao Coração Imaculado de Maria se há-de
estabelecer no mundo por uma verdadeira consagração de conversão e doação.
Como, pela consagração, o pão e o vinho se convertem no Corpo e no Sangue de
Cristo, hauridos com o ser vital no Coração de Maria.
É desta forma que este Coração Imaculado há-de ser para nós o refúgio e
o caminho que leva a Deus.
Formamos assim o cortejo da nova geração criada por Deus, haurindo a
vida sobrenatural na mesma fonte germinadora, no Coração de Maria, que é a Mãe
de Cristo e do Seu Corpo Místico. Deste modo somos verdadeiramente irmãos de
Cristo, como Ele mesmo disse: «Minha mãe e Meus irmãos são
aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc
8,21).
Esta palavra de Deus é o laço que une todos os filhos no Coração da Mãe;
aqui se escuta o eco da palavra do Pai, porque Deus encerrou no Coração de
Maria a Sua Palavra, o Seu Verbo eterno; e é desta Palavra que nos vem a
vida: «Se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Do seio
daquele que acredita em Mim, correrão rios de água viva, como diz a
Escritura» (Jo 7,37-38). Com efeito, lê-se no livro de
Isaías: «Derramarei água sobre a terra sequiosa, e rios sobre o solo
seco; derramarei o Meu espírito sobre a tua posteridade, a Minha bênção sobre
os teus descendentes» (Is 44,3).
Esta terra regada e abençoada é o Coração Imaculado de Maria, e Deus
quer que a nossa devoção aí lance raízes, porque foi para isso mesmo que Deus
nele depositou tanto amor como em coração de Mãe universal, que consagra e
converte a sua geração no Corpo e no Sangue de Cristo, seu Primogênito, Filho
de Deus, o Verbo do Pai: «N’Ele estava a Vida e a Vida
era a luz dos homens. (…) E o Verbo fez-Se homem a habitou entre nós, e nós
vimos a Sua glória, glória que Lhe vem do Pai, como Filho único, cheio de graça
e de verdade» (Jo 1,4.14).
Deus iniciou, no Coração de Maria, a obra da nossa Redenção, dado que
foi, no seu «fiat», que esta teve princípio: «Maria disse então: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim
segundo a tua palavra”» (Lc 1,38). «E o Verbo fez-Se homem e habitou entre nós» (Jo 1,14). E
assim, na mais estreita união que pode existir entre dois seres humanos, Cristo
começou com Maria a obra da nossa salvação. As palpitações do Coração de Cristo
são as palpitações do Coração de Maria, a oração de Cristo é a oração de Maria,
as alegrias de Cristo são as alegrias de Maria; de Maria recebeu Cristo o Corpo
e o Sangue que hão-de ser respectivamente imolado e derramado pela salvação do
mundo. Por isso, Maria, feita uma com Cristo, é a corredentora do gênero
humano: com Cristo no seu seio, com Jesus Cristo nos seus braços, com Cristo em
Nazaré, na vida pública; com Jesus Cristo subiu ao Calvário, sofreu e agonizou,
recolhendo em seu Coração Imaculado as últimas dores de Cristo, as Suas últimas
palavras, as últimas agonias e as últimas gotas do Seu sangue, para as oferecer
ao Pai.
E Maria ficou na terra para ajudar os seus outros filhos a completar a
obra redentora do seu Cristo, conservando-a no seu Coração como em manancial de
graça — Ave gratia plena — para nos comunicar os frutos da
vida, paixão e morte de Jesus Cristo, seu Filho.
Ave-Maria!
Trechos resumidos do livro Apelos da Mensagem de Fátima, de Irmã Lúcia. Carmelo
de Coimbra.
Demais artigos
Os apelos da Mensagem de Fátima (Parte 2)
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