“«Rezem
o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra»”
A escolhida da Santíssima Virgem reuniu nesta sua obra os vinte e dois
apelos da Mensagem que muito resumidamente passamos a publicar a partir do
presente artigo. Com isso, desejamos chamar a atenção do leitor não somente
para a urgência da Mensagem do Céu, dirigida à desorientada humanidade
dos nossos tempos, mas, também, para as reflexões da humilde carmelita que
heroicamente viveu em plenitude a Mensagem, legando-nos sublimes
apontamentos nesse seu precioso livro.
Nono
apelo da Mensagem – Apelo à intimidade com a Santíssima Trindade
“Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos
profundamente”
Aqui a Mensagem propõe à nossa fé e à nossa adoração o mistério de Deus
uno e trino em pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo; propõe-nos o mistério da
Santíssima Trindade: um só Deus e três Pessoas distintas.
Trata-se de um mistério que nos foi revelado e que só no Céu nos será
dado compreender perfeitamente. Acreditamos nele, porque Deus o revelou, e
sabemos que a nossa limitada compreensão está a muita distância do poder e da
sabedoria de Deus.
Mas é sobretudo a Sagrada Escritura que nos fala e revela, em diversos
lugares, este mistério da Santíssima Trindade, como, por exemplo, quando S.
Lucas nos descreve o mistério da encarnação do Verbo, o “Filho do Altíssimo”. Ao
responder a uma dificuldade de Maria, o Anjo disse-lhe: “O Espírito Santo virá
sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a Sua sombra. Por isso mesmo
é que o Santo que vai nascer há-de chamar-Se Filho de Deus” (Lc 1,35).
Aparecem aqui mencionadas as três Pessoas divinas: o Espírito
Santo que desce sobre a Virgem; o Altíssimo (a Quem Jesus
Cristo, o “Filho do Altíssimo”, chamou Pai) que gera o Verbo; e
o Filho que vai nascer e que, como disse o Anjo, “há-de chamar-Se
Filho de Deus”.
Gerado pelo Pai desde a eternidade,Jesus Cristo é concebido e nasce, no
tempo, da Virgem Maria. Enquanto homem começou a existir no momento da Sua
encarnação no sei da Virgem Mãe; enquanto Deus existiu sempre com o Pai e o
Espírito Santo. Diz-nos S. João: “No princípio já existia o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio, com Deus. (..) E
o Verbo fez-se homem e habitou entre nós” (Jo 1,1-2.14).
Várias vezes, no Evangelho, encontramos Jesus Cristo a falar d’Eles, os
Três – do Pai, do Filho e do Espírito Santo -, e a Si mesmo dá o nome de
Filho: “Tudo quanto pedirdes em Meu nome, Eu o farei, para que o Pai seja
glorificado no Filho. (…) Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará
em Meu nome, Esse ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos
tenho dito” (Jo 14,13.26). Noutro lugar diz: “O Pai ama o Filho e pôs
todas as coisas nas Suas mãos” (Jo 3,35) e, mais adiante, “Assim como
o Pai ressuscita mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida àquele que
quer” (Jo 5,21).
Vemos que Jesus pede ao Pai a nossa união com a Santíssima
Trindade: “Como Tu, ó Pai, estás em Mim e eu em Ti, que também eles estejam em
Nós”. Isto mesmo é a nossa vida sobrenatural, porque estar em Deus
é viver a vida de Deus: Deus presentes em nós, e nós mergulhados em Deus.
No Apocalipse, S. João diz que não viu templo algum na cidade de
Deus, “porque o Senhor, Deus todo-poderoso, é o seu templo, assim como o
Cordeiro. A cidade não necessita de sol nem de lua para a iluminar, porque é
iluminada pela glória de Deus e a sua luz é o Cordeiro” (Ap 21,22-23).
O Cordeiro é Cristo; a luz de Cristo é a nossa vida, e nós vivemos mergulhados
nessa luz e somos assim um louvor para glória de Deus, caminhamos à luz da Sua
glória e por ela somos transformados em templo de Deus: “N’Ele
qualquer construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo no
Senhor, em união com o Qual também vós sois integrados na construção, para vos
tornardes, no Espírito, habitação de Deus” (Ef 2,21-22).
A nossa grandeza é imensa: fomos escolhidos por Deus, somos guardados
por Deus, somos santificados pela presença de Deus para louvor da Sua glória,
somos sacrários vivos onde habita a Santíssima Trindade, somos casa de Deus e
porta do Céu!
Ó Trindade Santa, a Quem eu adoro, a Quem eu amo, a Quem eu hei-de
cantar eterno louvor! Em mim, Tu és luz, és graça, és amor! Mergulho em Ti e me
abismo no amor do Teu Ser.
Décimo
apelo da Mensagem – Apelo à reza diária do Terço
Este apelo foi feito, pela primeira vez, no dia 13 de Maio de 1917, quando
as três pobres crianças de Aljustrel se encontravam a pastorear os seus
rebanhos no campo chamado Cova da Iria.
Como de costume, depois do meio-dia, as três crianças comeram as suas
merendas e rezaram. Em seguida, começaram, por entretimento, a fazer um pequeno
muro de pedras soltas à volta de um arbusto chamado «moita», que a
gente costumava utilizar para fazer vassouras, e, por isso, queriam
resguardá-lo para que os animais não o roessem. Isto porque, quando encontravam
tais arbustos em boas condições, gostavam de os deixar crescer para deles
fazerem depois vassouras, que entregavam à mãe, quando à noite regressavam aos
seus lares.
Então, para as crianças era uma festa ver os pais contentes com os seus
presentes e as suas carícias, pelo que cada uma primava em buscar tudo aquilo
com que, mais e melhor, lhe podia dar gosto e alegria. Pobres sim, mas felizes!
Porque aquilo que dá a felicidade não é a riqueza nem os entretimentos, tantas
vezes perigosos, mas o amor. Na verdade, amar e sacrificar-se por amor é o que
dá aos lares a felicidade, a alegria, a paz e o bem-estar.
Como estava a contar, as humildes crianças entretinham-se,
despreocupadas, a brincar, quando de repente foram surpreendidas pelo reflexo
de uma luz, que elas supuseram fosse um relâmpago. O dia estava sereno, o sol
brilhava claro como no tempo melhor da Primavera, mas as crianças eram tão
pequenas que nem sabiam examinar o aspecto da atmosfera. Habituadas a verem
relâmpagos, apenas quando havia trovoada, não pensam em mais nada senão tocar
apressadamente o rebanho para regressarem a casa, antes que se desencadeasse
alguma tempestade.
Poucos passos andados pela descida da encosta, fere-lhes a vista o
reflexo da mesma luz, que julgam ser um segundo relâmpago, o que as faz
apressar o passo ainda mais e tocar as ovelhas com maior diligência. Uns passos
mais e, aproximadamente a meia encosta, param surpreendidas ao verem sobre uma
pequena carrasqueira a linda Senhora de luz. Não têm medo, porque o
sobrenatural não incute medo; causa apenas uma agradável surpresa de fascinante
atrativo.
A meiga Senhora descerra os lábios e, como que para iniciar o diálogo,
dirige às crianças as seguintes palavras: «Não tenhais medo, eu não vos
faço mal».
Penso que estas palavras de Nossa Senhora — não tenhais medo — não
se referiam ao medo que pudéssemos ter d’Ela, porque bem sabia Ela que não nos
incutia medo. Deviam por isso referir-se ao medo com que vínhamos a fugir
apressadamente da suposta trovoada, que julgávamos iminente a desencadear-se.
Também se disse que o Francisco apanhou algumas pedras para atirar à
Aparição. Creio que não pode ter sido verdade; deve haver aí alguma confusão ou
mal-entendido com as pedras que os pastores costumavam atirar em torno dos
rebanhos, quando queriam obrigar os animais a juntarem-se e a caminharem mais
depressa.
Quebrado o silêncio e animada pela confiança que a doce Senhora
inspirava, perguntei: «Donde é Vossemecê?» «Sou do
Céu — respondeu Ela. «E que é que Vossemecê me quer?» —
perguntei. Respondeu: «Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses
seguidos, no dia 13, a esta mesma hora, depois vos direi quem sou e o que
quero. Depois, voltarei ainda aqui uma sétima vez».
Enquanto ouvia esta resposta, o pensamento de que estava a falar com uma
pessoa vinda do Céu animou-me e perguntei se também a mim me seria concedida a
dita de ir para o Céu, ao que a Senhora respondeu: «Sim, vais». «E a Jacinta?» perguntei. «Também» — respondeu. «E
o Francisco?» — insisti. «mas tem de rezar muitos
terços» —respondeu.
Penso que esta recomendação feita ao Francisco é para todos nós. Não é
que, para irmos para o Céu, é condição indispensável rezarmos muitos Terços,
propriamente ditos, mas sim fazermos oração; naturalmente, para aquelas pobres
crianças, o rezar diariamente o Terço era a fórmula de oração mais acessível,
tal como o é ainda hoje para a maior parte das pessoas, e não há dúvida de que
dificilmente alguém se salvará sem fazer oração.
Sabemos bem o quanto somos fracos, resvalamos e caímos. Sem o auxílio da
graça, não conseguiremos levantar-nos nem vencer as tentações. Ora esta força
de que necessitamos e que nos vem com a graça, só a conseguiremos no encontro
da nossa alma com Deus, por meio da oração. Foi o que Jesus Cristo disse e
recomendou aos Seus Apóstolos, pouco antes de Se entregar à morte por nós:
«Vigiai e orai para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a
carne é fraca» (M26,41). E deu-nos o exemplo, preparando-Se com a oração do
Getsêmani para o sacrifício e para a morte. Além disso, entre outras coisas do
Pai-Nosso, ensinou-nos a pedir: «E não nos deixeis cair em tentação, mas
livrai-nos do mal» (Mt6,13).
Voltando à aparição de Nossa Senhora… Lembrei-me em seguida de Lhe
perguntar por uma rapariga minha conhecida, que tinha falecido havia pouco
tempo; a resposta dada por Nossa Senhora certifica-nos da verdade da existência
do Purgatório, e é, ao mesmo tempo, mais uma prova da necessidade que temos de
orar.
Conta o texto sagrado que S. Pedro, aproximando-se de Jesus,
perguntou-Lhe: «“Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar?
Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Não te digo sete vezes, mas setenta vezes
sete”». E continuou: «Por isso, o reino dos Céus é comparável a um
rei que quis ajustar contas com os seus servos. Logo ao princípio, trouxeram-Ihe
um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo ele com que pagar, o senhor
ordenou que fosse vendido com a mulher, os filhos e todos os seus bens, para
assim pagar a dívida. O servo lançou-se então aos seus pés, dizendo:
“Concede-me um prazo e pagar-te-ei tudo”. Levado pela compaixão, o
senhor daquele servo deu-lhe liberdade e perdoou-lhe a dívida.
«Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros, que lhe devia cem
denários. Segurando-o, apertou-lhe o pescoço e sufocava-o, dizendo: “Paga o que
me deves!” O outro caiu a seus pés, suplicando: “Concede-me um prazo e
pagar-te-ei”. Mas ele não concordou e mandou-o prender até que lhe pagasse tudo
quanto lhe devia.
«Testemunhas desta cena, os seus companheiros, contristados, foram
contar ao seu senhor o que havia acontecido. O senhor mandou-o, então, chamar e
disse-lhe “Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque assim mo
suplicaste; não devias igualmente ter piedade do teu companheiro como eu tive
de ti?” E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos, até que pagasse tudo o
que devia. Assim procederá convosco Meu Pai celestial, se cada um de vós não
perdoar do fundo do coração a seu irmão» (Mt18,21-35).
Este servo, que pelo débito acumulado corria o risco de ser condenado,
lançou-se aos pés do seu senhor, suplicando piedade e um tempo de espera para
poder saldar as suas dívidas: «um prazo e pagar-te-ei tudo». Ora, nesta
possibilidade de ter ainda um prazo para satisfazer pelo que falta pagar,
podemos ver uma imagem do que se passa com o Purgatório: este é um tempo de
espera para nos purificarmos das faltas leves não confessadas e para
satisfazermos a reparação que ainda devamos pelos nossos pecados, porque,
enquanto vivíamos neste mundo, não fizemos bastante penitência pelos mesmos.
Ao princípio, o servo da parábola suplicou e obteve o perdão absoluto de
tudo, mas depois voltou a pecar, sendo cruel com o seu companheiro, acabando
aquele por ter de fazer penitência e pagar tudo o que devia ao seu senhor.
Assim nos acontecerá a nós —concluía Jesus Cristo. O mesmo sucederá a nós,
se, para além do perdão que pedimos e obtivemos no sacramento da Penitência
para os nossos pecados, não tivermos feito uma condigna reparação pelos mesmos,
na qual sempre está incluída a obrigação de sermos misericordiosos com o próximo,
como Deus o foi conosco.
Também assim nos ensinou Jesus a rezar: «Pai nosso, (…) perdoai-nos as
nossas dividas, assim como nós perdoamos os nossos devedores (Mt6,12).
Aqui está claro que, para obter o perdão dos nossos pecados, temos de o pedir a
Deus, e que a medida a receber de perdão será a mesma que tivermos usado com o
próximo, perdoando-lhe as ofensas que nos tiver feito. Perdoai e sereis
perdoados, como explica Jesus ao concluir a oração
dominical: «Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o
vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as
suas ofensas, também o vosso Pai vos não perdoará as vossas» (Mt 6,14-15).
A crença nesta possibilidade de expiação pelo pecado mesmo depois da
morte, subjaz também numa narração do segundo Livro dos Macabeus: «As
tropas de Esdrin, que combatiam há muito tempo, já estavam fatigadas. Então
Judas invocou o Senhor para que protegesse e dirigisse o combate. E começando a
entoar cantos de guerra na língua pátria, caiu de surpresa sobre os soldados de
Górgias e afugentou-os. Depois, reunindo Judas o seu exército, alcançou a
cidade de Odolão e, chegado o sétimo dia da semana, purificaram-se segundo o
costume e celebraram ali o sábado. No dia seguinte, Judas e os seus companheiros
foram levantar os corpos dos mortos, como era necessário, para os depositar na
sepultura, ao lado de seus pais. Então, sob a túnica dos que tinham tombado,
encontraram objetos consagrados aos ídolos de Jâmnia, proibidos aos Judeus pela
Lei, e todos reconheceram que fora esta a causa da sua morte. Bendisseram,
pois, a mão do Senhor, justo juiz, que faz aparecer as coisas ocultas, e
puseram-se em oração para Lhe implorar perdão completo do pecado cometido.
«O nobre Judas convocou a multidão e exortava-a a evitar qualquer
transgressão, tendo diante dos olhos o mal que havia sucedido aos que foram
mortos por causa dos pecados. E mandou fazer uma coleta, recolhendo cerca de
dez mil dracmas, que enviou a Jerusalém, para que se oferecesse um sacrifício
pelo pecado, obra digna e santa, inspirada na sua crença na ressurreição,
porque, se não esperasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e
supérfluo rezar por eles. E acreditava que uma bela recompensa aguarda os que
morrem piedosamente. Era este um pensamento santo e piedoso. Por isso, pediu um
sacrifício expiatório, para que os mortos fossem livres das suas
faltas» (2 Mc 12,36-46).
Esta passagem da Sagrada Escritura ajuda-nos a compreender melhor esta
verdade da nossa fé que é o Purgatório, como um lugar de expiação onde as almas
dos que morrem em graça se purificam das manchas do pecado, antes de serem
admitidas na posse da bem-aventurança eterna junto de Deus.
Por isso, Nossa Senhora, respondendo à pergunta que Lhe dirigi sobre
essa rapariga — a Amélia —, disse: «Está no Purgatório até ao fim do
mundo». Talvez nos pareça muito, mas a misericórdia de Deus é
sempre grande. Pelos nossos pecados, quanto O temos ofendido gravemente e com
isso merecido o Inferno! Apesar disso, Ele perdoa-nos e concede tempo para
pagarmos por eles e, mediante uma reparação e purificação, sermos salvos. Mais
ainda, aceita as orações e sacrifícios que outros Lhe ofereçam, por aqueles que
se encontrem nesse lugar de expiação.
A seguir, Nossa Senhora dirigiu às humildes crianças esta
pergunta: «Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele
quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e
de súplica pela conversão dos pecadores?» Ao que respondi, em nome dos
três: «Sim, queremos!» Na ocasião, esta resposta foi dada de
modo espontâneo e inconsciente, porque nem ao de leve supunha o que ela viria a
representar ou o seu pleno alcance. Mas, nunca me arrependi dela, antes,
renovo-a cada dia, pedindo a Deus a graça e a força precisa para a cumprir, com
fidelidade, até ao fim.
Esta pergunta de Nossa Senhora faz-me lembrar aquela que Jesus Cristo
fez aos dois filhos de Zebedeu, quando estes Lhe pediram os dois primeiros
lugares no Reino do Céu, e Ele «retorquiu: “Não sabeis o que pedis. Podeis
beber o cálice que Eu estou para beber? Eles responderam-Lhe:
“Podemos”» 21,22).
Para nos salvarmos, todos temos de beber o cálice do sacrifício, da
renúncia aos próprios gostos quando são ilícitos, às próprias inclinações
quando elas nos arrastam pelo caminho do mal, às próprias comodidades se
exageradas; e, ao contrário, temos de abraçar os sacrifícios que a vida traz
consigo, tanto de ordem material e física, como moral, social e espiritual.
Ora este sacrifício cai sobre todos, mesmo sobre aqueles que não têm a
felicidade de possuir o dom da fé. Também eles encontram no seu caminho o
sacrifício, porque toda a humanidade está marcada com o sinal da cruz redentora
de Cristo, mesmo que não a conheça ou não queira aproveitar-se dela. Todos
temos de levar a parte da cruz de Cristo que nos toca na obra da Redenção,
porque a cruz pesa por causa do pecado, ou melhor, o pecado traz consigo o peso
da cruz.
Na verdade, foi para apagar em nós as manchas do pecado que Jesus tomou
sobre Si o peso da cruz. Mas, para que este ato de Cristo nos aproveite, é preciso
que cada um de nós leve, com fé e amor, a sua própria cruz atrás da de Cristo,
em união com Cristo; por outras palavras, é preciso o sacrifício, aceite e
oferecido a Deus com Cristo, pelos próprios pecados e pelos pecados dos nossos
irmãos. É neste sentido que a Mensagem nos pergunta a todos, porque ela é para
todos: «Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele
quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e
de súplica pela conversão dos pecadores»?
Mas, para uma natureza frágil e decaída pelo pecado como a nossa, o
suportar constante, generosa e meritoriamente o sacrifício não é possível, sem
um auxílio especial da graça de Deus que nos sustente e fortifique. Por isso,
Nossa Senhora respondeu ao «Sim» pobre e humilde das crianças com
a promessa do auxílio da graça: «Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a
graça de Deus será o vosso conforto».
Oh! estas palavras de Nossa Senhora são para nós um farol de luz! Com
efeito, conhecemos a nossa própria fraqueza e sabemos que, por nós mesmos, não
somos capazes de produzir frutos de vida eterna, mas só unidos a Cristo, como
Ele nos diz no Evangelho: «Quem está em Mim e Eu nele, esse dá muito
frutos; porque sem Mim nada podeis fazer» (Jo 15,5). É por isso
que a Mãe do Céu nos promete o conforto da graça de Deus: conforto, no sentido
de força para auxiliar a nossa fraqueza; conforto, no sentido de graça que nos
vem consolar, animar, ajudar e amparar. E nesta certeza floresce a inspiração
da confiança que havemos de ter em Deus.
O suportar o sacrifício, que nos atinge no nosso dia-a-dia, torna-se um
martírio lento que nos purifica e eleva para o sobrenatural, para o encontro da
nossa alma com Deus, nessa atmosfera da presença da Santíssima Trindade em nós.
Encontra-se aqui uma riqueza espiritual incomparável! A pessoa que isto
compreendeu vive mergulhada na Luz: nessa Luz que não é a do sol nem a das
estrelas, mas, sim, o manancial donde toda a outra luz dimana e recebe o ser. É
uma Luz viva, que vê e penetra ao mesmo tempo que ilumina e faz ver o que quer
mostrar. É a Luz viva de Deus.
Por isso, as pobres crianças, ao verem-se inundadas por essa Luz e sem
entenderem bem o que diziam, são levadas a repetir: «Santíssima Trindade,
eu Vos adoro! Meu Deus, meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo
Sacramento!» Era a moção do sobrenatural a realizar nelas o que elas, por
si mesmas, eram incapazes de fazer. Levava-as a acreditar na presença real de
Deus na Eucaristia. É o dom da fé que Deus concede à nossa alma com o sacramento
do Batismo.
E Nossa Senhora termina a sua Mensagem, desse dia 13 de maio de 1917,
dizendo: «Rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o
fim da guerra»
Qual terá sido o motivo por que Nossa Senhora nos mandou rezar o Terço
todos os dias, e não mandou ir todos os dias assistir e tomar parte na Santa
Missa?
Trata-se de uma pergunta que me tem sido feita muitas vezes, e à qual
gostava de dar resposta agora. Certeza absoluta do porquê não a tenho, porque
Nossa Senhora não o explicou e a mim também não me ocorreu de Lho perguntar.
Digo, por isso, simplesmente o que me parece e me é dado compreender a este
respeito. Na verdade, a interpretação do sentido da Mensagem deixo-a
inteiramente livre à Santa Igreja, porque é a Ela que pertence e compete; por
isso, humildemente e de boa vontade me submeto a tudo o que Ela disser e quiser
corrigir, emendar ou declarar.
A respeito da pergunta acima feita, penso que Deus é Pai; e como Pai
acomoda-se às necessidades e possibilidades dos Seus filhos. Ora, se Deus, por
meio de Nossa Senhora, nos tivesse pedido para irmos todos os dias participar e
comungar na Santa Missa, por certo haveria muitos a dizerem, com justo motivo,
que não lhes era possível. Uns, por causa da distância que os separa da igreja
mais próxima onde se celebra a Eucaristia; outros, porque não lho permitem as
suas ocupações, os seus deveres de estado, o emprego, o seu estado de saúde,
etc. Ao contrário, a oração do Terço é acessível a todos, pobres e ricos,
sábios e ignorantes, grandes e pequenos.
Todas as pessoas de boa vontade podem e devem, diariamente, rezar o seu
Terço. E para quê? Para nos pormos em contato com Deus, agradecer os Seus
benefícios e pedir-Lhe as graças de que temos necessidade. É a oração que nos
leva ao encontro familiar com Deus, como o filho que vai ter com o seu pai para
lhe agradecer os benefícios recebidos, tratar com ele os seus assuntos
particulares, receber a sua orientação, a sua ajuda, o seu apoio e a sua
bênção.
Dado que todos temos necessidade de orar, Deus pede-nos, digamos como
medida diária, uma oração que está ao nosso alcance: a oração do Terço, que
tanto se pode fazer em comum como em particular, tanto na igreja diante do
Santíssimo como no lar em família ou a sós, tanto pelo caminho quando de viagem
como num tranquilo passeio pelos campos. A mãe de família pode rezar enquanto
embala o berço do filho pequenino ou trata do arranjo de casa. O nosso dia tem
vinte e quatro horas… não será muito se reservarmos um quarto de hora para a
vida espiritual, para o nosso trato íntimo e familiar com Deus!
Por outro lado, eu creio que, depois da oração litúrgica da Santo
Sacrifício da Missa, a oração do santo Rosário ou Terço, pela origem e
sublimidade das orações que o compõem e pelos mistérios da Redenção que recordamos
e meditamos em cada dezena, é a oração mais agradável que podemos oferecer a
Deus e de maior proveito para as nossas almas. Se assim não fosse, Nossa
Senhora não o teria recomendado com tanta insistência.
Ao dizer Rosário ou Terço, não quero significar que Deus necessite que
contemos as vezes que Lhe dirigimos as nossas súplicas, os nossos louvores ou
agradecimentos. Certamente Deus não precisa que os contemos: n’Ele tudo está
presente! Mas nós precisamos de os contar, para termos a consciência viva e
certa dos nossos atos e sabermos com clareza se temos ou não cumprido o que nos
propusemos oferecer a Deus cada dia, para preservarmos e aumentar o nosso trato
de direta convivência com Deus, e, por esse meio, conservarmos e aumentarmos em
nós a fé, a esperança e a caridade.
Direi ainda que, mesmo aquelas pessoas que têm possibilidade de tomar
parte diariamente na Santa Missa, não devem, por isso, descuidar-se de rezar
diariamente o seu Terço. Bem entendido que o tempo apropriado para a oração do
Terço não é aquele em que toma parte na Santa Missa. Para estas pessoas, a
oração do Terço pode considerar-se uma preparação para melhor participarem na
Eucaristia, ou então como uma ação de graças pelo dia fora.
Não sei bem, mas do pouco conhecimento que tenho do trato direto com as
pessoas em geral, vejo que é muito limitado o número das almas verdadeiramente
contemplativas que mantêm e conservam um trato de íntima familiaridade com Deus
que as prepare dignamente para a recepção de Cristo, na Eucaristia. Assim, também
para estas, se torna necessária a oração vocal, o mais possível meditada,
ponderada e refletida, como o deve ser o Terço.
Há muitas e belas orações que bem podem servir de preparação para
receber Cristo na Eucaristia e para manter o nosso trato familiar de íntima
união com Deus. Mas não me parece que encontremos alguma mais que se possa
indicar e que melhor sirva para todos em geral, como a oração do Terço ou
Rosário. Por exemplo, a oração da Liturgia das Horas é maravilhosa, mas não
creio que possa ser acessível a todos, nem que alguns dos salmos recitados
possam ser bem compreendidos por todos em geral. É que requer uma certa
instrução e preparação que a muitos não se pode pedir.
Talvez por todos estes motivos e outros que nós não conhecemos, Deus, que
é Pai e compreende melhor do que nós as necessidades dos Seus filhos, quis
pedir a reza diária do Terço condescendendo até ao nível simples e comum de
todos nós para nos facilitar o caminho do acesso a Ele.
Enfim, tendo presente o que nos tem dito, sobre a oração do Rosário ou
Terço, o Magistério da Igreja ao longo dos anos — alguma coisa vos
recordarei mais adiante —, e o que Deus, por meio da Sua Mensagem, tanto
nos recomenda, podemos pensar que aquela é a fórmula de oração vocal que a
todos, em geral, mais nos convém, e da qual devemos ter sumo apreço e na qual
devemos pôr o melhor empenho para nunca a deixar. Porque melhor do que ninguém,
sabem Deus e Nossa Senhora aquilo que mais nos convém e de que temos mais
necessidade. E será um meio poderoso para nos ajudar a conservar a fé, a
esperança e a caridade.
Mesmo para as pessoas que não sabem ou não são capazes de recolher o
espírito a meditar, o simples ato de tomar as contas na mão para rezar é já um
lembrar-se de Deus, e o mencionar em cada dezena um mistério da vida de Cristo
é já recordá-los, e esta recordação deixará acesa nas almas a terna luz da fé
que sustenta a mecha que ainda fumega, não permitindo assim que se extinga de
todo.
Pelo contrário, os que abandonam a oração do Terço e não tomam diariamente
parte no Santo Sacrifício da Missa, nada têm que os sustente, acabando por se
perderem no materialismo da vida terrena.
Assim, o Rosário ou Terço é a oração que Deus, por meio da Sua Igreja e
de Nossa Senhora, nos tem recomendado com maior insistência para todos em
geral, como caminho e porta de salvação: «Rezem o Terço todos os dias» (Nossa
Senhora, 13 de Maio de 1917).
Trechos resumidos do livro Apelos da Mensagem de Fátima, de Irmã
Lùcia. Carmelo de Coimbra.
Fonte: http://osegredodorosario.blogspot.com.br/2017/01/os-22-apelos-da-mensagem-de-fatima_11.html
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