“São
Paulo escreveu: “a fé vem pela audição, a audição pela pregação de Cristo”. — O
Magistério ordinário é o do dia-a-dia. Abarca tudo que os bispos ensinam,
diretamente ou pelos que têm sua aprovação: doutores, pregadores, leigos. Ora
escrito, em geral falado, está na Igreja toda, sempre orgânico, fecundo, cheio
de vida. ― Jesus pregou pela palavra; o que escreveu, na areia, o vento apagou”
Por Arnaldo Xavier da Silveira
Breve ensaio, com vistas a
futura análise do Vaticano II
Capítulo I –
Interpretações equivocadas do Vaticano II
1) – A conceituação de Magistério extraordinário papal e
conciliar é hoje corrente e inquestionada entre os verdadeiros católicos. A
noção de Magistério ordinário, entretanto, não é tão clara e difundida. Há a
respeito dela graves e surpreendentes confusões, mesmo entre teólogos
categorizados.
2) – Vem sendo admitida, por estudiosos do assunto, a
possibilidade de um pronunciamento singular infalível do Magistério ordinário
papal ou conciliar. — Não poucos defendem a infalibilidade do Vaticano II.
— Há quem repute que o Vaticano II é infalível ainda que Paulo VI tenha
declarado que nele não houve nenhuma definição de caráter extraordinário. —
Chega-se a dizer que um Concilio ecumênico seria infalível mesmo contra a
vontade expressa do Sumo Pontífice e dos Bispos a ele presentes. — Outros ainda
sustentam que os ensinamentos não infalíveis de um Concílio, como os do Papa,
devem ser acolhidos, ao final das contas, como se fossem igualmente infalíveis.
3) – Essas e outras concepções
equivocadas sobre o Vaticano II, algumas delas até mesmo esdrúxulas, exigiriam
um estudo analítico cuidadoso, que nos propomos a fazer oportunamente. Desde
já, entretanto, desejamos enunciar alguns princípios, que julgamos fundamentais
para a exata conceituação do Magistério ordinário, “orgânico e cheio de vida”.
Entendemos que à luz desses princípios deve ser feita uma avaliação séria do
Vaticano II.
Capítulo II – A
natureza orgânica do Magistério ordinário
4) – Na Sagrada Escritura, nos documentos papais e conciliares,
nos escritos e tratados da segunda escolástica e da neoescolástica, julgamos
haver tesouros pouco explorados sobre a verdadeira noção do Magistério
ordinário, em especial sobre sua natureza orgânica, os quais não podem
permanecer escondidos. É por isso que entendemos que o Magistério ordinário é
hoje um desconhecido. E, nesse ramo da Sagrada Teologia, o grande desconhecido.
II.1 – Trata-se de um
Magistério orgânico e cheio de vida
5) – Seria errônea uma concepção mecânica e simplista desse
Magistério ordinário, como se fosse ensino de física ou matemática. Na Santa
Igreja, o que se transmite é uma doutrina revelada pelas Sagradas Escrituras e
pessoalmente por Nosso Senhor, bem como pelos apóstolos, e que passou, de modo
vivo e orgânico, de geração em geração, até nossos dias, sob o influxo da
graça. Aí estão a Bíblia e a Tradição, que constituem as fontes da Revelação. É
aí de fundamental importância o caráter orgânico desse patrimônio doutrinário
revelado, em que tudo se compõe com tudo, em que as partes se encaixam umas nas
outras com admirável coerência, constituindo um grandioso corpo de verdades, de
princípios, de regras, que transcende a limitação humana.
6) – Etimologicamente, a palavra “orgânico” provém da noção do
órgão vivo, por oposição ao que é mecânico, maquinal, morto. Nos dicionários
consta mesmo que “orgânico” diz respeito à “constituição íntima e fundamental
da coisa”, ao que está nela “profundamente arraigado”, sempre se contrapondo ao
que é superficial, automático, inerte, cego, sem vida.
7) – A organicidade envolve sempre a ideia de ordem, de
harmonia, de vida visível ou latente advinda da própria natureza da coisa, de
movimento silencioso e eficiente para a consecução de um fim. “Organismo”, que
indica um conjunto de órgãos vivendo e exercendo suas funções num todo maior,
exprime essas ideias de modo mais pleno e perfeito. O analogado primário das
noções de “órgão”, de “orgânico”, é evidentemente o órgão biológico, mas o
analogado secundário aplicável à vida social, quando se fala em “sociedade
orgânica”, é para nós, homens, mais rico e expressivo, levando nosso espírito a
uma admirável sublimação daquelas noções. — É o mesmo que acontece, por exemplo,
com a ideia de “corrupção”, que tem seu analogado primário na coisa material
que se putrefaz, da qual a palavra nasce, mas que para nós homens é mais rica,
forte, expressiva, sugestiva, quando aplicada ao homem corrupto, ao grupo
social corrupto, à sociedade corrupta. — É que nós, imersos no universo
material, do qual haurimos nossos conceitos, somos também e sobretudo seres
espirituais, e é tratando das coisas do espírito que melhor penetramos na ordem
do ser e a compreendemos. — Em futuro estudo neste site, é nossa intenção
aprofundar a noção de organicidade, perquirindo sobre sua metafísica e sua
teologia, o que nos levará até seu exemplar supremo, que está nas relações
trinitárias.
8) – A noção de organicidade está presente, e com extraordinário
brilho, na distinção que Pio XII faz entre povo e massa, em sua radiomensagem
de Natal de 1944: “Povo e multidão amorfa, ou como se pode dizer ‘massa’, são
dois conceitos diversos. (…) O povo vive e se move com vida própria. A massa é
por si mesma inerte, e não pode receber movimento senão de fora. O povo vive da
plenitude da vida dos homens que o compõem, cada um dos quais em seu próprio
posto e à sua maneira, é pessoa consciente de suas próprias responsabilidades e
suas próprias convicções. A massa pelo contrário espera impulso de fora. (…)
Joguete fácil nas mãos de um qualquer que explore seus instintos e impressões,
disposta a seguir cada vez uma, hoje esta, amanhã aquela outra bandeira”.
9) – O Magistério ordinário da Igreja é “orgânico”, uma vez que
não é livresco, não visa à erudição vazia ou a um academicismo oco e
narcisista, nem a uma moral fria, arbitrária, despótica, mas suscita o senso do
maravilhoso de que falava Aristóteles quanto à filosofia. Suscita a alegria, o
enlevo, a dedicação, até o martírio, diante da grandeza infinita de Deus e da
ordem sobrenatural. Leva ao entusiasmo, ao apostolado, à coragem de enfrentar a
vida, de explorar, de empreender, por oposição ao déjà vu, à tristeza profunda
e estiolada do espírito moderno, dos que julgam que a vida não tem sentido
algum, e que por isso mergulham nos prazeres mais baixos. Leva à contemplação,
à humildade, à abertura da alma a tudo quanto é grande, elevado, transcendente.
Alimenta a iniciativa, a vida própria, ensinando e animando o fiel a não
esperar a ordem do superior ou o estímulo externo para empreender. Isso é o
Magistério ordinário, orgânico e cheio de vida.
10) Em outro estudo nesta nossa série sobre o Magistério
Ordinário, o Grande Desconhecido, pretendemos mostrar que o Magistério propriamente
dito, que goza das promessas específicas de Nosso Senhor, é apenas o
hierárquico, constituído pelo Papa e Bispos; mas estes também ensinam pela voz
daqueles que eles aprovam expressa ou implicitamente. É assim que as lições de
Santo Tomás de Aquino, por exemplo, integram inquestionavelmente os
ensinamentos oficiais da Igreja, aprovados e recomendados que foram por dezenas
de Papas.
11) A noção do caráter orgânico do pensamento católico, e
portanto do Magistério da Igreja, está clara na seguinte página da Encíclica
Humani Generis, de Pio XII, de 12 de agosto de 1950: “Qualquer verdade que a
mente humana, procurando com retidão, descobre, não pode estar em contradição
com outra verdade já alcançada, pois Deus, verdade suprema, criou e rege a
humana inteligência, de tal modo que não opõe cada dia novas verdades às já
adquiridas, mas, apartados os erros que porventura se tiverem introduzido,
edifica a verdade sobre a verdade, de forma tão ordenada e orgânica como vemos
estar constituída a própria natureza da qual se extrai a verdade. Por esse
motivo o cristão, seja filósofo, seja teólogo, não abraça apressada e
levianamente qualquer novidade que no decurso do tempo se proponha, mas deve
sopesá-la com suma diligência e submetê-la a justo exame a fim de que não venha
perder a verdade já adquirida ou a corrompa, com grave perigo e detrimento da
mesma fé” — Note-se que esse texto afirma tanto o caráter orgânico da doutrina
católica no seu sentido mais amplo, quanto das verdades que são descobertas, e
da própria natureza objeto do estudo. Assim, a organicidade está na transmissão
da verdade pelo Magistério, como está em tudo: na doutrina, no objeto do
ensino, nas descobertas novas.
12) Nosso Senhor pregou pela palavra. Quando escreveu, foi na
areia. E pregou também pelo exemplo, por atos e atitudes, que na transmissão da
verdade revelada frequentemente se apresentam como meio mais pleno e eficiente
do que a palavra escrita ou falada. Numerosos dentre seus atos atravessaram os
séculos como modelos perpétuos de seus ensinamentos, balizas e faróis
imperecíveis para o fiel comum e para a civilização cristã. Nasceu numa
manjedoura. Permitiu que Nossa Senhora e São José o perdessem no Templo. Teve
trinta anos de vida oculta numa casa humilde de Nazaré. Transformou água em
vinho. Multiplicou pães e peixes. Pediu que viessem a si os pequeninos. Falou
por parábolas. Na Paixão, as palavras que disse e os atos havidos marcaram a
vida cristã. Os fatos que o cercaram têm um simbolismo que supera as dimensões
humanas. Tudo o que fez não caberia em livros.
13) A pregação dos apóstolos foi sem dúvida acompanhada por
escritos numerosos, mas seus ensinamentos foram muito além daquilo que
redigiram. É a Tradição Apostólica, que ao longo dos séculos vem sendo
explicitada pela Igreja nas condições novas que as diversas eras trazem. E essa
explicitação nada tem de nova revelação, mas constitui sempre novos modos de
apresentar aquilo que foi revelado: “nove, non nova”, isto é, “de modo novo,
não coisas novas”.
14) A natureza viva e orgânica do ensino está prototipicamente
caracterizada na educação familiar. É sobretudo pelos exemplos dados em casa,
pelo clima do lar, pelas atitudes importantes e pelas mais simples dos pais,
pelo sorriso de aprovação da mãe, pela repreensão dura como pela censura leve,
às vezes presente num simples olhar, é com tudo isso que se forma o espírito da
criança. Sem dúvida a mãe lhe ensinará o Catecismo e, quando mais crescida, lhe
dará um artigo de jornal, um ou outro livro para ler, mas o centro da educação familiar
que, em tempos de verdadeira civilização cristã, marca a formação do filho,
está nessa escola doméstica da vida quotidiana, que substancialmente, no seu
todo como em seus pontos particulares, a Hierarquia aprova ao longo dos anos,
das décadas, dos séculos, quer explícita, quer implicitamente.
15) Numa civilização católica, os professores dos níveis
fundamentais exercem influência indelével sobre o espírito do jovem. No ensino
medieval, isso valia igualmente para o ensino superior, marcado pela figura
pessoal do mestre. Hoje, com o ensino livresco, à distancia, impessoal,
controlado de forma mecânica e estatística pela burocracia dos Ministérios da
Educação, tende a desaparecer o grande professor, de inspiração maior e
lendário, ficando o técnico, o repetidor, sem o caráter transcendente do grande
mestre que, ao lado de outras figuras eminentes da sociedade, modelava as
mentalidades, definia as regionalidades, formava as nacionalidades.
II.2 – Os sete
sentidos em que o Magistério ordinário é orgânico
16) Pelo exposto torna-se claro que o Magistério ordinário da
Igreja é profundamente orgânico em tudo, em si mesmo e em todas as suas
manifestações. Com efeito:
a) é orgânico em todo o seu objeto: primeiramente em seu objeto
último, que é a Verdade subsistente, insuscetível de ser expressa apenas por
palavras humanas; é orgânico enquanto tem também por objeto toda a Revelação; é
orgânico naquilo que ensina sobre a natureza criada, a qual é também orgânica,
conforme ensina Pio XII;
b) é orgânico em sua expressão, que deve recorrer a pregações
vivas, imagens, símbolos, cerimônias;
c) é orgânico no modo como transmite a verdade revelada, o que
se faz sobretudo ex auditu, no dizer de São Paulo, isto é, pela palavra, pela
pregação, por tudo quanto há de vivo e inefável na ação do mestre sobre o fiel;
d) é orgânico no explicitar a doutrina revelada, sobrepondo
verdade sobre verdade, com ordem, coerência e sabedoria profundas, sem rupturas
que dilacerariam o depósito da Revelação;
e) é orgânico na sua forma de atuação, com o Papa
hierarquicamente acima dos Bispos, e estes, pelo mundo todo, ensinando
pessoalmente e também pelos pregadores, doutores e fieis que têm sua aprovação
expressa ou tácita;
f) é orgânico no modo vivo pelo qual seus ensinamentos são
recebidos e assimilados pelos fieis, inspirando-os até o mais fundo de suas
almas, e se difundem por toda a Igreja, num borbulhar de dedicações que
facilmente chegam até o martírio;
g) e é orgânico, talvez de modo mais eminente do que tudo quanto
ficou indicado acima, pela vida da graça que sempre o acompanha.
II.3 – O ensinamento
verbal de Cristo segundo Santo Tomás
17) As noções da organicidade do Magistério ordinário em seu
objeto, em sua expressão e na forma de sua transmissão, conforme acaba de ser
assinalado, vêm expostas de modo lapidar na resposta de Santo Tomás de Aquino,
na Summa Theologica, III, q. 42, a. 4, à seguinte questão: “se Cristo deveria
transmitir sua doutrina por escrito”.
18) A primeira razão por ele dada para justificar que “nenhum
livro escrito por Cristo conste no cânon das Escrituras” é que “aos maiores
dentre os doutores cabe o modo mais excelente de ensinar, e por isso a Cristo,
como doutor supremo, cabia ensinar imprimindo sua doutrina nos corações dos
ouvintes”.
19) A segunda razão está na “excelência da doutrina de Cristo,
que não pode se esgotar em palavras escritas”. E Santo Tomás cita, nesse
sentido, a passagem em que Santo Agostinho diz (Tract. 124 in Ioan. Ev.) que os
ensinamentos de Nosso Senhor “não poderiam ser abarcados compreensivamente pela
capacidade dos leitores”.
20) A terceira razão é “para que a doutrina dele chegasse a
todos em determinada ordem, isto é, ele ensinou imediatamente a seus
discípulos, os quais posteriormente ensinaram aos outros pela palavra oral ou
escrita”. E Santo Tomás invoca Prov. 9, 3, onde se lê que a Sabedoria “mandou
suas ancilas convocarem os soldados para a fortaleza”.
21) Objetando contra o que defende, Santo Tomás argui que, como
na Lei Velha, parece que Cristo deveria ter ensinado por escrito. E responde,
citando São Paulo, que a “lei do Espírito de vida” (Rom. 8, 2) “não deveria ser
escrita com tinta, mas pelo Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas
nas tábuas de carne do coração do homem” (II Cor. 3, 3).
22) Objeta ainda que, se tivesse escrito, Nosso Senhor poderia
ter afastado muitas ocasiões para o erro, e assim tornado mais claro o caminho
da fé. E responde: “os que não querem crer nos escritos dos Apóstolos, também
não creriam no que Cristo escrevesse”.
23) A seguir, comentando essas noções do Doutor Angélico,
procuraremos ressaltar que a palavra escrita é incapaz de dizer tudo,
especialmente nas coisas da ordem sobrenatural. Que a palavra oral tem
igualmente suas limitações, impondo-se assim ensinar também por atos, gestos,
atitudes, silêncios, símbolos, imagens, pelas artes, pois esses caminhos podem
muitas vezes levar melhor à intelecção dos imponderáveis, do sublime, do
transcendente. Que o ensino oral é, em matéria de fé, superior ao escrito. Que
uma mentalidade verdadeiramente católica, o sensus fidelium, o sentir com a
Igreja de Santo Inácio de Loyola, mais valem que a erudição na ciência
teológica. Que Deus quer salvar o homem pelo homem, mandando suas ancilas
convocarem os soldados, verdade essa essencial para bem entender o Magistério
ordinário e o âmago de sua conceituação.
II.4 – “Fides ex
auditu, auditus autem per verbum Christi”
24) Essa frase de São Paulo revela o caráter eminentemente
orgânico da transmissão da doutrina pelo Magistério ordinário. — A tradução do
texto apresenta alguma dificuldade. — Literalmente, o sentido é “a fé vem pela
audição, a audição pela pregação de Cristo”. — Várias traduções correntes se
valem de perífrases, como “a pregação vem pela audição, e é a pregação da palavra
de Cristo”, ou “a fé depende da pregação, e a pregação é o anúncio da palavra
de Cristo”, ou “a fé vem pelo que é ouvido, e o que é ouvido vem pela palavra
de Cristo”. — Há quem, num sentido extensivo mas verdadeiro, aplique a
frase à música, que pode levar às almas a doutrina de Cristo, especialmente se
forem valorizados o canto gregoriano e o polifônico. — E há quem, com
inspiração manifestamente protestante, abuse da liberdade de traduzir:
“propaganda first, faith after”, “primeiro a propaganda, depois a fé”,
aplicando o princípio às teorias de marketing, ou pelo menos do “marketing da
fé”, como algumas igrejas evangélicas o entendem.
25)Na verdade, a questão da tradução não impede nem dificulta a
intelecção plena do texto de São Paulo. Ele diz que a fé vem sobretudo pela
audição, e não pela visão de fatos relacionados com a fé, como milagres, nem
pela leitura, mesmo dos textos sagrados, nem pelos outros sentidos, que ademais
são manifestamente menos cognitivos do que a visão e a audição.
26) É certo que a visão, o mais cognitivo dos sentidos,
desempenha papel importante para que o fiel chegue à fé, mas o que Santo Tomás
afirma, em C. Gent., IV, cap. I, é que “a verdade divina, que vai além do
intelecto humano, desce até nós por revelação, não como verdade demonstrada a
ser vista, mas como verdade dita a ser crida”; e logo a seguir ele repete: “as
coisas divinas a serem por nós cridas nos são reveladas pela locução”, e assim
“a verdade revelada sobre as coisas divinas nos é proposta não para ser vista,
mas para ser crida”. Também os demais sentidos estão presentes na Sagrada
Escritura e na Tradição como tendo sua missão em relação ao ato de fé. O corpo
de Lázaro já cheirava mal. Madalena ungiu Nosso Senhor com perfumes. Foi pelo
sabor que, em Caná, o mordomo notou tratar-se de bom vinho (C. Gent., IV, cap.
I). Nosso Senhor mandou que São Tiago apalpasse as chagas (Jo. 20, 28.). E
muita coisa mais, que alimenta a pregação católica ao longo dos séculos.
27) O significado da norma excede a questão estrita dos cinco
sentidos. O bom falar vem, como regra geral, acompanhado de gestos, de
expressões faciais, de silêncios significativos, de comunicação do calor
humano, de convites implícitos a isto ou àquilo, enfim de um sem-número de
imponderáveis que com frequência dizem mais que as próprias palavras. Ou pelo
menos as completam de forma extraordinária. A boa conversa, e sobretudo a
pregação da verdadeira religião, tendem a transmitir uma mentalidade, a modelar
o espírito do ouvinte, a movê-lo para o reto caminho. Inspiram em sua alma o
sensus fidelium, o senso católico, o sentir com a Igreja de Santo Inácio de
Loyola. ― É o apostolado, hoje quase proscrito sob a alegação dita ecumênica de
que todas as religiões são boas e levam à salvação.
28) O “fides ex auditu” atende ao desígnio expresso de Nosso
Senhor, de que o homem seja salvo pelo homem. Toda a ordem da redenção invoca
essa disposição da divina Providência. ― Santo Tomás explica que a fé, como
virtude teologal, vem só de Deus. Mas, diz ele, “é necessário para a fé que as
verdades a serem cridas sejam propostas a quem crê. E isso se faz pelo homem,
pois ‘fides est ex auditu’, bem como, e principalmente, pelos anjos” (Sum. Th.,
I, q. 111, a. 1, ad 1). ― O aprofundamento desse princípio excederia o escopo
destas notas, envolvendo não apenas considerações de natureza dogmática sobre o
caráter orgânico e predominantemente auricular do Magistério ordinário, mas
também de natureza moral, ascética e mística.
29) Desde já, contudo, cabe uma palavra sobre essa afirmação de
Santo Tomás, que pode parecer estranha, de que as verdades da fé são propostas
pelos homens “e principalmente pelos anjos”. No corpo do mesmo artigo, explica
ele que, “pela ordem da divina providência, os inferiores devem submeter-se aos
atos dos superiores […]; e, como os anjos inferiores são iluminados pelos
superiores, assim os homens, inferiores aos anjos, são por estes iluminados”. É
essa uma das regras primeiras da metafísica e da teologia da organicidade, aqui
complementada pela metáfora bíblica, de que a iluminação de Deus e dos anjos é
recebida sobretudo pela audição: “falai, Senhor, que o vosso servo escuta” (1
Reg. 3,10), “ouvirei o que o Senhor me dirá” (Ps. 84, 9). Assim, a Imitação de
Cristo, num arroubo místico, exclama: “bem-aventurada a alma que ouve o Senhor
que lhe fala […]; bem-aventurados os ouvidos que acolhem o mais íntimo do
sussurro divino […]; plenamente bem-aventurados os ouvidos que não escutam a
voz que berra de fora, mas a de dentro, que ensina a verdade” (III, caps. I e
II).
II.5 – Magistério
ordinário e a formação da mentalidade católica
30) Já aludimos levemente ao fato de que a troca de ideias oral,
a conversa sobre temas religiosos, mais ainda a pregação da verdadeira
religião, e acima disso o ensinamento magisterial vivo, tendem possantemente a
transmitir uma mentalidade, a modelar o espírito do ouvinte, a movê-lo a
fixar-se em definitivo no reto caminho, criando nele sólidos hábitos de
virtudes.
31) O que é a mentalidade? ― A palavra “mentalité” só aparece na
língua francesa no século XIX. Segundo os dicionários, e no seu sentido mais
pobre, é a mente, a qualidade do que é mental, a capacidade intelectiva, o
pensamento. — Num sentido já um pouco mais rico, é o conjunto dos hábitos
intelectuais e psíquicos de um indivíduo ou de um grupo, é a maneira individual
de pensar e de julgar, é o estado mental ou psicológico da pessoa. — Essas
expressões entretanto não dizem tudo. Em seu sentido pleno, que aqui adotamos,
a mentalidade indica a visão do mundo, a Weltanschauung, o fundo mais íntimo do
posicionamento da personalidade perante as coisas, sua concepção última sobre a
natureza, o universo, a criação, enfim sobre Deus, incluindo essencialmente as
regras fundamentais de procedimento que a pessoa adota na vida.
32) A noção de que o Magistério da Igreja não deve apenas
ensinar a doutrina, mas, numa concepção orgânica do ensino, deve educar e
formar de modo pleno e total a personalidade e a mentalidade do fiel, ressalta
com particular ênfase na encíclica Divini Illius Magistri, de Pio XI: “a
educação cristã abraça toda a extensão da vida humana, sensível, espiritual,
intelectual e moral, individual, doméstica e social, não para diminuí-la de
qualquer maneira, mas para a elevar, regular e aperfeiçoar segundo os exemplos
e doutrina de Cristo”.
33) A seguir, na mesma encíclica, Pio XI caracteriza o
“verdadeiro e completo homem de caráter”, formado pelo Magistério da Igreja,
como sendo “o homem sobrenatural que pensa, julga e opera constante e
coerentemente segundo a sã razão iluminada pela luz sobrenatural dos exemplos e
doutrina de Cristo (…), pois não é qualquer coerência e rigidez de
procedimento, segundo princípios subjetivos, o que constitui o verdadeiro
caráter, mas tão somente a constância em seguir os eternos princípios da justiça”.
34) E Pio XI, citando a encíclica Militantis Ecclesiae, de Leão
XIII, escreve que “é mister (…) que não só em determinadas horas se ensine aos
jovens a religião, mas que toda a demais formação respire a fragrância da
piedade cristã, porque, se isto falta, se este hálito sagrado não penetra e
aquece os ânimos dos mestres e dos discípulos, muito pouca utilidade se poderá
tirar de qualquer doutrina; pelo contrário, virão daí danos, e não pequenos”.
35) Cumpre sublinhar, nesta última citação, as palavras “respirar
a fragrância da piedade cristã”, densas de conotação orgânica, uma vez que
apontam para o caráter vivo, nada livresco, da formação católica. E também, no
mesmo sentido, a passagem que declara a “muito pouca utilidade (…) de qualquer
doutrina” que venha desacompanhada da mesma fragrância da piedade cristã. Dessa
falta, advirão “danos, e não pequenos”.
36) Postula um comentário, igualmente, a frase em que Leão XIII
e Pio XI declaram que o “hálito sagrado” da educação cristã deve penetrar nos
ânimos dos mestres e dos discípulos, e “aquecê-los”. — Não se referem eles,
portanto, apenas aos alunos, mas também aos professores, pois não há verdadeira
educação católica se os docentes não souberem exercer seu magistério
organicamente. — A palavra “aquecê-los” remete a noções correntes, como as de
“calor humano”, “calor de alma”. Calor significa metaforicamente atividade,
vivacidade, ardor, entusiasmo, zelo, sem os quais não há educação cristã. E sem
isso igualmente não há Magistério ordinário orgânico, nem, portanto, Magistério
ordinário pujante e verdadeiro. E dizemos isso em termos de teologia dogmática,
não apenas ascético-mística.
37) O filósofo marxista Gramsci dizia que o “mal” da Igreja
Católica, e ao mesmo tempo a sua força, estão em que todos os seus membros, de
Santo Tomás de Aquino ao fiel mais simples, pensam da mesma maneira. Em termos
mais precisos, não se trata apenas de pensar da mesma maneira, mas de ter a
mesma mentalidade, a mesma Weltanschauung, a mesma visão do mundo, de modo tal
que o fundo da alma e da mente do fiel é formado, é conformado, é moldado
segundo a verdade revelada por Nosso Senhor.
38) Descaberia aqui uma defesa dessa unidade de pensamento e de
mentalidade que caracteriza os católicos. Não é para os fiéis, aos quais nos
dirigimos, que haveremos de provar que tal característica dos católicos não
viola a liberdade dos filhos de Deus, nem envolve “lavagem cerebral”, mas advém
da submissão racional, lúcida, consciente, inspirada pela graça, à divina
Revelação.
39) Seguir, pois, o ensinamento tradicional do Magistério em vez
das novidades de hoje, não é, como dizem alguns, adotar um “livre exame”
protestante, que escolhe aquilo que quer crer, mas é ser fiel à continuidade
orgânica do Magistério. A fidelidade à Tradição não nasce de um livre exame
mas, pelo contrário, da submissão da inteligência e da vontade ao que foi
revelado por Nosso Senhor, a Verdade única e subsistente, e ensinado ao longo
dos séculos pelo Magistério perene da Igreja.
II.6 – “Sensus fidelium”, senso católico, sentir com a Igreja
40) A pregação pela palavra, a presença viva do Magistério
ordinário orgânico junto ao fiel, do mais simples ao mais erudito, criam neste
um novo “sentido”, ou novos “sentidos”, pelos quais suas reações diante dos
acontecimentos refletem profunda e espontaneamente suas convicções religiosas e
morais. São hábitos arraigados no âmago da alma, pelos quais o fiel “sente” com
Nosso Senhor. Torna-se, com a graça, um “alter Christus”. Surgem assim os
conceitos de sensus fidelium, de senso católico, de sentir com a Igreja, cada
um dos quais merece uma análise cuidadosa.
41) O sensus fidelium acentua sobretudo o sentido da fé. Assim,
sobre a crise ariana, o Cardeal Newman escreveu que “o dogma de Nicéia se
manteve durante a maior parte do século IV, não pela firmeza inquebrantável da
Santa Sé, dos Concílios e dos Bispos, mas pelo consenso dos fiéis” (vide item
n.º 59, adiante).
42) O “senso católico” tem alcance mais amplo, conotando não
apenas as ações e atitudes da pessoa perante a fé, mas em face de tudo que diz
respeito à Igreja e à salvação das almas. Corresponde ao “espírito católico”,
ao “bom espírito”, que devem estar presentes na vida quotidiana, no modo de
comportar-se, de pensar, de trabalhar, de relacionar-se com outrem, em tudo
enfim. O católico deve ser outro Cristo. Segundo um velho dito de Santo
Agostinho, talvez mais místico de que ascético, “Deus intimior intimo meo”,
“Deus me é mais íntimo do que o meu íntimo” (Confissões, liv. 3, cap. 6).
43) O “sentir com a Igreja”, de que fala Santo Inácio de Loyola,
representa a fina ponta do querer e deixar-se modelar pela fé. Não é só pensar,
mas “sentir”. Os Exercícios Espirituais propõem dezoito regras que devem ser
guardadas “para o verdadeiro sentido que devemos ter na Igreja militante”. A primeira
regra é que, “deposto todo o juízo próprio, devemos ter o espírito preparado e
pronto para obedecer em tudo à verdadeira Esposa de Cristo, nosso Senhor, que é
a nossa mãe, a Igreja hierárquica”. Devemos louvar a confissão ao sacerdote, a
recepção do Santíssimo Sacramento, a assistência frequente à Santa Missa, a
vida religiosa, a virgindade, a continência, as relíquias dos Santos, as
peregrinações, a patrística e a escolástica, e enfim tudo que a Igreja louva.
“Devemos louvar todos os preceitos da Igreja, com prontidão de espírito para
buscar razões para os defender e, de modo nenhum, para os criticar”. “Para em
tudo acertar, devemos estar sempre dispostos a acreditar que o branco, que eu
vejo, é negro, se a Igreja hierárquica assim o determina”.
44) As palavras “senso” e “espírito” são muito expressivas das
convicções profundas que modelam o pensamento do católico verdadeiro, e da
retidão de vontade daquele que, sob o influxo da graça, se faz identificar com
a doutrina da Igreja. — Nessa acepção, além do que já apontamos acima, são
correntes as expressões “senso moral”, “senso de justiça”, “senso de honra”,
“senso de hierarquia”, “senso do pecado”, “senso contra-revolucionário”. — E
“espírito católico”, “espírito de fé”, “espírito de sacrifício”, “espírito de
apostolado”. — Em sentido oposto à fé e à virtude, é comum falar em “espírito
de revolta”, “espírito protestante”, “espírito igualitário”, “espírito
revolucionário”, “mau espírito”. — Essas duas palavras são também largamente
usadas em terrenos do pensar e do agir humanos que de si não envolvem questões
de fé e moral, como ”senso comum”, “senso jurídico”, “senso médico”, “senso
prático”, “senso artístico”, “espírito público”, “espírito geométrico”,
“espírito de finesse”.
II.7. – Teologia
dogmática ou poesia devota?
45) – Ao que vem dito até aqui sobre o caráter orgânico do
Magistério ordinário, caberia uma objeção de fundo: tal concepção mistura
teologia com poesia. Uma coisa, diria alguém, é a Sagrada Teologia, científica,
pura e fria, exposta nos tratados de dogmática, moral, etc., e outra coisa é a
beleza contida no depósito revelado, que pode ser expressa na oratória, na
poesia, na música, etc., para edificação dos fieis.
46) – Assim formulada, a questão exige que se distingam com
cuidado três campos bem diversos: (i) de um lado há, sem dúvida, a teologia
fria, sistemática, científica, dos tratados, dos livros técnicos, dos artigos
especializados; (ii) no extremo oposto há a pregação, que procura mover as
almas para o bem; há a poética, que canta a beleza da natureza humana elevada à
ordem sobrenatural; há a pintura, há a música, há todas as demais artes; há a
pastoral, há o apostolado; (iii) mas entre uma coisa e outra há o vasto campo
dos ensinamentos de Nosso Senhor irredutíveis a termo, há a “excelência da doutrina
de Cristo, que não pode se esgotar em palavras escritas”, como diz Santo Tomás
(Sum. Th., III, q. 42).
47) – O que defendemos, é que essas “outras coisas que Jesus
fez”, que não cabem nos livros, como também as que estão registradas por
escrito, contêm um sem-número de verdades que os manuais não esgotam, e que
devem ser ensinadas pela Igreja, como sempre o foram. É a Tradição. É o caráter
“orgânico”, e não mecânico ou livresco, do objeto da Sagrada Teologia, e
portanto dela própria. Recorde-se uma vez mais o texto em que, dirigindo-se
expressamente tanto ao fiel comum como ao filósofo e ao teólogo, Pio XII ensina
que a explicitação da verdade revelada se faz “de forma tão ordenada e orgânica
como vemos estar constituída a própria natureza da qual se extrai a verdade”.
48) – E esse ensino, a Igreja o faz essencialmente na sua
pregação quotidiana por todo o orbe, continuada através do tempo, verdade essa
obliterada por muitos daqueles que alimentam noções equivocadas sobre o
Magistério ordinário.
49) – São numerosas as passagens e figuras dos Evangelhos densas
de doutrina e de poesia, como o “Magnificat”, o “nunc dimittis”, o “deixai vir
a mim os pequeninos”, os lírios do campo, as bem-aventuranças, as parábolas em
geral. — Isso ocorre igualmente nas epístolas dos Apóstolos: “a caridade é
benigna, não pensa o mal”, “combati o bom combate”; nos Atos dos Apóstolos:
“cor unum et anima una”; no Apocalipse, todo ele uma poesia forte, dura, cheia
de imagens pesadas, mas extremamente rica e verdadeira. — E já o mesmo se
encontra a cada passo no Antigo Testamento, com diversos livros estritamente
poéticos, dos quais nos seja permitido citar apenas dois incisos singelos: “é
inútil levantar-vos antes do sol e recolher-vos em alta noite, ó vós que comeis
o pão do duro labor, porque aos seus amados Ele distribui fartamente durante o
sono”; e a divina Sabedoria “estava com o Pai, ordenando a criação inteira, e
alegrava-se todos os dias, brincando diante dele todo o tempo, brincando no
orbe da terra” (Prov. VIII, 30-31).
Capítulo III –
Aprofundando a noção de Magistério ordinário orgânico
50) Uma vez retro delineado, em seus elementos fundamentais, o
caráter orgânico do Magistério ordinário, é de rigor que, num passo seguinte, a
matéria seja desenvolvida, pormenorizada em seus aspectos relevantes,
enriquecida com exemplos e fatos de natureza variada, e sobretudo mais
amplamente calçada em documentos da Tradição. Dessa forma, ficará claro que a
doutrina não é nova e peregrina, mas velha e firme, hoje entretanto quase de
todo esquecida.
51) Para esse aprofundamento do tema, seria útil abordar, sempre
à luz da Tradição, várias questões a seguir indicadas. — Algumas, estritamente
teológicas, envolvem concepções equivocadas, hoje correntes, que dificultam a
compreensão do caráter orgânico do Magistério ordinário. Outras, mais práticas,
vistas muitas vezes à luz da História, levam a melhor intelecção tanto dos
princípios quanto das decorrências concretas da teoria do Magistério orgânico.
Ainda outras preveem objeções, débeis ou graves, ao que propomos. — É nosso
propósito procurar desenvolver essa vasta temática, na medida em que a
Providência no-lo permita.
52) Enumerando várias dessas questões, não pensamos em
classificá-las num esquema sistemático, o que seria engessá-las, pois todas se
entrelaçam entre si. Uma exposição livre e sem preocupações acadêmicas
parece-nos atender melhor aos objetivos aqui visados.
III.1 – A doutrina
clássica sobre o Magistério ordinário
53) O Magistério ordinário vinha sendo estudado desde antes do
Vaticano I. Aquele conclave definiu a infalibilidade do Magistério ordinário
“universal”. De então a esta parte, grandes autores têm desenvolvido a matéria
com maestria, ao mesmo tempo em que desvios não pequenos têm-se infiltrado nas
exposições, às vezes as mais eruditas. Não caberia aqui uma análise exaustiva
do assunto. Pretendemos apresentar oportunamente algumas observações sobre essa
doutrina, que chamaríamos de “clássica”, sobre o Magistério ordinário. – O
ponto mais sensível dessa teoria é a definição, pelo Vaticano I, da
infalibilidade do Magistério ordinário “universal”. — É também nossa intenção
estudar, a seu tempo, as relações harmoniosas e densas de ensinamentos
preciosos, que existem entre essa doutrina “clássica” e a do Magistério
ordinário orgânico.
III.2 – Encíclica
Mystici Corporis Christi
54) Para mais sólida fundamentação da doutrina do Magistério
ordinário orgânico, e para seu amplo desenvolvimento no terreno dogmático, é de
fundamental importância um cuidadoso estudo da Encíclica de Pio XII Mystici
Corporis Christi, de 1943.
III.3 – O “orgânico”, da biologia à metafísica e à teologia
trinitária
55) A organicidade, cujo exemplar primeiro é a vida divina,
exige melhor exame. Este começará pelo órgão biológico. Passará à psicologia
individual e coletiva. Não poderá faltar estudo específico da sociedade
orgânica, em particular dos princípios da subsidiariedade, da complementaridade
e tantos outros. Serão aprofundados os conceitos de “povo” e “massa”. Subindo à
metafísica, ficará provado que Deus “tem vida perfeitíssima e sempiterna,
porque o intelecto dele é perfeitíssimo e sempre em ato” (Sum. Th., I, q. 18,
a. 3, c.). Chegando à teologia trinitária, será possível ver que “as processões
das Pessoas são as razões da produção das criaturas, enquanto incluem os
atributos essenciais que são a ciência e a vontade” (Sum. Th., I, a. 45, a. 7,
c.)
III.4 – Hierarquia e
fieis
56) Cumpre aprofundar o princípio de que as promessas especiais
de Cristo para o Magistério da Igreja se dirigiram apenas ao Papa e aos Bispos.
São estes os depositários da doutrina revelada, que a conservam, interpretam e
transmitem intacta ao longo dos séculos. Os fieis, entretanto, não são simples
receptáculos mortos dos ensinamentos da Hierarquia. Não são vasos de vidro,
inertes. Como ensina São Paulo, a doutrina é esculpida não em tábuas de pedra,
mas nas tábuas de carne do coração do homem. Assim, a missão dos fieis, aí
incluídos teólogos, párocos, sacerdotes, leigos, é de receber os ensinamentos
da Hierarquia, inteligi-los, elaborá-los, transmiti-los, tudo isso de forma
orgânica e ativa. Tal concepção se opõe a certa tendência, encontradiça cá e lá
em alguns ambientes teológicos, de considerar os leigos como elementos
inevitavelmente infantis e abobados, peso doutrinariamente passivo na vida da
Igreja. Essa tendência recusaria aos fieis um papel fundamental de preservação
da fé, sobretudo nos momentos de crise, como ocorreu no século IV, conforme
expõe o Cardeal Newman (ver item nº 59, adiante).
III.5 – Doutrinas que
a hierarquia aprova
57) Papa e Bispos não ensinam apenas pela palavra escrita ou
oral e por atos, gestos, símbolos, etc. Existe também outra forma de Magistério
verdadeiro e rico, que é ensinar aprovando aquilo que é elaborado, proposto e
divulgado pelos fieis. Assim, por exemplo, os ensinamentos de Santo Tomás de
Aquino, louvados, aprovados, e propostos como obrigatórios para as escolas
católicas por numerosos Papas, constituem inquestionavelmente doutrinas que se
incorporaram ao Magistério da Igreja. — A aprovação de ensinamentos de simples
fieis não é sempre e necessariamente tão expressa e ampla como no caso de Santo
Tomás. Tal aprovação é no entanto frequente na vida diária da Igreja,
devendo-se atribuir-lhe autoridade maior ou menor conforme as circunstâncias e
peculiaridades de cada caso, isto é, considerando-se a natureza dos atos
aprobatórios, seus termos e formas, seu objeto, sua extensão no tempo e no
espaço, enfim todas as suas circunstâncias.
III.6 – Aprovação
tácita
58) Exigiria também estudo mais circunstanciado a tese,
absolutamente segura, de que a aprovação de ensinamentos de simples fieis pela
Hierarquia pode se fazer também de forma implícita. O Papa e os Bispos não têm
apenas o direito, mas têm obrigação estrita e irrenunciável de condenar os
erros que se infiltrem nos meios católicos. Não podem calar-se, como São Pedro
perante os algozes de Cristo. Devem falar, oportuna ou inoportunamente. Se se
calam, estão por esse silêncio manifestando sua aprovação tácita ao que é
ensinado às suas ovelhas.
III.7 – Cardeal
Newman e o arianismo no século IV
59) Merece estudo especial, à luz da doutrina do Magistério
ordinário orgânico, a polêmica das últimas décadas do século XIX sobre a crise
ariana do século IV. – Em 1859, o Cardeal Newman escreveu: “O dogma de Nicéia se
manteve durante a maior parte do século IV, não pela firmeza inquebrantável da
Santa Sé, dos Concílios ou dos Bispos, mas pelo consenso dos fieis. Durante
certo tempo, a massa dos Bispos falhou na confissão de sua fé. Pronunciaram-se
em sentidos diferentes, uns contra outros; por cerca de sessenta anos depois de
Nicéia, nada houve que se parecesse com um testemunho firme, constante,
consequente. Houve concílios pouco seguros, Bispos infiéis: debilidade, temor
das consequências, desorientações, ilusões, alucinações sem fim, sem esperança,
que quase alcançaram os rincões mais recônditos da Igreja Católica, Os poucos
Bispos que permaneceram fieis foram desacreditados e desterrados; o resto se
compunha dos que enganavam e dos que eram enganados” (The Rambler, julho de
1859, p. 214). – Acusado de heterodoxia, o Cardeal Newman manteve sua posição,
esclarecendo-a melhor em novos trabalhos. Em 1879 Leão XIII o elevou ao
cardinalato. E foi ele posteriormente objeto de uma carta laudatória de São Pio
X. — Nessa questão, não cuidaremos tanto da ortodoxia da tese Newman, mas
sobretudo do “consenso dos fieis”, sinal e reflexo do ensinamento do Magistério
ordinário orgânico.
III.8 – Bento XVI e
as crianças de tempos passados
60) Já no item 28 do primeiro trabalho desta nossa série sobre o
Magistério Ordinário, o Grande Desconhecido, intitulado O Magistério ordinário
pode ensinar por atos e gestos, aludimos ao sermão da quinta-feira santa, 5 de
abril de 2012, em que Bento XVI afirmou: “Os elementos fundamentais da fé, que no
passado toda criança sabia, são cada vez menos conhecidos”. Ali observamos
tratar-se de uma “frase lapidar, que tem força e porte para orientar a Pastoral
e mesmo a Teologia dogmática em todo o futuro da Igreja”. Acrescentamos ainda
que “nos estudos amplos sobre o Concílio Vaticano II, que se estão
desenvolvendo de modo extraordinário nestas vésperas da comemoração de seu
cinquentenário, essa frase histórica de Bento XVI deve ser um marco básico para
todos os teólogos verdadeiramente católicos”. — Aprofundando essa lição
pontifícia, veremos como o Magistério ordinário orgânico infundia até nas
crianças uma mentalidade católica tão arraigada, um senso religioso tão agudo,
que nelas ficavam insculpidos “os elementos fundamentais da fé”, hoje “cada vez
menos conhecidos”.
III.9 – O “senso
cristão” no ensino do Pe. Balić
61) Tornou-se muito conhecida, nos meios especializados, uma
conferência do Pe. Balić, OFM, professor do Pontifício Ateneu Antoniano, dos
padres franciscanos em Roma, pronunciada na Universidade Gregoriana e publicada
na revista Gregorianum em 1952 (vol. XXXIII, 1, pp. 106-134). Ele desenvolve de
modo brilhante a doutrina do “senso cristão” do católico fiel, distinguindo-a
do “sentimento religioso” modernista. Entendemos que se impõe uma análise
cuidadosa desse magnífico estudo, com o que se tornará patente o apoio sólido
que têm na neoescolástica as teses aqui desenvolvidas sobre a formação da
mentalidade católica, sobre o espírito de fé, sobre o sentir com a Igreja.
III.10 – Gramsci,
Santo Tomás e o lenhador católico
62) A passagem do marxista Gramsci, já referida no item 37
retro, merece análise aprofundada. Na concepção dele, o “mal” e a força da
Igreja Católica vêm do fato de que Santo Tomás e o fiel mais simples pensam da
mesma maneira. Visto num quadro dogmático e pastoral, esse fato, por ele
apresentado como meramente político e sociológico, carrega em si afirmação
possante da capacidade do Magistério ordinário de formar, moldar e consolidar,
com o auxílio da graça divina, o espírito de todo católico, dos maiores
pensadores até o lenhador inculto. Essa teoria explica melhor as noções da
mentalidade católica, do senso católico, do espírito fiel, do sentir com a
Igreja, conforme exposto nos itens 30 a 44 retro.
III.11 – Santo Tomás
e a estética medieval em De Bruyne
63) O caráter orgânico do Magistério ordinário, como o da
filosofia, da teologia e da Criação, ressalta com notável esplendor nos
escritos de Edgar de Bruyne (1898-1959), que deveriam ser mais conhecidos.
Belga, professor da Universidade de Gand, senador, ministro das colônias,
grande estudioso da Idade Média e de Santo Tomás, publicou ele em 1946 Études
d‘Esthétique Médiévale. Os comentadores salientam que esse alentado trabalho
lançou as bases do que se denominaria mais tarde a “história das sensibilidades
estéticas”, expondo as diversas doutrinas do belo, de Boécio às grandes sumas
teológicas dos séculos XII e XIII, numa obra profundamente inovadora, que
mostrou como a civilização medieval fez do mundo um canto à glória do “belo
Deus”. — Não compreende o Magistério ordinário da Igreja, fundamentalmente
orgânico, quem não o vê como ordenado, em seu cerne, a cantar a glória do belo
Deus.
III.12 – Uma página
de Mons. Vacant pouco divulgada
64) Mons. Jean Michel Alfred Vacant (1852-1901) foi convidado,
em 1897, a coordenar a edição do monumental Dictionnaire de Théologie
Catholique, de cuja publicação só chegou a ver os primeiros fascículos. Em
1887, foi ele premiado em Paris, num prestigioso concurso teológico, com sua
tese intitulada Le Magistère Ordinaire de l’Eglise et ses Organes. A concepção
básica do Magistério ordinário que ele aí apresenta corresponde plenamente ao
que propomos nesta série sobre o Magistério Orgânico, o Grande Desconhecido.
Afirma ele que “não só o Papa e os Bispos, mas também os ministros inferiores
da Igreja, os simples fieis e quase todos os homens emprestam suas vozes a esse
magistério ordinário e se tornam seus instrumentos”, porque, “embora todos os
dons divinos nos venham pelo episcopado”, têm contudo os Bispos seus
“auxiliares, que os ajudam a cumprir sua missão, sem sairem da dependência que
lhes é devida e sem terem recebido nenhum ministério”, como são os escritores
católicos e os leigos que, “sem gozarem de nenhum cargo para instruírem seus
irmãos nas verdades da fé, fazem isso entretanto com a aprovação expressa ou
legitimamente presumida dos pastores; tais são os pais que educam seus filhos
nos princípios da fé católica e os professores que contribuem para a educação
cristã da juventude”. — Esse trabalho de Mons. Vacant deve ser aprofundado à
luz da doutrina do Magistério ordinário orgânico.
III.13 – Erros no
Magistério ordinário
65) Na revista Catolicismo, de julho de 1969, publicamos o
artigo Pode Haver Erro em Documentos do Magistério Pontifício ou Conciliar?,
que foi incluído no livro Considerações sobre o ‘Ordo Missae’ de Paulo
VI, de l970, para o qual escrevemos ainda novo capítulo: Pode Haver Heresia em
Documentos do Magistério Pontifício ou Conciliar? — Ambos os textos constaram
da edição francesa do livro La Nouvelle Messe de Paul VI: Qu’en Penser? (Diff. de
la Pensée Franç., Chiré en Montr., 1975, 357 pp.). — Concluímos então que, “em
princípio, não repugna a existência de erros em documentos não infalíveis do
Magistério, mesmo do Magistério pontifício e conciliar”, e que “não vemos como
excluir, em princípio, a hipótese de heresia em documento oficial do Magistério
pontifício ou conciliar não revestido das condições que o tornariam infalível”
(respect. Consid. …, p. 59 e 66, e La N. Messe …, pp. 308 e 318). – Essas
teses, embora já provadas, devem ser agora atualizadas e aprofundadas, com base
mais ampla na Tradição.
III.14 – Cristo não
dotou a Igreja de uma infalibilidade omnímoda e absoluta
66) Paralelamente ao estudo da possibilidade de erros e heresias
em documentos magisteriais, seria importante desenvolver a tese de que Nosso
Senhor poderia ter ornado a Igreja com uma infalibilidade e uma inerrância
omnímodas e absolutas, mas não o fez. Já expusemos brevemente essa doutrina na
refutação, posta neste nosso site em 28 de dezembro de 2011, de artigo publicado
em L’Osservatore Romano por Mons. Fernando Ocáriz. Julgamos necessário que tal
doutrina seja amplamente desenvolvida, pois sua negação, muitas vezes
implícita, mas sempre radical, está na raiz de um sem-número de desvios
correntes em nossos dias.
III.15 – “Minor sed
sanior pars”
67) Seria útil uma pesquisa específica sobre a teoria
tradicional da minor sed sanior pars, para demonstrar que, em períodos de
crise, de singularidade histórica, esse conceito se aplica fundamentalmente aos
que permanecem com a Tradição. Para esse estudo será importante analisar a
interpretação dada pela Patrística, pela escolástica, e enfim por toda a
Tradição da Igreja, à frase do Evangelho: “quando vier, o Filho do Homem
encontrará a fé na face da Terra?”
III.16 – Magistério
extraordinário papal e organicidade
68) O Magistério extraordinário papal é orgânico? — Sem dúvida
não o é na forma solene pela qual dirime uma questão, ao modo de uma
intervenção cirúrgica, por isso mesmo dita “extraordinária”. — Também não o é
enquanto não se atém essencialmente ao que pensam os fieis, nem se subordina ao
posterior consenso da Igreja. — Mas é orgânico quanto ao caráter harmônico da
doutrina que propõe, a qual, no dizer de Pio XII, deve sobrepor verdade sobre
verdade, sem rupturas que desfigurariam o depósito revelado, levando a Igreja a
transformar-se em outra igreja. E é igualmente orgânico quando, em certos
casos, como nas definições da Imaculada Conceição e da Assunção de Nossa
Senhora, procura conhecer previamente, e a fundo, o que creem os Bispos de toda
a Igreja e os fieis sobre a doutrina a ser definida. Seria muito bem-vindo um
estudo mais amplo de toda essa matéria.
III.17 – O Vaticano
II e o Magistério ordinário orgânico
69) Quando, num futuro que esperamos próximo, estudarmos aspectos
do Vaticano II à luz da doutrina do Magistério ordinário orgânico, veremos que
não são poucas as considerações a serem feitas sobre o caráter não infalível de
suas decisões, a despeito da posição daqueles para quem foram elas
inquestionavelmente infalíveis. As declarações papais sobre sua natureza
pastoral e não dogmática, colocam-no no terreno do não vinculante, mais ainda
quando nos últimos pontificados a preocupação tem sido muitas vezes de
dialogar, e não de ensinar. Em toda a Igreja, a sanior pars dos fieis jamais
manifestou seu consenso em relação às doutrinas novas, ditas “controvertidas”,
como a da liberdade religiosa, a da colegialidade, a do ecumenismo. Embora
Bento XVI tenha dito que em tempos passados as crianças conheciam os elementos
fundamentais da fé, é certo que ainda prevalece entre os fieis, eruditos ou
simples, a noção da boa doutrina, uma mentalidade católica genuína, um senso
cristão intocado. Os espíritos objetivos e não contaminados pelo relativismo
modernista haverão, igualmente, de estudar as relações entre o Concílio e o
pós-concílio, entre o dito por palavras e o proclamado por atos, entre o
afirmado e o insinuado, entre o que aprenderam em criança e o que hoje estão
vendo. Numa perspectiva histórica, e para que se entenda como os documentos do
Vaticano II puderam e podem, ontem como hoje, sobretudo num ictu occuli
primeiro, ser interpretados em sentidos diversos, será útil perguntar por quais
razões vários Bispos anti-modernistas julgaram poder assiná-los, razões essas
que têm estado ausentes dos atuais debates sobre o tema. Para esse, como para
qualquer outro estudo sério sobre o Vaticano II, será fundamental a obra, que
já se tornou clássica, Concilio Vaticano II, Una Storia Mai Scritta, do Prof.
Roberto de Mattei (Lindau, Torino, 2011).
Capítulo IV – Síntese
e conclusão
70) Resumimos. O Magistério ordinário não contém, como muitos
pensam, apenas os pronunciamentos papais e episcopais escritos e os
originariamente orais. É um acervo muito mais vasto, copioso e rico, do mesmo modo
que os ensinamentos diretos de Nosso Senhor foram muito além do que consta no
Novo Testamento. Inclui doutrina não redigida, exemplos, formas de ser, de
pensar e de reagir perante fatos favoráveis ou adversos, falas na hora de
falar, silêncios na hora de silenciar, e tanta coisa mais que carrega consigo
ensinamentos, sendo portanto verdadeiros atos magisteriais.
71) Não é, portanto, um Magistério ordinário livresco, meramente
técnico e especulativo, frio, morto, destituído de alma e de calor, que só pode
levar ao tédio e a uma vida sem sentido, sem atrativos, sem entusiasmos – numa
palavra, a uma vida sem vida. Segundo Pio XII, a própria natureza é orgânica,
como devem ser a filosofia e a teologia. E consequentemente, acrescentamos,
também o Magistério ordinário da Igreja.
72) Humildes escribas, jamais pretenderemos pôr em palavras o
que Santo Tomás declara nelas não caber. Mas ele também ensina que “a luz
natural da inteligência é fortalecida pela infusão da luz gratuita da graça”
(Sum. Th., I, q. 12, a. 13, c.). E, no Adoro te devote, nos convida a rezar
“Praesta meae menti de te vivere, et te illi semper dulce sapere” (“Dai à minha
mente viver de Vós, e sempre docemente Vos saborear”). ― Que, com a intercessão
dele, advenha a final vitória de Nossa Senhora sobre os inimigos da Santa
Igreja.
* * *
ÍNDICE
Capítulo I −
Interpretações equivocadas do Vaticano II – itens 1-3
Capítulo II – A
natureza orgânica do Magistério ordinário – item 4
II.1 – Trata-se
de um Magistério orgânico e cheio de vida – itens 5-15
II.2 – Os sete
sentidos em que o Magistério ordinário é orgânico – item 16
II.3 – O
ensinamento verbal de Cristo segundo Santo Tomás – itens 17-23
II.4 – “Fides ex
auditu, auditus autem per verbum Christi” – itens 24-29
II.5 –
Magistério ordinário e a formação da mentalidade católica – itens 30-39
II.6 – “Sensus
fidelium”, senso católico, sentir com a Igreja – itens 40-44
II.7 – Teologia
dogmática ou poesia devota? – itens 45-49
Capítulo III –
Desenvolvendo a doutrina do Magistério ordinário orgânico – itens 50-52
III.1 – A
doutrina clássica sobre o Magistério ordinário – item 53
III.2 –
Encíclica Mystici Corporis Christi – item 54
III.3 – O
“orgânico”, da biologia à metafísica e à teologia trinitária – item 55
III.4 –
Hierarquia e fieis – item 56
III.5 –
Doutrinas que a hierarquia aprova – item 57
III.6 –
Aprovação tácita – item 58
III.7 – Cardeal
Newman e o arianismo no século IV – item 59
III.8 – Bento
XVI e as crianças de tempos passados – item 60
III.9 – O “senso
cristão” no ensino do Pe. Balić – item 61
III.10 –
Gramsci, Santo Tomás e o lenhador católico – item 62
III.11 – Santo
Tomás e a estética medieval em De Bruyne – item 63
III.12 – Uma
página de Mons. Vacant pouco divulgada – item 64
III.13 – Erros
no Magistério ordinário – item 65
III.14 – Cristo
não dotou a Igreja de uma infalibilidade omnímoda e absoluta – item 66
III.15 – “Minor
sed sanior pars” – item 67
III.16 –
Magistério extraordinário papal e organicidade – item 68
III.17 – O
Vaticano II e o Magistério ordinário orgânico – item 69
Capítulo IV –
Síntese e conclusão – itens 70 a 72
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