“Ad te levávi ánimam
meam: Deus meus, in te confíde, non erubéscam: neque irrídeant me inimíci mei:
étenim univérsi, qui te exspéctant, non confundéntur”.
MISTÉRIO DA
ENCARNAÇÃO
Nos eternos desígnios de Deus, a Encarnação
da segunda Pessoa da Santíssima Trindade estava decretada em vista do pecado de
Adão e Eva, autores da perdição de todo o gênero humano. A eles Deus contrapõe
Jesus e Maria, respectivamente, autor e medianeira suplicante da vida
espiritual da graça.
No período natalício a Virgem Mãe e Cristo
Senhor são festejados inseparavelmente. Celebra-se a preparação levada a efeito
pelo Eterno Pai no decorrer dos séculos. Chegada que foi a plenitude dos
tempos, deu ele ao mundo o Verbo Eterno, que nasceu de uma Virgem e preparou-se
para a Redenção com uma vida oculta de trinta anos.
Compreende
esse período litúrgico de três fases:
1ª
– O Tempo do Advento, que lembra os
milênios durante os quais a humanidade esperou a vinda do Messias. Advento
significa precisamente Vinda.
2ª
– O Tempo do Natal, que recorda o
nascimento e as várias manifestações de Jesus. Inclui a festa da Epifania,
palavra que quer dizer Manifestação.
3ª – O
Tempo da Epifania, que relembra a vida pública de Jesus, na qual ele
manifestou repetidamente, com palavras e portentosos milagres, a sua missão.
1. Preparação: Tempo do Advento
À espera do Messias
O Advento é o período preparatório para as
festas natalinas. Começa com o domingo mais próximo à festa de Santo André, a
30 de novembro, e termina com a vigília do Natal.
Atualmente, o ano litúrgico tem início com
o primeiro domingo do Advento. Até fins do século III, começava com o tempo
preparatório da Páscoa. A instituição da festa do Natal fez antecipar o
início do ano ao que é hoje.
Os primeiros traços do Advento encontram-se
na Espanha e na França. O Concílio de Saragosa, no ano de 381, estabeleceu um
período de três semanas em preparação para a festa da Epifania. Tal período foi
ampliado, no decorrer do século seguinte, - o que aliás se deu também com o de
preparação para a Páscoa – abrangendo então seis semanas e recebendo o nome de “Quaresma
de São Martinho”. Esse uso estendeu-se à Itália setentrional e vigora
atualmente na Igreja milanesa, de rito ambrosiano, e no rito mozarábico,
empregado na diocese espanhola de Toledo.
Em Roma, o Avento teve origem sob Papa
Simplício, entre os anos 471 e 483, após os grandes debates cristológicos
contra Nestório e Eutiques. Definiu-se então como dogma de fé a verdade das
duas naturezas na única pessoa de Cristo, e a consequente Maternidade divina de
Maria Santíssima. Segundo os textos litúrgicos gregorianos, o Advento, em Roma,
foi sempre composto de quatro domingos.
Comentário dogmático
–
Na liturgia do Advento a Igreja relembra as três vindas de Cristo:
1ª – A
vinda temporal, que se deu com o nascimento, em Belém, após a longa espera
de vários milênios. Prometido logo após a queda de nossos progenitores, o
Messias era o objeto da espectativa de todo Antigo Testamento. Revelando aos
poucos o mistério da Redenção, quis Deus fazer que o homem compreendesse, por
experiência de séculos, a própria debilidade e miséria, a impossibilidade
absoluta de ressurgir por si mesmo, e a necessidade que tinha de Messias libertador.
2ª – A
vinda espiritual ou nascimento
místico de Jesus nos corações, que se dá no curso da vida terrena de toda a
criatura humana. Cada dia, ou melhor, cada momento é uma pequena vinda de Jesus
a nós, e uma perene preparação para o eterno natal das almas no paraíso.
3ª –
A última vinda de Jesus Cristo para o Juízo Final. Será o complemento da
obra redentora. Jesus virá na sua glória de Juiz e chamará para a felicidade
eterna todos os que o tiverem seguido com fé, amor e perseverança; porém, os
que o tiverem renegado serão afastados dele por toda a eternidade.
Ensinamento
ascético –
A vinda temporal de Jesus é um fato passado. Mas, como mistério vivo e real na
Eucaristia, tem uma virtude e uma graça especial. Nas quatro semanas do Advento
a Igreja quer preparar os fiéis para as graças que o Deus Menino mereceu com o
seu nascimento. A Igreja apresentará três personagens que encarnam os
sentimentos de nossa preparação, a saber:
A primeira personagem é o profeta Isaías, que sintetiza e personifica os
anseios e aspirações, a impaciente espera e a súplica ardente dos patriarcas,
dos demais profetas e de todos os juízes do Antigo Testamento.
Esse anelo de fecunda expectativa, as
almas façam-no seu e preparem-se para festejar, com grande confiança, o Natal
do Messias. Não as façam temer os seus pecados! O Salvador veio precisamente para
tirá-los e fazer-nos participantes da vida divina, dando-nos as graças
necessárias para alcançarmos a salvação eterna.
A segunda personagem é São João Batista, o Precursor do Messias:
prepara mais de perto os caminhos do Senhor, com ardorosa pregação em que
convida os fiéis à penitência e à conversão. “Preparai os caminhos do Senhor...”
A parte principal, no Advento, cabe
naturalmente à Virgem Maria, dignamente
chamada “o Paraíso da Encarnação”. De Maria comemora-se, na Quinta-feira das Têmporas
do Advento, a Anunciação, e na Sexta-feira a Visitação, duas festas marianas
celebradas, com maior júbilo, nos dias 25 de março e 2 de julho,
respectivamente.
No início do Advento, festeja-se Maria
Santíssima a Imaculada Conceição, protótipo da preparação para o Santo Natal.
Maria é apresentada no recolhimento da
casa de Nazaré, na aceitação total da vontade de Deus com o solene “fiat” e na
ansiosa espera de Jesus, que ela guardava no seu ventre virginal. A Virgem, pela
sua pureza, humildade e união íntima com Deus, apresenta-se-nos qual vivo e
perene convite a preparar-nos dignamente para a vinda do Salvador.
Caráter
litúrgico –
O Advento compreende quatro semanas, das quais a última nem sempre completa;
antes, quando o Natal cai na segunda-feira, essa quarta semana constitui-se
apenas de um dia, o domingo, a cuja liturgia se une a da vigília de Natal.
O Advento apresenta dois caracteres
particulares: o entusiasmo e a penitência.
O primeiro externa todo o anseio confiante
pela vinda do Salvador. Entusiasmo expresso nos numerosos Aleluias da Missa e
do Ofício, e nas exclamações potentes dos profetas e patriarcas. O segundo
caráter do Advento, a penitência, parece predominar sobre o entusiasmo. Os
paramentos são roxos; os ministros não usam dalmática nem tunicela, símbolos do
júbilo; suprime-se o Te-Deum no Ofício e o Glória na Missa; o órgão silencia;
não adornam de flores os altares; em muitas igrejas, velavam-se as imagens,
como ainda hoje se faz no Tempo da Paixão e na França era até obrigatório o
jejum, disciplina que variava de região para região.
A penitência prepara, na alegria e no
entusiasmo espiritual, a vinda do Messias Redentor.
Missal Romano Quotidiano – Latim/Português –
Edições Paulinas 1959
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